Capítulo 1

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Se encontrava em estado de choque neste exato momento. Nem sabia como havia chegado onde estava agora, quase não sentia as mãos desconhecidas que o tocavam para examiná-lo. Nem o gelo do estetoscópio passando pela sua pele quente, nem a picada da agulha nas costas das mãos, nem os estalos de dedos perto do seu ouvido, nenhum desses estímulos eram capazes de acordá-lo para a realidade.

Olhou para baixo, em direção às próprias mãos, mas a visão estava tão embaçada que não conseguia enxergar nada com clareza, mas a nitidez não era necessária para que visse todo o borrão vermelho manchando a sua pele e as suas roupas. O cheiro que vinha daquilo era metálico e enjoativo. Riu da própria desgraça, seu sonho um dia era se tornar um herói, o melhor de todos, teria que se acostumar com o cheiro de sangue, sabia disso, ainda assim não tornava aquela situação mais fácil.

Sua atenção foi recuperada quando uma porção de luz forte foi colocado em contato direto com o seu olho direito praticamente o cegando. Piscou algumas vezes depois disso para afastar a irritação que se instalou no local. Um médico mexia insistentemente a mão na sua frente para se certificar de que ainda estava ali.

E infelizmente estava.

Ao fundo pode ouvir o mesmo médico conversando com alguém depois de ter desistido de chamar a sua atenção.

– Senhora Bakugou, seu filho está bem, não está machucado. Parece só estar em estado de choque, o que é completamente normal na situação dele – A voz era paciente, e até um tanto quanto entediada.

– Mas, e todo aquele sangue? Ele está completamente coberto! – Conhecera essa voz, era da sua mãe e estava tão aflita.

– O sangue não é dele.

Depois disso não conseguia ouvir mais nada, flashes do evento anterior inundavam sua mente sem permissão, causando dor tanto física quanto emocional no processo.

Lembrava de estar em uma sala de aula na academia de heróis, UA, um lugar onde sempre sonhou em estudar assim que entrasse para o ensino médio. Lembrava de sair daquele prédio em direção ao seu dormitório. Lembrava do barulho alto e esquisito às suas costas, algo tinha acontecido perto dali. Lembrava de todo aquele sangue pintando o chão de vermelho como uma tela em branco sendo preenchida lentamente. Lembrava dos rostos das pessoas horrorizadas e dos gritos se acumulando a sua volta. Lembrava que um dia o mesmo tivera um cabelo verde vibrante e que agora estava completamente rubro e opaco.

De repente seu corpo se mexeu sozinho, antes que pensasse muito se levantou da maca onde estava sentado e saiu correndo pelo hospital, procurando por ele. Foi parado por mãos conhecidas no meio do caminho que o impediam de continuar o enlaçando num abraço apertado que não foi correspondido.

Mais flashes.

Lembrava de segurá-lo em seu colo, ele era tão magro pois estava muito leve, e de chamar seu nome insistentemente, mas o mesmo não respondia absolutamente nada, não abria os olhos, nem a boca. Sequer respirava. Lembra-se do desespero tomando conta de todo o seu corpo naquele momento.

– Me solta... eu preciso... vê-lo... – Implorava, chorando, pois já não tinha mais forças para gritar ou se soltar dos braços da mãe.

– Você não pode ver ele agora meu querido, ele está em cirurgia – A mais velha tinha um tom sério, mas, acolhedor.

Cirurgia? Sentiu todo o peso do corpo cair sobre as pernas bambas, que agora não tinham mais forças para mantê-lo em pé. Desabou ali mesmo no colo da mãe.

– É tudo culpa minha.... É tudo culpa minha.... Me desculpe... – Balbuciava em meio ao choro que insistia em lhe atrapalhar, muitas das palavras saíam desconexas por conta do pranto. A sua mãe lhe abraçava mais forte agora com os braços tremendo. Chorou muito, chorou de soluçar, de gritar, de ficar sem respirar. Chorou como nunca tivera chorado antes, e provavelmente jamais chorará.

Viva por mim? (Bakudeku)Onde histórias criam vida. Descubra agora