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"O mar fala com mais honestidade para aqueles dispostos a se afogar".

— Irtiqa Nabi

O conto de fadas do Barba Azul era assim: havia uma porta proibida, uma porta que o Barba Azul proibiu sua nova esposa de abrir. Havia uma chave enferrujada, fria em suas mãos e instruções de que ela poderia fazer tudo o que quisesse enquanto seu novo marido estivesse fora; dar os bailes mais luxuosos e gastar a riqueza dele em tudo o que desejasse. Seu único pedido era que ela nunca abrisse a porta, nunca espiasse o que se escondia atrás dela. Mas não importava o quanto ela tentasse se distrair, a porta lhe chamava a atenção. Incapaz de reprimir a curiosidade e a necessidade da verdade, ela se viu diante da porta, com a chave fria na palma da mão. Ela a abriu.

As histórias nunca falaram sobre o arrependimento da nova esposa. Nunca falaram se ela desejou imediatamente não ter seguido sua curiosidade quando abriu a porta e encontrou uma câmara cheia de cadáveres apodrecidos das esposas anteriores de seu marido. O que era certo, entretanto, era que ela não poderia limpar o sangue da chave nem de seus olhos. Ela não podia deixar de ver a verdade por trás do homem com quem havia se casado.

O conto de fadas do Barba Azul foi uma lição – ou talvez um aviso - sobre a busca da verdade. Dizia-nos que nunca se conhecia verdadeiramente uma pessoa, que sempre existia uma porta proibida que, uma vez aberta, não poderia deixar de ser vista. Talvez a nova esposa não devesse ter aberto a porta e devesse ter se contentado com a riqueza e a distração mundana. Afinal de contas, a felicidade, por mais ignorante que seja, ainda é felicidade. Talvez ela não devesse ter sido curiosa, não deveria ter buscado a verdade. Teria sido chamado de amor se ela tivesse obedecido ao pedido do marido? Isso era confiança? Quando o amor era completamente incondicional, ainda era amor ou, em vez disso, era uma ignorância perigosa que a levaria à morte pelas mãos de seu próprio amante?

Hermione sempre esteve convencida de que a nova esposa estava certa em buscar a verdade, não importa o que ela revelasse. Mas agora ela simpatizava com a situação da nova esposa, compreendia o seu terror e a coragem que precisava para revelar a verdade. Ela calculou que a nova esposa devia saber que mesmo quando Barba Azul a encheu de presentes e luxo, deve ter havido algo que a convenceu de que algo estava errado, que havia fantasmas à espreita naqueles corredores. Porque a verdade sempre esteve presente, mesmo vestida de lindas palavras e lindos sorrisos.

E agora a chave fria estava em sua palma e se acomodou como um peso morto quando eles entraram no escritório de Kingsley no quartel-general.

— Kingsley disse que podemos usá-la pelo tempo que precisarmos. — Hermione lançou um feitiço para trancar a porta.

Preparando-se, ela se virou e olhou apreensiva para Draco. Ele ficou ao lado da penseira, inexpressivo e estóico. Durante toda a manhã, ele também esteve reservado, com uma expressão distante e quase fria. Uma luz pálida ondulou pela superfície da penseira, iluminando seus olhos com um brilho artificial de azul prateado.

— Você tem certeza de que quer fazer isso?

A chuva leve tamborilava nas janelas escuras, seguida pelo suave estrondo de uma tempestade que se aproximava.

Finalmente, ele olhou para cima. — Eu quero que você saiba.

Hermione examinou seu rosto por mais um segundo e depois assentiu. Alcançando sua bolsa de contas, ela tirou os três frascos que ele pediu e entregou a ele. Draco agradeceu silenciosamente e então apontou a varinha contra a têmpora. Fios luminosos de substância semelhante a gás fluíam da ponta de sua varinha. Os fios brilhantes foram esticados antes de serem arrancados e depositados no primeiro frasco.

The Order of Serpents | DramioneOnde histórias criam vida. Descubra agora