Capítulo 01: Aqueles olhos

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O céu noturno destacava-se naquela noite em especial. A lua cheia brilhava evidente no céu estrelado, proporcionando uma vista maravilhosa. Diretamente do observatório de Tóquio, em pleno sábado à noite, duas pessoas aproveitavam seu bel-prazer naquela plataforma que lhes mostrava um céu iluminado.

Megumi olhava através das lentes do telescópio, observando atentamente em busca de uma constelação. A noite estava mais fria do que de costume, e isso afetou a sinusite de Fushiguro. Yuuji, que conhecia bem o melhor amigo, havia trazido consigo um cachecol em sua bolsa. Ele sempre estava atento a Fushiguro, prestando atenção aos mínimos detalhes, mas talvez Megumi não percebesse isso.

Retirando o cachecol da bolsa, Yuuji se aproximou de Fushiguro, chamando sua atenção. Megumi desviou sua atenção das estrelas e mirou Itadori com seus olhos.

Aqueles olhos...

O azul profundo de seus olhos tirava o fôlego de Yuuji, que sempre se via perdido neles, quase como num oceano profundo. Uma vez dentro, era suficiente para se afogar. Itadori sabia bem; já se afogara tantas vezes olhando para eles.

— Já está na nossa hora? — Megumi interrompeu os pensamentos de Yuuji, parando de frente para ele, esperando uma resposta enquanto olhava para o cachecol nas mãos do amigo.

— Ah, bom... daqui a pouco o observatório vai fechar. Nos finais de semana, eles fecham mais cedo.

— Certo, então devemos ir. Não quero chegar muito tarde em casa; parece que o clima vai esfriar, e eu não vim com roupas adequadas para o frio.

Acenando positivamente, Yuuji concordou com Megumi, e ambos saíram juntos do observatório. Ao chegarem à saída, Itadori apertou o cachecol entre os dedos e finalmente o ofereceu a Fushiguro. Ele ergueu o cachecol até a altura do peito e estendeu-o para Megumi segurar.

— Eu trouxe por precaução. Meu pai sempre diz para usar casaco e manter um cachecol na bolsa, pois nunca se sabe quando o tempo vai esfriar.

— Tio Jin sempre cuidando de você, mesmo depois de quase dois anos morando sozinho.

— Você sabe como meu pai é cuidadoso, e eu sou o único filho dele. Me dá um desconto.

Fushiguro apenas arqueou as sobrancelhas e soltou um suspiro de desdém. Yuuji sorriu; ele amava a forma como Megumi fazia esses gestos. Na verdade, Itadori amava todos os trejeitos de Megumi Fushiguro.

Ao saírem do local, não demorou muito para chamarem um táxi. Ambos dividiram a corrida; Megumi seria o primeiro a descer, já que morava mais perto do centro, enquanto Yuuji residia em um apartamento quase do outro lado da cidade. A distância entre as residências era de trinta minutos.

Ao chegar em casa, Yuuji usou a combinação para destravar a tranca da entrada de seu apartamento. Trancando a porta atrás de si, ele logo tirou os sapatos, deixando-os na sapateira ao lado do corredor de entrada.

Com o par de pantufas nos pés, o rosado caminhou sala adentro, jogando-se no sofá. O apartamento estava perfeitamente arrumado devido à última visita de Fushiguro. Yuuji sabia que o amigo era extremamente organizado, então sempre que Megumi vinha, ele fazia o possível para deixar sua casa o mais limpa possível.

— É, parece que não foi dessa vez que você se confessou. — Ele retirou a alça da bolsa dos ombros.

Itadori falava consigo mesmo em voz alta sempre que se frustrava. Não era a primeira vez que tentava confessar seus sentimentos para o amigo, mas sempre que tinha a oportunidade, a coragem se esvaía de seu peito.

Como contaria a Fushiguro Megumi que sempre fora apaixonado por ele, desde que tinham 15 anos? Sete anos guardando esses sentimentos para si, sete anos omitindo e se torturando. Sofrendo por um amor que nem ao menos teve coragem de confessar por medo.

Medo de estragar tudo, medo de perder seu melhor amigo. Medo de perder o seu primeiro amor.

Yuuji Itadori tinha tantos medos, mas sempre os escondia perante Megumi. Assim como escondia o nervosismo quando saíam a sós.

Agora, deitado no sofá, Yuuji repassava os momentos que compartilhara com Megumi naquela noite. Itadori sempre fora cuidadoso em relação à sua aparência, mas com toda a certeza perdia para Fushiguro. O moreno de cabelos espetados estava sempre bem arrumado, cheiroso, e sua pele hidratada. Yuuji era um bobo apaixonado; reparava até mesmo em detalhes que passariam despercebidos por qualquer um. Como os longos cílios de Megumi, sempre muito bem simétricos, ou os lábios brilhantes, hidratados por um protetor labial de manteiga de cacau, a fina linha contornando os cílios inferiores, destacando os olhos. E eles, aqueles olhos.

Os olhos que Yuuji tanto amava.

Ele ficaria louco se continuasse guardando tudo isso para si. Já haviam se passado sete anos, e isso comprovava que o que sentia por Megumi não era superficial.

— Deus, eu vou enlouquecer. — Em um pulo rápido, Yuuji levantou do sofá e vasculhou sua bolsa à procura do telefone.

Com uma coragem repentina, o rosado desbloqueou o aparelho e ligou para o seu contato fixado. Os longos segundos pareciam horas, até que o som irritante da chamada foi trocado por uma voz calma e grave.

— Fushiguro?

— Fushiguro? Achei que tínhamos deixado esse lado formal há alguns anos. — Megumi comentou, enquanto ouvia a respiração pesada de Itadori do outro lado da linha. — Yuuji, você está bem?

— Megumi, eu preciso falar com você sobre uma coisa.

— Pode falar, aconteceu algo?

— Não. Quer dizer, aconteceu e não aconteceu... entende?

— Não, eu não entendo, Yuuji. Explica isso direito.

— Megumi, eu preciso falar com você, mas é pessoalmente. Você vai estar ocupado amanhã?

Fushiguro ficou alguns segundos em silêncio, enquanto isso o nervosismo de Yuuji aumentava, e a dose de coragem desaparecia.

— Amanhã é domingo. Tenho um almoço na casa dos meus pais; meus padrinhos e a Tsumiki vão estar lá com o namorado dela. Mas acho que à noite eu consigo ir à sua casa.

— Tudo bem, tá marcado então. Manda um beijo para a tia, um joia para seu pai e um abraço para a Tsumiki. E não se preocupe, está tudo bem.

Yuuji pôde ouvir um suspiro do outro lado da linha; ele podia ter certeza de que Megumi estava balançando a cabeça de forma negativa enquanto suspirava.

— Tá, eu mando. Tchau, Yuuji, até amanhã.

— Até amanhã, Megumi.

A ligação foi finalizada, e Yuuji começou a repensar no que acabara de fazer.

— Puta merda... O que eu faço agora? — Yuuji jogou o celular em cima do sofá e começou a andar pela casa. Foi até a cozinha, pegou um de seus copos no armário e, enquanto bebia água, um pensamento rondava sua cabeça.

E se Megumi o rejeitasse? Yuuji não saberia como reagir a essa possibilidade. Ao terminar de beber sua água, o rosado foi para seu quarto. Primeiro de tudo, ele tomaria um banho e depois planejaria como contar para seu melhor amigo que é completamente apaixonado por ele.

— Megumi Fushiguro, você ainda vai acabar comigo.

𝐘𝐎𝐔𝐑 𝐄𝐘𝐄𝐒,  𝗂𝗍𝖺𝖿𝗎𝗌𝗁𝗂Onde histórias criam vida. Descubra agora