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O último zíper da última mala

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O último zíper da última mala. Agora a tarefa era apenas levá-la até o meu carro e sair daquela casa. Agarrei a alça e caminhei até a porta do quarto, parando um instante para voltar a minha atenção para o cômodo e lembrar-me de tudo o que foi vivido ali com a Emma. Em nenhum momento, desde que nos unimos em matrimônio, eu imaginei que teria que enfrentar uma situação como aquela. Era para ser eterno, prometemos que seria. Aparentemente, o único a querer seguir com essa promessa fui eu e não adiantava continuar arrastando uma relação quando uma das partes já não concordava mais.

Desci as escadas encarando o eco que o barulho dos meus passos fazia a cada degrau. Mesmo que desde sempre apenas duas pessoas morassem ali, agora a casa parecia mais vazia do que nunca. O amor a preenchia de um jeito que só era notável agora que já não o tínhamos. O pior de tudo era saber que não estávamos na mesma sintonia e diferente do que sempre dissemos, não podíamos nos apoiar em todos os momentos. Naquele caso, era eu quem não era o suficiente para apoiá-la e eu não a culpava por me ver assim.

Emma com toda a certeza foi a mais afetada nisso tudo. Não foram poucas as situações em que ela ergueu o olhar para mim como se pedisse perdão silenciosamente por algo que não estava em seu controle. E nunca adiantou que eu dissesse que não era culpa dela, minhas palavras ficavam ao vento e ela procurava se encolher em sua dor.

Caminhei até a cozinha e parei na entrada a observando sentada ao balcão enquanto bebia uma xícara de chá. Já não era mais a mesma há meses e eu acompanhei aquele processo de um sofrimento que se acumulava e a fazia se afundar ainda mais até desistir de se reerguer. O brilho que antes tomava conta do seu rosto havia se apagado, se arrumar já não era mais uma opção e as noites mal dormidas deixaram as olheiras profundas como um lembrete.

— Emma. — a chamei.

Ela ergueu o olhar na minha direção, mas voltou sua atenção para o conteúdo em sua xícara.

— Eu já estou indo. — avisei. — Ligue se eu tiver esquecido alguma coisa, mas creio que não.

— Envie o seu novo endereço ao nosso advogado. Ele vai enviar os papéis do divórcio para que você assine.

Respirei fundo e depois soltei o ar devagar. Falar sobre o divórcio era difícil porque eu não queria fazer aquilo. Entretanto, não tinha o direito de ser mais uma dor de cabeça para a Emma e obrigá-la a lutar comigo na justiça para se livrar de mim. Estar em uma relação onde eu já não era amado era pior do que aceitar ficar sozinho.

— Farei isso. — fiquei de costas. — Até breve.

— Adeus. — foi direta e fria.

Engoli em seco e apressei o passo para sair de lá antes que começasse a chorar na frente dela. Quando finalmente estava sozinho em meu carro e comecei a dirigir, permiti que as lágrimas até então entaladas saltassem dos meus olhos. Os soluços também escaparam e eu não fiz nenhum esforço para conter o meu pranto.

Save Me ˢᵖʳᵒᵘˢᵉʰᵃʳᵗOnde histórias criam vida. Descubra agora