X - Dezesseis

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A sexta-feira sai novamente com meu pai para treinar um pouco. Ele estava plenamente com com seus reflexos e com sua pontaria. E eu sugava dele o quanto podia sobre lâminas e armas. Ouvi muitas técnicas e muitas advertências. No sábado selei Bartô e fui entregar os convites para o almoço que aconteceria em casa no domingo. Era meu aniversário, mas acrescentei a tinta: "E despedida de Augusto Petros" No sábado a noite estava no telhado olhando as estrelas, mas com o pensamento lá onde meus olhos não alcançavam, o Desconhecido. Olhava fixamente alguns pontos nas montanhas que pareciam focos de luzes de algum vilarejo ou fogueiras na mata. Meus olhos acompanharam uma sombra quando passou o portão e paralisou abaixo da minha janela. Entrei no quarto, mantive a janela aberta e deixei uma lança apontada para fora.

- Cheguei em má hora Senhorita Tolli? - se curvando em meu telhado, Pablo. - Ops, Gabe.

- Péssima. Estou de pijama! - respondi. - Espere. Fechei a cortina. Creio que era possível ver minha sombra e nada mais. Coloquei a roupa mais simples que achei e sai.

- Uma visita bem inesperada Pablo - disse me sentando onde ele já estava.

- A casa do meu vô é entediante - respondeu.

- E a minha parece interessante?

- A casa não! - ele disse. Preferi ignorar que ele usou isso para me bajular.

- Pelo menos você está no melhor lugar da minha casa.

- Não é para dentro? - ele brincou.

- Só na hora de dormir.

Pablo aspirava ser sério e tinha minha confiança. Contei a ele sobre a viagem de meu pai. Falei da minha curiosidade sobre tudo fora dali. E acabei dando a resposta do convite que fez a mim e Caleb.

- Sinto que nessa nossa aventura vou matar minhas curiosidades e voltar com outras mais - eu disse.

- Então sua resposta é sim! - ele pegou no ar.

- Ótimo precisamos de uma arqueira.

Ele se foi.

A noite também.

Quando acordei sem ninguém me chamar, havia uma mesa de café transbordante ao lado da cama. E um vaso de margaridas, a flor mais linda da face da terra. Na mesa um bilhete: "de mamãe"Nas flores outro: "de papai" Tomei banho, sem me vestir ainda fui ao espelho me admirar. Me desejei parabéns, um ótimo dia, e me beijei. Me sentia feliz. Coloquei um vestido num tom rosa claro que mamãe já tinha preparado. Desci os degraus, não vi ninguém dentro de casa. Nem fiz questão de saber as horas. Ao lado de fora no gramado mamãe e mais duas senhoras faziam uma linda decoração, uma mesa extensa cheia de frutas. Bancos espalhados pelo gramado. Papai estava cuidando o assado com mais dois amigos.A incrível decoração com margaridas quase me fez chorar. O cheiro era tão doce, as cores tão vivas. Mamãe me recebeu com um abraço apertado.

- Parabéns minha filha, sucesso e felicidade! Te amo.

Fui parabenizada pelas outras senhoras que a acompanhavam. Papai me ergueu com um abraço, me beijou e disse:

- Como você cresceu! Parabéns meu amor.

- Exagero papai. O senhor que está encolhendo - brinquei.

Caleb chegou com dona Marta, e me trouxe bolo de bananas.

- Você não vai dividir eu sei! - disse Caleb. Deu parabéns, agradecendo por minha amizade, me abraçou. Dona Marta também. E Tomás também. E Lola e Pablo. O dono do último abraço colocou no bolso do meu vestido um bilhete com miúdas palavras:

"Belo Pijama" e onde eu co-lo-co minha ca-ra?! Disfarcei, dobrei e guardei. O restante dos convidados chegaram. Provavam os aperitivos de dona Ana e dona Marta. Na hora de servir, a oportunidade que me foi dada a falar, eu dediquei mais aos outros que a mim. Afinal seria ninguém sem minha mãe, ou pai, ou amigos. Lembrei que também era despedida de meu pai que logo iria viajar, que a sorte o acompanhe, assim como Tomás que também estava ali. Os presentes?! Colônias, vestido, sapatos, cobertores, um retrato meu em pintura, um traje de banho, um pijama, uma capa, uma galocha, braçadeiras.

E dentre todos um preferido.. Era maravilhoso, não era discreto, era grande, brilhante.. Um arco aparentemente de bronze, mas leve como madeira. Tinha uma envergadura perfeita. Um modelo de flecha que era comprido e muito fino. Não sei quem escolheu.

Esse foi o domingo de Dezesseis.
Foi perfeito. E completo.
Dormiria bem, e senhor Augusto estava liberado.

Entre Quatro ReinosOnde histórias criam vida. Descubra agora