Xinqiu to Chongyun

Filme idiota

A tão aguardada sexta havia chegado. De um lado, Chongyun arrumava suas coisas para ir a casa de Xingqiu; ansioso. De outro, este estava arrumando seu quarto, nervoso.

Parecia bobagem, já que eles frequentemente dormiam um na casa do outro; era quase rotineiro, mas desta vez era diferente: Consciente do que sentia, como iria agir em relação a Chongyun, com ambos dormindo na mesma cama? E se algo desse errado? Esses pensamentos estavam lhe enlouquecendo, ele jamais fora assim. Nunca teve preocupações “tão fúteis” em relação a seu amigo. Normalmente, quem tinha o sossego perturbado era Chongyun por sua causa, não o contrário.

Andava de um lado para o outro, olhando a hora no relógio passar. Faltavam dez minutos para o horário combinado.

Em outra parte, o garoto buscava incansavelmente por algum pijama em seu guarda-roupa. Para seu azar, os mais novos estavam para lavar, sobrando, apenas, alguns mais velhos, com estampas humilhantes. Pijamas de ursinho, patinho, e entre outras estampas escolhidas por seus pais ou sua tia, Shenhe.

“F-Fala sério, eu não posso ter só isso aqui?!” Quanto mais fundo o garoto ia em seu guarda-roupa, piores eram as estampas. Por fim, se deu por vencido.

Ou era o pijama de ursinho, ou não iria para a casa de Xingqiu. Por um instante, cogitou isso. Estava começando a escrever uma mensagem dando uma desculpa esfarrapada sobre não poder dormir lá.
Porém, ao ver seu amigo online, apagou a mensagem e decidiu que iria, mesmo que sua roupa fosse ridícula. Ele não precisaria dormir de pijama, não é? Até dormir de jeans parecia uma escolha melhor do que usar aquele pijama patético, apesar do desconforto.

Agora só precisava passar o perfume e sair.  Ou talvez já tinha passado? Bem, não importava, cheirar bem nunca é demais; pelo menos era o que ele imaginava.

“W-WAH, DROGA...!! Acabei engolindo.... Perfume....” Falou, num tom choroso, enquanto tossia.

...

Tocou a campainha, enquanto tentava arrumar o cabelo. Ele ainda não havia percebido que, por mais que tentasse, seu cabelo nunca ficaria totalmente do jeito que queria?

Em poucos segundos, Xingqiu abre a porta, o puxando quase que instantaneamente para dentro da casa. “Se atrasou de novo, Yunyun...” Disse, tentando parecer bravo, sem muito sucesso.

“Y-Yunyun...? Você não me chama disso tem um bom tempo”  Sorriu, o convidando para um abraço como pedido de desculpas.

Era claro que não recusaria um abraço, mas também não perderia uma chance assim para provocá-lo. Ao se aproximar, pôs seus lábios próximos ao ouvido de Chongyun e então falou: “Então você gosta que eu te chame assim, Yunyun?~”

O de cabelos azul-claros rapidamente se afastou, arrepiado. “N-Não é que eu não goste, m-m-mas... M-mas também não que eu desgoste, é que você... Uhh, ummm... Você não me chamava assim tem um bom tempo e... AAAH, vamos só logo pra dentro do quarto, por favor...” Bingo; objetivo completo.

Acompanhados por duas empregadas do rapaz, os garotos caminhavam para o quarto. Ao abrir a porta, disseram que, caso precisassem, poderiam chamá-las. “Obrigado”, foi o que Xingqiu disse, antes de elas se retirarem e assim ele finalmente poder fechar a porta.

Um silêncio desconfortável pairava pelo cômodo. Haviam tantas coisas para fazerem, mas nenhuma ideia surgia, até que...

“Tá afim de ver um filme?”

“É de terror, não é...?”

“Você me conhece tão bem, sabia?” Ele riu, docemente. Como ele conseguia ser tão adorável em qualquer momento? Xingqiu já não sabia dizer se era realmente isso, ou já estava enlouquecendo, como afirmava Hu Tao.

“Exorcismo” era o nome do filme. O cavalheiro em questão detestava filme de terror, ao contrário de Chongyun, mas não admitiria jamais que seu desgosto era por medo. “Sem graça” ou “muito previsível” eram adjetivos frequentes que dava para evitar consumir obras deste gênero.

Mas, para sua infelicidade, não havia para onde correr desta vez. Se negasse, ficaria óbvio o seu medo, além de querer agradá-lo pelo menos uma vez.

Dando um suspiro de derrota, assentiu com a cabeça. Era visível o arrependimento de tal decisão em seu olhar, mas já era tarde. Chongyun já havia puxado os salgadinhos para a cama e se sentado ao seu lado.

Com tudo pronto, deram início a sessão. O letreiro subindo com o título do filme já eram suficientes para dar arrepios no rapaz. Para sua sorte, o outro não se importava; estava concentrado demais procurando detalhes quase que imperceptíveis em cada canto da obra para notar leves espasmos dados pelo corpo de Xinqiu.

Era assustador como não transmitia nenhuma emoção durante o passar do longa-metragem. Sua feição era a mesma de quem assistia um documentário sobre vida marítima; uma feição pacata, serena e analítica. Como isso era possível? Xingqiu já havia tomado inúmeros sustos, sendo que sequer havia chegado na metade.

“Que efeitos grotescos... Acho que vou ter pesadelos...” Era o que se passava em sua cabeça.

“Uh, Xingqiu?”

“W-WAAAAH...!!!” Pulou da cama assustado; só percebera o que aconteceu quando viu Chongyun segurando o riso, o deixando sem graça. “A-Ah, não que eu... Eu não me assustei, ok? Eu só não tava esperando...!”

“Haha, tudo bem, tudo bem. Eu só queria te pedir para pausar, eu realmente preciso beber água”

“Ah, tudo bem, eu te acompanho.” Era só uma desculpa para não ficar sozinho naquele quarto escuro. Sim, era seu quarto; a mesma cama grandiosa e macia de sempre, a mesma televisão, tudo era igual, mas aquela sensação de estar sendo observado? Aí não.

Chongyun já estava na porta, virando a maçaneta, quando disse: “Sabe, se estiver assustado, pode me abraçar o quanto quiser. Eu realmente não me importo, ok? O que eu quero aqui é seu conforto." Logo saiu, em rumo a cozinha.

Espera aí, ele havia notado? Era realmente isso? Chongyun estava consciente do quão assustado ele estava? Que vergonhoso...

"Hm, mas... 'me abrace o quanto quiser'??? Ele realmente tá consciente do que ele fala?!? Waaahh, esse garoto um dia vai acabar comigo."

Seu rosto estava vermelho. Estava se sentindo patético, odiava a sensação de que qualquer atitude de Chongyun o poderia desestabilizar; mas não havia muito o que fazer, para seu azar.