Estava pronta para pular, seria minha última vez a respirar. Vi que mais adiante havia mais alguém, curiosa como sou, decidi adiar minha queda final por alguns minutos. Era crucial ver a moça que estava prestes a pular também. Cheguei e ela se assustou, e logo disse: "Moça, calma. Não me assuste assim novamente, me avise da próxima vez que está chegando (se é que vai ter outra chance). Não quero morrer de susto!" Respondi: "Desculpe, é que meu coração não está acostumado a ver tanta beleza, principalmente prestes a se jogar. Isso para mim é uma surpresa, nunca pensei ser digna, admito, de admirar tanto encanto. Os excluídos como eu não estão acostumados com a presença da 'realeza'. Agora me parece que tudo faz sentido. Há semanas planejo esse tal ato, mas só hoje tive a coragem necessária, os astros nos trouxeram aqui. Juntas! Vieram as borboletas e até os patos do lago. O vento que senti forte ontem, hoje caminha. Acredito que todos vieram só para te acarinhar. É impossível agora continuar com o plano de pular, agora que encontrei "mercê". Por dentro estou sorridente e a culpa é sua, e é claro que isso não muda o fato de que eu queria te olhar nua. Mas nada muda. Não tente me dizer que não acredita em minhas palavras, porque elas vieram daqui de dentro, aqui onde eu já não sentia a batida há meses. Essa é a verdade, mas não fuja. Me frustra pensar que talvez meus pensamentos também invadam seu ser, que se acha insuficiente e queira se afundar assim, na rua? Na lua? No lago, acredito. Em um poço raso. A insegurança que me aflige também atingiu sua alma, que me parece tão bela. A esperança que vem a mim agora é que encontre a beleza que vejo agora em ti. Que não pule daqui. Nem precisei te conhecer para saber que é incrível. Todos que te viram no caminho para cá pensaram o mesmo, basta pisar no mesmo lugar que você para sentir. Sentir calafrios de beleza. Digo com total certeza, pois hoje é meu último dia aqui, e te ver me fez querer viver e continuar andando pela vida. Moça! Você me fez fazer poesia, não se esqueça disso. Agora preciso ir ali me resolver sozinha." Ela então virou de novo, pois antes olhava para baixo, me olhou com uma gota de lágrimas na sua bochecha e pulou. E eu voltei para onde estava, respirei pela última vez. E pulei também. Quando caí, vi seu corpo um pouco mais fundo que o meu, suas lágrimas agora se misturavam com a água, acho que não respira mais. E eu...Estou bem...Estou respirando...Acabou.
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Melancolia
Puisi"Melancolia" é um livro de poesias que transborda emoção e profundidade. Nele, o autor registra suas mais sinceras e intensas palavras direcionadas tanto para a pessoa amada, quanto para o desilusão e para aquela amiga que sempre esteve ao seu lado...