Outra Versão de Mim

Capítulo 18

Me vi sem saída quando chorei, escrevi, li, desenhei e nada me tirou a dor
Quando não sinto dor, sinto um vazio
Quando não sinto esse vazio, sinto dor

O vazio pode levar a dor e à dor pode levar ao vazio
Há quem diga que existe uma saída, mas nunca há que diga onde ela fica

Um constante egoísmo formado com frases motivacionais sem certeza alguma, só para que ela fique

Ninguém se importa com o fogo se alastrando e com a falta de ar que eu sinto 

E eu, com o pulmão falhando não vejo ninguém
Mas estou sempre ouvindo as vozes lá fora dizendo " você vai achar uma saída"

"Cadê a porra da saída?" Eu pergunto com o único fôlego que me resta
Então eu sento e desisto pois estou muito cansada e as vozes se convertem para "Covarde!"

Covarde? Covarde por pensar em mim mesma?

Eu não aguentava mais e tinha que continuar com a falta de ar só porque as vozes queriam... As mesmas vozes lá fora que nem me estenderam a mão

Cadê a saída?

Eu queria escrever um texto, mas o que tenho para dizer é acima do que um ser tem condições de digerir

Uma recaída
Que você não sabe explicar o porquê

Uma recaída
Que trás toda dor que você pensou ter vencido

Uma recaída
Que te faz questionar se essa dor vai embora um dia

Uma recaída
Que você implora pela morte outra vez
Porque te leva abaixo do fundo do poço

Uma recaída
Que pode durar dois dias ou duas semanas
E que te embaça a vida

Uma recaída
Que te faz achar que não há saída, que você não vai suportar

Porém uma recaída
Que é apenas uma recaída e vai embora depois

Uma recaída
Que, ao pedir ajuda você volta a enxergar a esperança

Uma recaída
Que você implora, sente dor insuportável, mas depois pensa "passou"

Uma recaída
Que te mostra o quanto você tem evoluído
Porque você só cai se estiver de pé

Vai passar...

Tem dias que faltam palavras e me pergunto que poeta sou?

Gostaria de acreditar que não há nada mais poético que do a falta de palavras, mas não acredito

Sei que não há poesia nisso, há, na verdade, vazio

Estou tão vazia que as palavras se perdem em mim, assim como objectos se perdem no espaço

Será que o vazio também é poesia?