II.

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Uma semana se passou. O Bakugou passou todas os seus dedos como um humano pensando no que havia escutado de Shouto. Pensava nele na escola, onde mordia suas canetas encarando pontos fixos lembrando de cada traço físico do mesmo. Em casa, dormia e acordava, até sonhava, com o, talvez famoso, Todoroki.

Ficou um tempo sem ir visita-lo, por mais que ainda tivesse suas caminhadas noturnas. Essa noite não seria diferente, mas iria dar uma passadinha na Residência Todoroki. Era uma sexta feira, a rua estava mais movimentada que o habitual e o barulho da cidade incomodava o mesmo.

Em finais de semana, as ruas também ficavam mais sujas, o que incomodava seu nariz sensível de felino. Caminhou pelas esquinas e becos, se esgueirando entre latas jogadas e pisadas, até chegar na parte mais nobre da cidade. Estava caminhando com calma, mesmo que a rua estivisse movimentada.

Olhou as grandes mansões de baixo, adentrando o condomínio e caminhado livremente pelo mesmo. Lembrava-se da casa de Shouto, e então, dirigiu-se até ela rapidamente. Fez o mesmo caminho até a janela do Todoroki que se encontrava aberta.

Desta vez, encontrou o meio-ruivo sentado de frente para a sua escrivaninha com a cara praticamente dentro dos livros, estudando. Tombou sua pequena cabecinha para o lado, miando e chamando a atenção de Shouto.

- Oh, você voltou. Faz um tempo que não te vejo por aqui. - O humano se levantou, indo até o gatinho que pulou em sua cama e logo depois para o chão. - Está com fome?

Miou.

"Olha, meio-a-meio, eu sei que dizem que se conquista alguém pelo estômago, mas isso não funciona comigo, ok?" pensou. Queria poder dizer isso em palavras e ter uma relação de humano para humano com o meio-albino, mas se contentaria com o que estava vivendo no momento.

Também se perguntava qual seria a reação de Shouto se soubesse que o mesmo era um híbrido e, não apenas, um esbelto e forte gatinho de rua. A palma quente do maior acariciou os pelos arrumados e os olhos avermelhados de Katsuki pousou nos lábios rosados do garoto a sua frente.

Rosnou baixinho para tentar demonstrar sua fúria pelo carinho não solicitado, mas acabou não surgindo efeito, tendo apenas uma resposta que não era esperada. Uma risadinha. Uma risada curta e baixa. Ok, havia gostado da risada do Todoroki, mas era apenas isso. Uma risada. Algo simples e besta que não fazia diferença nenhuma em sua vida.

"Mas, então, meio-a-meio, o que tem acontecido na sua vida?" era como se o menino de olhos dispares pudesser ler mentes ou entender animais, já que assim que Katsuki proferiu essas palavras em forma de miados, o mesmo disparou:

- Essa semana, na escola, eu vou ter prova. Eu deveria estar estudando e não conversando contigo, gatinho, tcs. - Estalou a língua. - Eu tenho amigos lá, por mais que na maioria das vezes, eles falem mais do que eu.

A cabecinha animalesca do Bakugou já estava deitada sobre as coxas fartas de Shouto, olhando-o de baixo. Remexia suas patinhas freneticamente, brincando com algo imaginário, enquanto escutava a voz relaxante do Todoroki. Poderia dormir ouvindo o mesmo falar, mas não por tédio ou coisa do tipo, mas sim pela paz que era transmitida.

Se o menino de olhos díspares tivesse um podcast, o Bakugou teria um Spotify premium só para baixar os episódios e poder escutar o mesmo falar a qualquer hora do dia, independente do momento.

- Sendo sincero, não é difícil ser mais tagarela que eu, até porque, eu falo bem pouco e sou relativamente tímido, acho que eu converso mais com você do que com meus colegas de classe, mas isso não significa que eu não goste deles, é que eu sempre fui um melhor ouvinte.

O humano se levantou e fechou as janelas do quarto, já que começaria a esfriar rapidamente. O vento gelado já estava entrando pela janela, Katsuki estava encolhido na cama quentinha e aconchegante de Shouto, o ouvindo dizer sobre sua vida escolar.

Aceitava que como um gato não tinha muito o que fazer, apenas sentar e ouvir - talvez, até miar em resposta e o xingar mentalmente. É claro que como um felino, poderia ir embora, sem precisar dar explicações, mas esse era o problema. O Bakugou não queria ir embora.

Qualquer um que o conhecesse como um humano iria, no mínimo, estranhar a forma como ele prestava atenção no meio-ruivo, como agia de forma passiva-agressiva enquanto era um felino, sendo que quando humano era apenas agressivo.

- E eu percebi que você também é um bom ouvinte, gatinho. Isso é bom, pelo menos pra mim. É bom ter alguém para desabafar de vez em quando e não explodir mais tarde.

Os olhos vermelhos se arregalaram, aquele garoto de olhos díspares e atrente o fez de fato pensar. Será que era por isso que tinha esse comportamento explosivo? Será que andava tão cansado de tudo que nem percebe mais? Será que guardar tudo para si e surtar depois já era rotineiro?

"Meio-a-meio, eu te odeio." respondeu com alguns minados e apertou seus olhos, franzindo o cenho felino. Katsuki sempre teve certeza sobre o que sentia, ou era o que achava, já que acabou de perceber que ignorava seus sentimentos até demais.

Os únicos que eram impossíveis de serem notados por ele e pos seus amigos era a raiva, o estresse, o ego inflado e o tédio.

Dentto de si, também notava um complexo de inferioridade, sempre sentia que eram melhores do que o mesmo em algum aspecto, mas é claro que não deixaria isso transparecer. É claro que ele carregaria esse fardo, sozinho, sem a ajuda de ninguém e não se mostraria tão vulnerável.

- Uh, você é um gato fofo, mesmo que fassa essa cara de bravo de vez em quando. - Comentou, fazendo carinhos no queixo de Katsuki com a ponta de seu dedo indicador. - Se fosse para eu ter um animal, ou um gato, mais especificadamente, eu escolheria você.

Meu híbrido. || tdbk.Onde histórias criam vida. Descubra agora