Nosso bebê

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Nos últimos dias Pete mostrava sinais de estresse e impaciência, qualquer coisa, por mínima que fosse, o tirava do sério. Eu o conhecia bem o bastante para saber que algo não estava certo, mas sempre que perguntava ele ficava irritado ou tinha uma crise de choro, sem dúvidas a gravidez o deixou extremamente sensível a tudo que acontecia ao seu redor e juntando isso ao fato de que ele estava no final da gestação ficava ainda mais difícil para ele. Eu queria que ele se abrisse comigo como sempre fez quando surgia um problema. Pete não estava sozinho, por mais que eu tivesse a consciência de que o peso de carregar o bebê estava todo sobre ele, eu ainda queria facilitar tudo o que estava ao meu alcance e além para ele.

— Mas que merda. — a voz de Pete soou me tirando da nuvem de pensamentos. — Que inferno!

Eu entrei no closet onde ele estava.

— Pete? — chamei.

Quando o vi sentado no chão encolhido no canto da parede com o rosto enfiado nas mãos, eu corri na sua direção a ele e me ajoelhei em sua frente. E havia caído? Estava machucado?

— O que aconteceu? — a preocupação em minha voz era nítida. — Você se machucou?

Pete soluçou, mesmo com as mãos escondendo seu rosto, era óbvio que ele estava chorando. Aquilo me deixou ainda mais aflito.

— Ei, amor... — eu o chamei o mais terno que pude, segurei suas mãos para poder vê seu rosto molhado de lágrimas. Meu coração se partiu em pedaços por vê-lo assim, eu o puxei para meus braços. Segurando-o firme, me levantei e fui para o quarto.

Não perguntarei nada, não nesse momento. Conhecendo Pete, eu sabia que ele não iria falar, ele provavelmente se sentia vulnerável e fraco por se mostrar assim. Eu não queria que ele se sentisse dessa forma. Pete é o ser humano mais forte que eu conheço e vê ele assim não me faz admirá-lo menos. Todos temos nossos momentos, e eu quero está aqui por ele, segurando o mundo dele todas às vezes que por preciso.

Deitei com ele na cama e o trouxe para meus braços.

— Eu estou aqui. Me abrace o mais forte que você conseguir, eu não vou sair do seu lado. — disse cada palavra verdadeiramente. Pete era meu marido, eu tenho sempre a necessidade de confortá-lo e nesse momento mais que nunca.

Minhas mãos acariciaram seus cabelos e eu beijei sua testa. Pete me abraçou de volta, eu ainda podia sentir suas lágrimas quentes molharem minha camisa, mas não me importava, ele poderia chorar o rio Chao Phraya inteiro em cima de mim se isso o fizesse se sentir melhor.

— Eu te amo muito, você sabe disso, não é? — eu não esperava uma resposta dele, só queria o lembrar disso.

Acariciei suas costas largas e depois voltei a seus cabelos. Foram longos minutos assim, eu nem sabia quanto tempo se passou, mas ele havia dormido após tanto chorar. Sua respiração estava calma, a barriga protuberante subia e descia. Me afastei um pouco para poder ver seu rosto. Seus olhos estavam inchados pelo choro, as lágrimas secaram, mas os sinais delas eram visíveis. Toquei seu rosto em uma leve carícia para não acordá-lo, meu dedo percorreu seu nariz e sua boca rosada. Ele era tão lindo. Eu amava cada um dos seus traços marcantes, era o que fazia ser quem ele era e eu não mudaria, cada parte dele era perfeita. Pete se mexeu e eu afastei a mão, ele se aproximou mais de mim e eu sorri, o segurei em meus braços novamente e o admirei a maior quantidade de tempo que pude.

[...]

Eu dormi em algum momento.

Mas despertei de meu sono quando senti algo quente tocar meu rosto. A mão de Pete era tão suave que poderia dormir novamente com isso, eu tinha muita sorte por tê-lo. Abri meus olhos e vi Pete me olhando fixamente.

— Oi... — eu disse sorrindo pequeno.

Ele ficou vermelho. Estava envergonhado pelo que aconteceu antes?

Me aproximei mais de seu rosto, o beijei demoradamente. Depois voltei a olhá-lo.

— Você está melhor? — perguntei atenciosamente. — Quer conversa sobre o que aconteceu?

Pete escondeu o rosto em meu peito. Foi assim nos últimos 5 meses, ele se estressava ou chorava se algo não saia como ele queria e depois se sentia envergonhado. Eu me divertia com isso, apesar de, na maioria das vezes, algo acabar voando na minha direção. Me lembro de quando ele completou 7 meses, as crises de estresse pareciam ter dado um sossego a ele, um dia Pete acordou três horas da madrugada atrás de sorvete, e adivinhe? Não tinha sorvete na porra da geladeira, tinha sempre, mas daquela vez não. Muita sorte. Pete gritou tanto comigo que senti que ia ficar surdo, e eu nem ao menos podia me defender ou ele acabaria chorando, ou acertando algo no meio da minha cara. Bem, as quatro e pouco ele estava na cama com seu tão sonhado pote de sorvete que me fez sair para comprar e eu dormi na sala como "forma de aprender a não deixar mais sorvete faltar em casa" palavras dele, não minhas. Pensando agora nisso, eu quis rir.

—  Tudo bem se você não quiser conversa agora, mas você sabe que pode confiar em mim, né? Eu estarei aqui para você em qualquer momento. — assegurei de forma afetuosa.

Pete deitou a cabeça em meu peito.

— Eu estou com medo... — ele disse depois de um tempo. Fiquei em silêncio. — Antes, eu achava que iria conseguir, eu estava certo disso... — ele parou quando sentiu sua voz ficar embargada, eu aguardei pacientemente esperando que ele prosseguisse. —  E se eu não for um bom pai? E se eu não conseguir proteger nosso bebê das coisas ruins desse mundo? Eu me sinto doente só de imaginar algo acontecendo a ele... Me sinto impotente...

Mais um longo tempo passou, quando vi ele não falaria nada, eu disse:

— Olhe para mim. —  ele levantou o olhar encontrando o meu. Seus olhos brilhavam sinalizando um choro iminente — Você já é um bom pai, e quando nosso bebê nascer você continuara sendo. Ter medo é normal, Pete, é isso que nos faz reais, apenas deixe as coisas acontecerem no seu tempo. Você vai saber o que fazer quando a hora chegar e mesmo que você não saiba, você não estará sozinho, eu estou com você nessa jornada, nós vamos descobrir cada coisa e dar cada passo juntos.

Queria que ele sentisse que eu estava sendo sincero. Eu também estava com medo, todos os dias eu penso em como vou fazer para não errar com meu filho como o pai fez comigo e Macau. A simples ideia me deixa doente. Mas quando vejo Pete eu me sinto pronto para enfrentar tudo isso. Pete é meu alicerce. Talvez eu devesse conversar mais sobre isso com ele, assim ele saberia que não estava sozinho nesse barco.

—  Quanto a proteger nosso bebê, não se preocupe, tanto eu quanto você sabemos usar uma arma e você tem uma ótima mira. — eu disse e Pete riu alto. Ele deu um tapa no meu braço.

Era bom ouvir ele rir. Me deixou aliviado.

—  Por mais que o mundo lá fora seja cruel, aqui dentro não vai ser, nosso bebê tem a nós, tem a primeira família. Todos estão dispostos a dar a vida por ele. Ele vai ser cercado das melhores coisas, seremos a fortaleza dele. E... — eu me aproximei do ouvido de Pete e sussurrei. — Nós dois passaremos por cima de qualquer um que ousar tocar em um fio de cabelo do nosso bebê.

Os olhos de Pete brilharam quando disse isso. Ele sabia do que eu estava falando.

Ninguém tocaria em minha família enquanto eu estivesse vivo.

Pete finalmente sorriu para mim, um sorriso largo deixando seus olhos ainda menores, o sorriso que eu amava nele. Espero que Pete esteja mais relaxado sobre isso. Nunca mais quero vê-lo assim novamente. Ele se aproximou mais de mim.

— Eu te amo, pra caralho, e você acabou de me lembrar o porquê. — Pete disse ainda sorrindo e me beijou. Eu envolvi sua cintura com as duas mãos e toquei sua barriga.

— Você ouviu isso, bebê? Seu pai acabou de se declarar para mim. Você precisa sair logo daí para que eu possa ficar com o papai só para mim um pouco. — disse e Pete me deu outro tapa me repreendendo. Eu ri e o puxei para mim para que pudesse beijá-lo novamente.

Papa and Daddy - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora