Era uma vez... Um curioso.

Um colar de prata

Era um domingo, de manhã. Céu nublado, volta e meia uma garoa surgia. Um frio leve, que se intensificou com a massa de ar que colidia contra meu corpo, enquanto eu pedalava minha bicicleta amarela. A benzedeira, também conhecida por "velha que assobiava", morava fora da cidade. Já me enxerguei empestiado de lama, por conta da estrada de terra molhada.
Levei cerca de uma hora para chegar. A entrada era estranha. Árvores secas, ainda mais enegrecidas pela água, tinham em seus galhos adornos confeccionados com ossos e tiras de couro. Alguns cristais estavam presentes também. Já ouvi falar que alguns católicos se reúnem alí em frente, às vezes, para orar pela alma da velha. Eu, acho engraçado essa atitude. Será que é ela quem precisa de salvação?
Por mais repulsivo que fosse a vista, era um local completamente inofensivo. Então, tomei rumo até a moradia da benzedeira.
Batendo à porta, ela logo apareceu. Me cumprimentou, dizendo que meu rosto era familiar. Não por eu já ter posto os pés alí antes: mas por terem anunciado minha chegada, disse ela. Quem o fez, permaneceu um mistério.
E antes que pudesse abrir a boca, ela se retirou para uma pequena salinha. Retornou alguns minutos depois, com uma correntinha. Era prata. Polida. Eu reconheci de longe, pois, apesar de ter visto o metal somente uma vez na vida, fora uma das coisas mais belas que já pude tocar.
Sem cerimônia, me entregou o colar e disse para eu usar no pescoço e tomar cuidado com minha jornada. E também, para ter cuidado com o frio.
E a porta fechou em minha cara. Baita situação sem pé e nem cabeça. Me deixou um pouco aflito, confesso. Teria algum ser de outro mundo comunicado à ela meus planos? Talvez, um dia, eu descobrisse. Por hora, precisava retornar para casa, carregando cuidadosamente meu novo adorno.