3: australian breeze

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"Diário, viver tem sido, excepcionalmente,uma droga ultimamente. Tenho estado exausta de ficar no ar, tenho bebido mais a cada dia, tenho chorado muito e escrito repetidamente melodias que me lembram Jisoo despedaçando meu coração repetidas vezes. Mesmo assim, como uma doente, eu anseio pra que ela apareça novamente, nem que seja pra pisar mais em mim. Tenho a certeza de que estou enlouquecendo ou muito próxima disso."

SYDNEY, AUSTRÁLIA

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SYDNEY, AUSTRÁLIA.

Rosé caminhava de um lado ao outro, atordoada em estar em solo australiano de novo. É um jogo impossível de vencer quando se trata de não pensar mais em Jisoo, na verdade isso sequer foi uma opção. No momento, a grande questão era a encarar novamente e todo o clã maligno que circulava essa parte de sua vida.

Ela odiava cada segundo de estar ali, preferia estar no inferno do que na Austrália, pois aquele lugar era o apogeu de sua desgraça mental. A brisa australiana jamais a deixaria esquecer o complexo emaranhado de sua descendência e o desafeto daqueles que compartilhavam de seu sangue.

De fato, a maioria das pessoas tem algum conflito familiar e com Rosé não seria diferente, mas a extensão de seus problemas, definitivamente, era intimamente intimidante.

Eis o resumo de seu infortúnio;
Roseanne é a filha do segundo casamento de seu pai - um magnata no ramo dos imóveis - e sua história começa antes mesmo de seu próprio nascimento, com um garoto loiro de olhos azuis. Ryan era o primeiro filho de seu pai com uma modelo australiana e representava tudo de mais desprezível em uma pessoa para ela, eles nunca se deram bem, pois Rosé é fruto da oficialização do término entre os pais de Ryan.

Não é como se eles sequer tivessem tido uma chance, Ryan odiava Roseanne desde que ele soube de sua existência, odiava a atenção de seu pai ter sido dividida com a garotinha de olhos diferentes, odiava as palmas que ela recebia enquanto tocava o piano nas festas de família e a odiou quando ela teve fama e reconhecimento por talento.

Ryan a desprezava tanto que lembra de um dos melhores dias de sua vida ter sido no velório da mãe de Rosé, lembrava-se vividamente dos olhos encharcados da garota chorando sem parar por horas, completamente inconsolável, soava bem aos seus ouvidos o desespero do choro estridente de Rosé.

Anos depois o patriarca casou-se novamente, com uma holandesa e conceberam Lucy. Estranhamente Ryan recebeu Lucy como sua irmã e Roseanne sentiu-se feliz por tê-la. Era esquisito, mas o único vínculo capaz de reunir os dois era a caçula da família.

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Rosé corria as mãos pelos cabelos louros enquanto descia um gole longo de whiskey pela sua garganta, não acreditava no que estava prestes a fazer, seu corpo formigava e sua cabeça tentava a convencer de que aquilo era uma ideia de merda, mas a caixa postal de seu celular guardava a mensagem de Lucy a pedindo docemente que comparecesse ao seu aniversário de 16 anos. A loura queria poder dizer não, mas sequer havia uma desculpa plausível, de fato, não teria shows durante duas semanas e voou até a Austrália só pela bendita data de sua irmã.

E estava parada no banco de trás do carro preto, de frente ao império particular dos Silverlakes, o seu segundo sobrenome que se recusava a usar, jamais assinou nenhum papel com aquele nome desde que completou a maioridade e continuaria a ser, exclusivamente, apenas Roseanne Park. Preferia restringir-se ao sobrenome de sua mãe, pois nunca se sentiu como uma Silverlake.

Nesse ponto o motorista a encarava hora ou outra sem saber o que fazer ou dizer, ela estava estática ali, mas arriscou.

— Senhorita? Gostaria de companhia até a porta? — o homem soou sutilmente.

— Não — disse apenas alto suficiente para que o homem a ouvisse — Eu estou pensando se vou entrar ainda,  me desculpe.

— Sim, senhorita. Fique à vontade.

Suspirou encarando novamente a porta da mansão, assumindo a si mesma que estava prestes a desistir, quando avistou a morena de seus sonhos e delírios saindo pela porta. Sozinha. Caminhando devagar por ali.

— Jisoo? — disse a si mesma antes de abrir a porta do carro e sentir suas botas altas atingirem o chão.

Caminhou em passos curtos até ela e parou em uma distância segura de dois passos largos, encarou suas costas sem saber o que dizer, meio perdida em um transe.

— Engraçado, eu consigo te reconhecer só pelo seu barulho andando Rosie — a outra soa ainda de costas e se vira com calma.

Elas se encaram como se os olhos pudessem conversar a respeito de toda a merda que havia acontecido e ao mesmo tempo esquecer de tudo o que aconteceu. Tal acontecimento era impossível, mas as almas se encontram antes das palavras e naquela pequena fração de tempo tudo parece estar bem de novo.

— Eu te disse pra não vir — Jisoo soa novamente.

— Eu não ligo para as coisas que me diz sem olhar em meus olhos — a de branco solta um sorrisinho singelo ao ouvir a loira.

— Ainda assim...

— Você não devia estar aqui, me diz que veio apenas por Lucy...

A morena fica em silêncio e Rosé sabia o que aquilo significava; ela estava ali por Ryan também.

— Eu sinto muito — ela diz baixo.

— Não, você não sente Jisoo — encaro o anel de diamante em seu dedo anelar novamente, nenhuma palavra precisava ser dita para que ela entendesse o que sua amada havia feito. Então, virou-se e caminhou até a porta da mansão, deixando-a para trás.

Encarou a entrada da casa, exatamente como ainda se lembrava de tê-la visto pela última vez. Branco e dourado por todos os lados.

— Não acredito no que meus olhos estão vendo.

Rosie reconheceria aquela voz em qualquer circunstância. Puxou o ar mais forte antes de encarar no alto da escadaria a pessoa que mais desprezava em toda sua vida, ele vestia branco e um sorriso sínico. Ela não pôde deixar de pensar o quanto ele era bom em enganar as pessoas com sua aparência elegante e suas expressões falsas.

— Irmãzinha, você por aqui? — ele desceu da escada em direção a ela — Uau, você está tão abatida e pálida quanto me lembro pela última vez que nos vimos, você lembra? Aniversário de morte da sua mãe, foi um dia bem ensolarado.

— Como eu poderia me esquecer do dia em que deixei a marca da minha palma no seu rosto Ryan?

Ele sorri forçado e ela faz o mesmo até ele se aproximar.

— Eu vou te dar uma bandeira branca hoje em nome da Lucy, mas não se esqueça que meu pavio é curto pra suas gracinhas, irmãzinha — ele fala baixo contra o rosto de Roseanne e sai logo em seguida.

Ryan era a pessoa mais desprezível que ela conhecera, rever ele depois de tantos anos era um teste pelo qual Rosé não estava exatamente disposta a passar.

— Pela Lucy, hoje é pela Lucy... — repetiu pra si mesma antes de caminhar adiante.

ROCKSTAR 27 (CHAESOO)Onde histórias criam vida. Descubra agora