I - O Necessário De Mim

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          Tudo o que sei sobre minha infância encontra-se nas longas histórias de minha mãe que só são contadas quando há as barulhentas reuniões de família, e nos retratos monocromáticos que meu pai costuma estampar a fácil visão no seu lugar de trabalho, a salinha de edição do jornal (monocromático era a característica preferida dele, dizia que causava curiosidade do original à quem via).

          Nossos parentes eram de reinos distintos: alguns de Mali por parte de mãe e outros Laos, por parte de meu pai.
          Minha mãe ainda era jovem quando conheceu o senhor Augusto Petros, de quem hoje carrego o sobrenome. Meu pai já exercia sua profissão de jornalista no reino de Laos, e em uma dessas viagens visitando nosso reino, acabou aqui na Província, mais precisamente na pensão de dona Ana Tolli, mais conhecida em minha história como "minha mãe".
          O belo fruto dessa relação sou eu, Gabe Tolli Petros, tenho estatura baixa, pele clara, olhos verdes em tom forte e em poucas semanas completo dezesseis anos.
Eu amo ler, e fotografar.

          Embora sempre quisesse escrever um livro baseado em fatos reais, eu não me sentia preparada e trocava palavras por fotos.

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          Em nosso reino os anos são mais lembrado em datas especiais e feriados, mas o tempo é marcado pelas estações, o que me admira servindo como tática de não se preocupar com o envelhecer, assim como as medidas curtas que eram em polegadas segundo seu padrão de polegar de príncipe Jéter.
          Segundo meu pai, o relógio foi a invenção do século, porém era um item valioso ainda porque o comum era se usar ampulhetas.

          Eu a-ma-va histórias sobre Elfos, sobre suas habilidades com a música e a dança, e ainda pretendia espionar um vilarejo deles. Li vários livros que ilustrava como seriam seus costumes e aparência.

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          Meu dia se dividia em, ir à escola, buscar minha vizinha na dança, afazeres de casa e tarde livre. Meu tempo livre começava quando eu colocava nos ombros minha mochila de couro, pequena e desbotada, com uma alça transversal e eu a preenchia com frutas que serviriam de lanche, e em seus bolsos levava: um canivete, uma lanterna, uma corda e bateria.

          Mas só sairia de casa com a câmera pendurada no pescoço e arco e flecha em mãos, a prática de caça não era proibida na região, desde que se usasse nas florestas e não em propriedades, mas nunca trazia para casa o que eu atingia.

          Eu nunca tive o talento para dança, escrever ou algo de arte, meus trabalhos escolares sempre se resumiam em alguma história contada através de fotografias. Também não tinha muitos amigos, embora fosse popular graças ao nome de meu pai.

          Um privilégio de ser filha de quem sou é ter comigo uma câmera, presente de meu pai no meu décimo terceiro aniversário, o que se tornou uma brincadeira para mim em minhas fantasiosas expedições pelos vales do vilarejo de Moreá, e a outra brincadeira pela qual peguei gosto é atirar arco e flecha com Caleb meu melhor amigo.

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          Caleb Pomelo, dezessete anos, menino de média estatura, pele clara, olhos castanhos, cabelos ondulados, sempre usava botas, roupas costuradas a mão por sua mãe, que por sinal honrava a profissão. Minha amizade com o "menino do jardim" como era chamado por mim, teve início quando ele começou a trabalhar numa provável revitalização do nosso jardim.

          Sempre que chegava da escola com minha vizinha ele parava o que fazia para nos cumprimentar e as vezes dava uma Rosa à Lucy, de apenas sete anos, me perguntava se a flor parecia mais bonita todos os dias e eu no automático sempre respondia:

          - Prefiro Margaridas, senhor Pomelo!

          Aos finais de semana eu comecei a ajudar Caleb no serviço do jardim, a cada dia nos conhecíamos mais, a cada dia víamos melhor resultado nas flores. Ele herdara a habilidade com as plantas de seu pai, do qual ainda não sei muito se não o fato que foi um Operador Real trabalhando com jardinagem e que veio a falecer por problemas de saúde.

          Só de fato chamei Caleb de amigo quando começamos a explorar e caçar juntos no vale, mas à essa altura ele já frequentava minha casa como conhecido da família, as vezes até participava das refeições. E assim nossa amizade duram longos quatro anos.

          Nós dividimos muitas aventuras ao longo dessa história...

Província, Capital de cada reino onde ficavam os representantes do governo.
Operador Real, era o nome dado a quem possuía cargos no castelo da realeza, há muito tempo atrás quando ainda não se dividia em reinos e tudo estava sob o controle do Rei.

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Está aí gente, o primeiro capítulo do livro.
O capítulo foi revisado várias vezes, mas perdoem se houver erros ortográficos ou expressivos.

Lembrando que seu voto e comentário são importantes pra mim *-* qualquer coisa chama no chat. Abrassuh

Entre Quatro ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora