|Melody|
Eu pensava que com o tempo este lugar ia ficar menos estranho. Mas depois de uma semana aqui trancada, percebo que estava errada. Este lugar é horrível!
Quase ninguém neste lugar parece ter condições mentais, nem mesmo as freiras ou os seguranças. Posso garantir que em quase dezanove anos de vida, nunca vi tanta loucura e maldade junta.
Talvez o Harry seja o mais normal. Demasiado normal para estar aqui.
Harry não voltou a falar comigo depois de eu admitir que tinha medo. Apenas afastou-se de mim e desde aí, apenas trocamos breves olhares.
-Toca a andar!- grita um dos seguranças a empurra uma mulher para fora da sala de forma bruta enquanto ela debate-se contra ele.
Ela é a terceira esta semana. Apenas o primeiro voltou. Sempre que alguma freira ou segurança entra na sala, faço questão de olhar para o chão.
Oiço a grande porta bater e relaxo o meu corpo, movo o meu corpo até a grande janela e observo a chuva a cair. Tento absorver o barulho da chuva e abstrair-me da irritante música francesa que paira pela sala.
-Quando a irmã Kim entrar na sala esta tarde, fica calma, se ela falar contigo sorri e acena concordando com tudo que ela disser, estás a ouvir?- oiço a voz de Harry atrás de mim.
Viro-me para ele e olho-o. Ele é tão calmo e belo. O que ele está aqui a fazer?
Ele matou a família! O meu subconsciente diz algo que eu já sei.
-Porquê?- interrogo e volto a olhar lá para fora.
-Apenas faz o que eu digo, por favor.- sussurra e aproxima-se de mim, mas eu não tiro os olhos lá de fora.
-Mas eu tenho medo dela!- digo baixo para que só ele oiça.
-Tu tens medo de tudo aqui.- um pequeno sorriso quase se forma na sua face, mas não o faz.
-Eu não tenho medo de ti....- minto, pensando que isso talvez o fizesse sentir melhor.
Um riso rouco sai da sua garganta e eu desvio os olhos para ele.
-Eu sei que tens, não precisas mentir.- a sua face volta a ficar séria e ele logo desaparece da minha vista.
Será que devo ir atrás dele e perguntar-lhe o porquê de fazer o que ele pediu?
Os meus pensamentos são interrompidos, pelo barulho da porta da sala de convívio a ser aberta. Uma das enfermeiras desliga a música. Por incrível que parece todas as pessoas que se encontram dentro da sala ficam em silêncio, até mesmo o homem que está sempre a bater com a cabeça na parede pára e simplesmente fica quieto.
Eu baixo a cabeça e apenas continuo encostada a janela, tentando não fazer contacto visual com ninguém. Discretamente tento procurar o Harry ao longo da sala, mas não o consigo ver. Por muito medo que eu tenho, e por mais estranho que isto possa parecer, eu sinto-me protegida com ele. E apesar de ele não me ligar nenhuma e fazer tudo para me ignorar eu não consigo que ele me seja indiferente.
Sinto um olhar queimar o corpo e levanto a cabeça, e encontro o olhar da irmã Kim pousado no meu corpo o que faz com que eu fique mais assustada e com que o meu corpo trema ligeiramente.
Ela dirige-se a mim, e eu fico o mais inconstada possível á grande janela. A irmã Kim olha para mim, mas eu não a olho nos olhos com medo.
Sinto outro olhar pousado no meu corpo e procuro quem seja, e os meus olhos encontram-no. Harry encontra-se exatamente do outro lado da sala e olha para mim, atentamente, fazendo com que a temperatura da minha cara suba uns graus.
O olhar da freira que se encontra á minha frente segue o meu e quando vê que me encontro a olhar para o Harry, ouço-a a rir.
-Não me digas que estás apaixonada pelo assassino do momento? — ela pergunta sinicamente.
-Não, uma pessoa não se apaixona em uma semana, e eu não me apaixonaria por um assassino, não sou assim tão louca.- finjo um sorriso e vejo a expressão facial da irmã Kim alterar-se, de sinica para minimamente simpática.
-Passaste a semana bem comportada, e estas a ter uma conversa comigo sem estares a tremer de medo...- diz e franje a testa.
Na verdade estou cheia de medo do que ela me possa fazer, mas acho que devo fazer o que Harry pediu.
-Não quero arranjar problemas.- sussurro e olho para o chão.
-Se continuares assim não vais.- diz e olha em volta observando cada um com um olhar severo.
-Vou deixar que fiques aqui, mas vais ter que te comportar ou vais sofrer mais do que pensas.- diz e aponta o dedo indicador para mim ameaçando.
Apenas assinto e olho para o chão novamente.
-Muito bem! Saiam!- bate palmas e os guardas vão levando de dois em dois embora, apenas deixando alguns dos pacientes.
Movo-me até ao sofá a segundos depois Harry senta-se ao meu lado; o que mais me admirou foi que não sentou na outra ponta do sofá, mas sim ao meu lado, a centímetros de distância.
-Vem fazer uma entrevista. Apenas fica calada e se quiserem falar contigo dá uma de doida e fica a olhar para eles, alguém á de impedi-los. E passado algum tempo podemos sair daqui.
-Daqui do asylum?- a esperança nasce no meu peito mas sei que é ape as a esperança, eu não ia sair daqui tão cedo.
-Achas? - ri-se. -Quem me dera! Lembra-te de que quem entra aqui nunca mais saí.
-Mas eu não sou louca!- sussurro um pouco irritada. Eu quero sair daqui.
-E eu não matei ninguém.- diz e faz uma pausa antes de falar novamente. -Como já disse, sempre negamos a verdade.
Respiro fundo. Talvez ele tenha razão. Mas eu vejo-os, eles são reais!
-Porque matas-te a tua família?- ganho coragem para perguntar.
-Ele não matou!- oiço a voz que ouvi no primeiro dia. Olho em direção de onde veio e vejo o chão, novamente, a rapariga de cabelos castanhos sentada lá.
-Se ele não matou porque está aqui?- pergunto-lhe, esquecendo-me de que o Harry está mesmo ao meu lado. Nunca consigo ignora-los.
-Com quem é que estás a falar? Vês! És louca sim! Andas para ai a falar sozinha com os teus amigos imaginários!- Harry parece estar irritando. Talvez não pelo facto de eu estar a falar sozinha, mas de ter-lhe perguntado sobre a família.
-Eles não são meus amigos nem imaginários! Alguns são maus! E eles são reais! São espíritos.- sinto-me uma rapariga de 5 anos pela forma que falo.
Harry apenas suspira.
-És louca e eu sou um assassino. É por isso que estamos aqui. Acostuma-te com essa ideia.
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Heyy,
Desculpem a demora, mas nós escrevemos cada dia um bocado do capitulo por isso demorou um pouco mais, sorry...
Love You All,
Mara
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Stuck In The Asylum| H.S
Fanfiction"No fundo somos todos loucos, inocentes ou humanos considerados mostros." Ele disse enquanto brincava com o cigarro entre os dedos. "Nem toda a loucura é real. Nem toda a inocência é sincera. Nem toda a injustiça é errada." Murmurei, olha...