Momentos de angústia

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Eu sou um idiota.

Eu não deveria ter escutado ele. Era óbvio que algo estava errado. Mas mais uma vez eu fui egoísta ao ponto de deixar ele sofrer novamente.

Idiota.

Idiota.

Idiota.

Você não é diferente dele.

Eu andei de um lado para o outro naquela sala freneticamente. O branco das paredes me deixava claustrofóbico. Me lembrava minha mãe e como ela nos deixou. Mãe...

Eu não posso perder eles.

— Você pode se sentar. Eu já me sinto tonto com esse movimento todo. — A voz de Tankhun me despertou da massa caótica de pensamentos.

— Tankhun! — Ouvi as outras vozes da sala falarem em uníssono.

— O quê? — Tankhun disse olhando os outros enquanto dava de ombros.

Eu olhei para ele. Tankhun me encarou de volta. Seu olhar não dizia muita coisa, ele nunca gostou de mim, na verdade, e eu entendo ele, quem gostaria de mim afinal? Pete foi o único tolo a fazer isso, e olha onde estamos? Eu só machuquei ele.

— Não escute, Tankhun, Vegas. Apenas fique calmo, vai ficar tudo bem. — Kinn disse e eu olhei para ele.

Kinn. Passei tanto tempo odiando esse homem que seria impossível contar, desde que nasci, talvez? Foram tantos insultos e comparações por causa dele. Ele também me odiava, e com razão, eu machuquei quem ele ama.

— O que eu disse? — Tankhun questionou do seu jeito escandaloso de sempre. — Eu não...

Antes que ele pudesse terminar a frase, Porsche o arrastou da sala.

Porsche. É irônico pensar em como eu quis ter esse cara. Não era por amor, hoje eu sei disso, a única pessoa que amei verdadeiramente foi Pete. Eu estava obcecado por Porsche porque eu queria afetar Kinn. Queria ganhar dele ao menos uma vez na vida. Nem ao menos considerei Porsche. Eu quis rir do quão estúpido eu era.

Olhei ao redor da sala. Todos, com exceção de Porsche e Tankhun, estavam aqui. Me encarando como se buscassem vingança por todo mal que fiz.

— Pete e o bebê ficarão bem, Vegas. — Kinn disse para me confortar e tocou meu ombro.

Andei um pouco para trás. Eu sei que eles não queriam meu mal, eles pareciam já terem superado isso, muito provavelmente por Pete. Mas eu não podia evitar sentir medo, eu fiz coisas horríveis com eles, poderiam eles realmente me perdoarem por tudo? Eu não perdoaria.

Minhas costas tocou a parede gélida. Não havia quaisquer sinais sobre Pete. Desde o momento da ligação dele até o momento ninguém me informava nada sobre eles. Eu estou esgotado de tanto esperar. Voltei a caminhar impaciente. Ninguém disse mais uma única palavra. Eles estavam com medo assim como eu.

O médico entrou na sala e meu coração acelerou. Parei encarando ele.

— Khun Vagas... — o médico falou.

— Como eles estão? — disse interrompendo ele. Eu estou ficando maluco, preciso de respostas.

— Khun Vegas, acalme-se, escute, a situação do Khun Pete é um pouco crítica, realizamos alguns exames e identificamos um distúrbio de coagulação sanguínea. — o médico informou paciente.

Senti como se meu coração fosse parar de bater, meu peito doeu. É como se meu mundo estivesse afundando rapidamente. Eu queria perguntar tantas coisas, mas as palavras se recusavam a sair.

— O que isso significa? — Khun Korn perguntou imediatamente.

— Significa que o organismo dele foi incapaz de produzir as enzimas necessárias para a coagulação do sangue. Não sabemos exatamente como isso se deu, pode ter sido por qualquer fator, desde causas externos até uma doença hereditária. — explicou.

Não conseguia me mover. Estava paralisado. Doença hereditária? Pete nunca havia me falado nada sobre isso. E por que nada foi identificado desde o início da gravidez? Minha cabeça pesou, parecia que ia explodir a qualquer momento.

— Como eles estão? — eu finalmente consegui perguntar.

O médico me olhou. Seus olhos carregavam pena? Ou eu estava apenas vendo demais?

— Pete está parcialmente sedado e o bebê está bem até o momento. Precisaremos realizar uma cirurgia de emergência, ele não pode ficar na barriga por mais tempo...

As palavras do médico ecoavam em minha cabeça. Tudo parecia ruir facilmente agora. Algumas horas atrás eu os vi, toquei neles e agora, eu posso perdê-los para sempre. Apenas a ideia me rasga em pedaços.

— A cirurgia é arriscada. A vida dos dois está em risco.

Eu olhei para o médico. O quê? Involuntariamente andei até ele. Meus sentidos estavam todos ligados nesse exato momento. O mundo parecia ter congelado, a única coisa que eu conseguia enxergar era o médico paradona minha frente.

O médico recuou até encostar na parede. Todos já estavam vindo em minha direção.

— Escute, doutor! — eu disse em um tom de advertência. — Você vai entrar naquela sala e trazer meu marido e meu bebê seguros até mim. — Kinn tocou meu ombro.

Ele e os outros estavam prontos para me pararem se eu perdesse o controle.

— Se por um caso, por um ato errado, eu perder algum deles, eu vou me certificar de saber onde você mora. Esse hospital inteiro vai estar no chão no outro dia. Entre na porra daquela sala de cirurgia e traga eles bem para mim. Os dois. Sem negociação, entendeu bem? — perguntei ameaçador.

O médico olhou em meus olhos e concordou com a cabeça. Ele estava suando. Muito provavelmente com medo.

Me afastei para que ele pudesse sair e ele o fez rapidamente.

— Porra! Eu pensei que você fosse engolir o homem vivo. — Porsche disse atônito. Eu olhei para ele.

Minhas mãos tremeram agora, feche-as em punhos. Eu estava com raiva, mas acima de tudo, eu estava com medo.

[...]

Me sentei no chão da sala vazia.

Horas haviam se passado e nenhuma notícia tinha vindo até mim. É desesperador saber que você pode perder quem você mais ama e não poder fazer nada para mudar isso.

Toquei meu rosto pálido com as duas mãos, eu queria chorar, mas as lágrimas se negavam a sair. Me sinto sufocado.

Por favor, Deus, por favor.

Me deixe ficar com eles. Por favor.

Eu sei que não sou digno de pedir isso, mas eu preciso deles. Eles são tudo que eu tenho.

Por favor, não tire eles de mim.

O sorriso de Pete veio em minha mente, o jeito brincalhão dele. Um calafrio correu minha espinha. Eu quero ser merecedor dele, eu quero mudar todas as coisas ruins que ele passou e acima de tudo eu quero amar ele todos os dias da minha vida. Eu não mereço, eu sei, mas eu preciso dele.

Por favor.

Nosso bebê. Pete e eu queríamos tanto ele que quando aconteceu foi quase inacreditável. Sorri ao lembrar da vez em que ele me contou. Essa criança é a junção de nossas metades, eu já amo tanto ele. Quero ter a chance de segurá-lo em meus braços, de mostrar a ele todo o amor que uma criança pode ter, todo o amor que eu e Macau nunca tivemos. E quero que Pete esteja lá, ao meu lado, segurando a minha mão.

Por favor...

— Ele vai ficar bem, Vegas. — A voz de Tankhun soou e eu olhei para cima. Ele estava realmente falando comigo?

Tankhun estava parado bem próximo a mim.

— O bebê também. Sabe...— Tankhun disse sentando-se ao meu lado no chão. — Eu não gosto de você, te aturo apenas causa de Pete. Me pergunto todos os dias o que ele viu em você, mas enfim...

Eu quis ri naquele momento. Não sei explicar o porquê. Mas eu quis. Talvez fosse pela forma que ele estava tentando me reconfortar. Do jeito Tankhun de ser.

— Você pode ser um trapaceiro, mas você o ama. Isso já ficou óbvio para todos. Posso não gostar de você, mas não quero que você perca eles, portanto, mentalize que eles ficarão bem. Não vamos perder eles, Vegas.

As palavras de Tankhun me deixaram um pouco surpreso. É irônico que a pessoa que mais me odeia seja a mesma que está me confortando nesse momento. Olhei para Tankhun.

— O quê? — Ele perguntou franzindo a sobrancelha. — Nem todo mundo é sem coração como você, idiota.

Dessa vez eu ri, Tankhun teve um sobressalto com isso. Não consegui segurar, nada fazia muito sentido nesse momento. As coisas mais estranhas estavam acontecendo, posso perder tudo que amo a qualquer momento e Tankhun é quem está ao meu lado. A vida era mesmo imprevisível.

Ficamos em silêncio depois. Encostei a cabeça na parede.

— Pegue. — Ele disse me entregando um lenço.

Eu estava chorando? Toquei meu rosto e senti a pele molhada. Eu nem mesmo percebi quando aconteceu, apenas estavam lá. Eu nunca gostei de chorar, quando eu era criança meu pai dizia que grandes homens não choravam e apenas fracos faziam isso. Mas Pete me mostrou que lágrimas eram resultados do que passamos, que independente de serem boas ou ruins, era bom colocar para fora.

Tankhun balançou o lenço no ar para que eu o pegasse de uma vez e eu o fiz.

Sequei as lágrimas silenciosas.

[...]

Todos estavam sala novamente aguardando notícias. A única coisa que sabíamos no momento era que a cirurgia havia terminado.

O médico entrou na sala e nos levantamos quase que, ao mesmo tempo. Ele pareceu assombrado quando me viu. Eu pediria desculpas depois pelas ameaças.

— A cirurgia ocorreu bem e sem grandes complicações. — Ele se apressou em dizer me olhando diretamente.

Os suspiros de alívio tomaram a sala.

— Pete está sob observação, as próximas horas serão determinantes para sua melhora. O bebê está seguro, ele também está sob observação. No momento nenhum dos dois podem receber visitas. - Concluiu o médico.

Naquele momento minhas pernas falharam, elas estavam trêmulas. Alívio tomou conta do meu corpo.

Eles estavam bem.

Papa and Daddy - VegasPeteOnde histórias criam vida. Descubra agora