●○Capítulo cinco○●

50 8 2
                                    

●○●


Angel

Finalmente era final de semana. Sábado eu trabalhava na livraria até meio dia, mas acabei passando mal e tendo que ir no meio do período para casa. Acabei esquecendo de tomar meus antidepressivos e tive uma leve tontura e um enjoo repentino.

Caminhava apressada pelas ruas de São Francisco já que eu estava no centro e tinha que virar um pouco mais a frente da livraria para seguir até minha casa.

Ao virar uma esquina que eu nem tinha certeza se era para mim entrar ali já que minha visão estava começando a embaçar. Odiava esquecer de tomar meus remédios e era raro eu esquecer. Mas ultimamente está a com a cabeça cheia de coisas mesmo ficando sem aula nesses últimos três dias. Estava preocupada com o meu trabalho na livraria e me cobrando demais na universidade.

Nesse momento ouvi a voz de Emília na minha cabeça falando.

"Angel, você tem que viver a vida de uma maneira mais leve, tenta parar de se cobrar demais, porque você sabe que é capaz."

Em seguida disso ela me abraçou. Ela me falou isso em um dia que eu havia ido dormir em sua casa e acabei tendo uma crise em sua frente. Emília era a única que sabia sobre as coisas que eu passava.

Andei por mais alguns minutos até não aguentar a minha cabeça latejando e eu tive que sentar no meio fio da rua. Apertei meus olhos para tentar voltar a enxergar normalmente mas minha visão ainda estava turva. Respirei fundo. Quando uma crise está vindo, você tem que respirar fundo.

Escutava alguns carros passando, mas não eram muitos. O movimento estava calmo. Provavelmente ninguém iria parar para me ajudar, as pessoas daqui em São Francisco costumam achar que quem está sentando no meio fio na rua é algum tipo de delinquente ou algum adolescente bêbado.

Então quando finalmente tomei coragem e resolvi me levantar quase cai de cara no chão se não fosse por duas mãos terem agarrado a minha cintura.

- Obriga...- Me virei para agradecer a pessoa, mas assim que vi quem era apesar da visão ainda estar um pouco embaçada parei de falar.

- Olha só eu te salvando de novo, amora. - Disse com uma voz suave, diferente dos tons de provocações dos outros dias. - Está tudo bem? - Perguntou tirando as mãos de minha cintura.

- Está sim. - Disse com a voz um pouco falha e me virei para tentar voltar a andar normalmente.

- Tem certeza? Quer que eu te leve até em casa? - Ele perguntou vindo atrás de mim.

- Eu tenho certeza, Cole. Valeu. -

Senti uma tontura repentina e me agarrei nele que estava ao meu lado. Ele se virou de frente para me segurar melhor e eu acabei apoiando a cabeça sobre seu peito. E eu podia jurar se senti o coração dele acelerar.

- Angel, eu vou te levar para casa. Você querendo ou não. - Me assustei quando ele me pegou no colo como um recém nascido e começou a caminha. Eu estava sem forças e não consegui protestar sobre, apenas coloquei a cabeça em seu ombro e fechei meus olhos que estavam super pesados.

●○●○●

Eu voltei a acordar alguns minutos após Cole ter me colocado no sofá. Com a minha visão um pouco melhor, olhei ao redor, e era realmente a minha casa, mas ele não estava em nenhum canto.

- Eu peguei a chave na sua bolsa. - Ele apareceu na sala segurando um copo de água. - Toma um pouco de água. - Ele entregou o copo cheio para mim e se sentou na mesinha de centro bem na minha frente.

- Obrigada. - Ele pegou o copo da minha mão quando terminei de tomar e o colocou do seu lado.

- Eu mandei mensagem para a Emília. Ela disse que daqui meia hora chega aqui. -

- Não tinha necessidade de ter avisado ela. Eu já estou bem. - Eu tentei me levantar mas o mesmo me impediu.

- Não minta pra mim, amora. Você está com uma cara horrível. - Ele se sentou na ponta do sofá ainda me encarando.
- Vou ficar aqui e garantir que você vai repousar até a Emília chegar. - Bufei irritada e me virei para o outro canto do sofá. Eu estava cansada demais para o xingar ou mandá-lo embora. Então eu apenas dormi.

E eu não sei por quanto tempo. Mas sei que eu acordei com Emília abaixada do meu lado me analisando.

- Deixa eu adivinhar. Esqueceu os remédios? -

- Odeio o jeito que você me conhece. - Resmunguei e ela deu um pequeno sorriso.

- Vou pegar eles pra você. - Ela se levantou e eu me sentei no sofá. Eu a observei subir as escadas e suspirei.

Olhei para a ponta do sofá e Cole estava lá mexendo em seu celular e no momento que eu o olhei ele me olhou.

- Que remédios são esses? - Desviei o olhar e olhei para a televisão desligada.

- Não te interessa. - Olhei para a escada e vi Emília descer com a minha bolsinha de remédios. Ela parou na minha frente e me entregou.

- Cole pega mais água para ela fazendo favor? - Ele resmungou por ter que se levantar mas foi buscar. - Angel, você está meio avoada. Rolou alguma coisa que você não me contou? - Emília se sentou na minha frente. Ela realmente me conhecia.

- Não, Emília. Você já sabe de tudo. - Mentira. - Você sabe, o lance dos meus pais viajarem demais me deixa assim. - Verdade.

Crescer sendo cobrada era foda. Você sempre que tem que ser perfeita em tudo.

Cole apareceu e me entregou a água sem me dizer nada. Tomei os comprimidos e Emília sorriu para mim com mais confiança.

- Vendo você se medicando me da mais confiança. - Ela segurou minha mão. - Não quero te deixar aqui sozinha hoje. Mas não vou poder ficar, meus pais estão cobrando minha presença em um jantar na empresa. -

- Eu vou ficar bem. - Eu apertei a mão dela tentando transparecer que eu realmente ficaria bem.

- Nada me garante isso. - Ela se virou para trás encarando Cole e nesse momento eu já tinha entendido tudo.
- Cole, amigo querido...- Ela fez uma voz melosa.

- Nem vem, Emília. -

- Se for pra ficar com ele, eu prefiro ficar sozinha. - Ela olhou pra mim e depois pra ele.

- Caramba. Assim vocês não me
ajudam. - Se levantou cruzando os braços. - Angel para com isso, você precisa de cuidados agora. E Cole vai cuidar de você. - Eu e Cole levantamos o dedo para protestar, mas Emília fez um gesto com a mão pedindo para que não falássemos. - Está decidido! - Sorriu orgulhosa de si mesma.

Queria morrer. Passar uma noite com esse BadBoy ridículo do meu lado era um pesadelo.

- Agora...- Começou a falar e parou para me dar um beijo na bochecha e outro em Cole. - Vocês me dão licença porque o dever me chama. - Pegou a bolsa na mesa de centro e mandou outros vários beijos no ar para a gente antes de sair pela porta.

Assim que a porta fechou eu e Cole nos encaramos, seria uma péssima noite para ambos.

●○●

É no outono onde tudo aconteceOnde histórias criam vida. Descubra agora