epílogo.

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Clara Marques

É tudo culpa do Bolsonaro.

Se atrasar para o casamento da mãe deve ser um pecado, não é possível!

Entrei na igreja correndo, com os meus saltos na mão e tropeçando no meu vestido que arrastou metade da sujeira de séculos desse lugar.

Eu provavelmente to arrastando a sujeira que o sapato do meu avô deixou.

O meu irmão fez questão de me empurrar, quase me fazendo beijar o chão.

Os gritos do Caio eram igual tiros para o meu ouvido. Eu podia jurar que uma idosa estava transando se eu não soubesse que era o meu irmão correndo do meu lado.

Quando o Ethan e a minha mãe nos avistaram, o Ethan jogou o buquê na minha direção e acertou bem no meio da minha cara, caindo em seguida nas minhas mãos. Voltei a jogar o buquê para o idiota, atingindo o seu rosto e provavelmente enfiando uma das rosas no olho dele.

A minha mãe parecia estar tendo um ataque, incorporando o demônio do Pinscher com a sua maquiagem de noiva.

— Eu vou encher vocês de chinelada depois disso! — Ela avisou nos pegando pelo braço e me arrastando para dentro do lugar que seria o casamento.

Eu coloquei o meu melhor sorriso no rosto, segurando as lágrimas de medo por já estar sentindo o chinelo voar na minha direção igual o pé do Caio acertou a minha cara durante os últimos minutos.

O Caio foi posicionado do outro lado da minha mãe, segurando o seu braço e também se forçando a sorrir depois de ter levado 3 socos meus e um chute nas bolas.

Apesar de tudo, e da cara de merda que ele tem desde que nasceu, o meu irmão estava decente. O Caio usava um terno azul claro com detalhes em branco, assim como eu, que fui obrigada a engordar 3 kg pra caber no vestido azul claro.

Uma lasanha nunca pareceu tão torturante.

A música soou e o aperto da mão da minha mãe se suavizou enquanto ela entrelaçava os nossos braços na caminhada. Recebemos os olhares de todos presentes na igreja se levantando e admirando o vestido da minha mãe, ao mesmo tempo que ficavam horrorizados pelo meu vestido.

Deve ter a marca do sapato sujo do Caio por todo o vestido.

Pelo canto do olho, consegui ver o Ethan passando pelos cantos igual um ninja e chegando ao seu lugar na primeira fila.

Consegui notar um brilho orgulhoso nos olhos do meu namorado. Esse mesmo brilho me fez sorrir.

Voltei o meu rosto para a minha mãe, sendo recebida por uma onda quente e confortável que passou por todo o meu corpo.

A minha mãe segurava as lágrimas.

Segui o seu olhar até o altar e vi então a mãe do Ethan em um terno branco também segurando as lágrimas.

Elas conseguiram.

Uma parte de mim que sempre desconfiou gritava de emoção e a outra parte de mim que era mais cega que uma mula ainda estava em choque.

O cheiro de couro era tão forte.

A queimação nos meus olhos surgiu e eu abaixei o olhar, logo voltando a erguer ele, quando percebi que havíamos chegado no altar.

O VizinhoOnde histórias criam vida. Descubra agora