Todos os dias, por um ano, meus pés me traziam de volta para este lugar.
Naquela época, ficar parada aqui era simplesmente reconfortante mas ao mesmo tempo angustiante. Eu não sabia o que esperar, já que, ao mesmo tempo que eu queria muito voltar para ver o Haku, tinha medo de me perder novamente naquele mundo, de nunca mais conseguir voltar para os meus pais. Mas mesmo assim, todos os dias depois da escola, eu vinha pra cá. Isso só foi terminar um ano depois quando Lúcia se tornou minha amiga e me arrastava para todos os lugares possíveis depois da escola.
E aqui estava eu novamente, 8 anos depois. Olhei uma última vez para trás, para a estrada que escorria floresta adentro, me voltei então para o túnel na minha frente, a brisa agora tinha se tornado vento como se me impedisse de entrar, respirei fundo aquele ar e entrei.
Enquanto andava, meus passos ecoavam no espaço vazio à minha frente, o vento voltou a ser brisa e fazia cosquinhas em minhas orelhas. Não sabia dizer se era o som do meu coração pulsando, o barulho constante em meus ouvidos, ou se realmente havia um tipo de tambor emanando esse som no fim do túnel. Continuei andando, ansiosa demais para retornar. Conclui decepcionada que o barulho era realmente o som do meu coração, esperava que fosse um tambor que indicasse vida mais adiante, porque talvez dessa vez eu conseguiria voltar... ou talvez seja que nem da outra vez, não haveria nada no final do túnel, só uma sala vazia.
Continuei andando até chegar num salão bem amplo, era a mesma estação de trem, mas não havia outra forma de sair, a não ser se eu voltasse pelo mesmo caminho que entrei.
Essa foi a segunda vez que isso me acontecia. A primeira vez foi há 7 anos. Alguns meses depois do dia que retornei, eu não suportava a ideia de não saber o que aconteceu com Haku então depois de muito tempo parada na frente do túnel eu finalmente entrei. Antes que eu mudasse de ideia, entrei correndo até que acabei tropeçando em um dos bancos e cai de cara no chão. Quando levantei, vi que não existia mais a saída de antes.Voltei chorando todo o caminho pra casa.
Dessa vez, achei melhor ficar um tempo perambulando por ali. Nada havia mudado, era como se o tempo parasse nesse lugar, os mesmos bancos, até o mesmo balde velho e sujo caido no chão. Havia uma janela no lado direito do salão, bem lá no alto. Me perguntava de onde vinha os raios de sol que entravam pela janela de vidraça colorida "Será de lá?" Não tinha como saber, não havia saída.
Resolvi então dar uma última volta pelo lugar antes de retornar por onde entrei, até que reparei em um tipo de amontoado de panos encostados numa parede. "Isso eu não lembro de ter visto aqui". Fui me aproximando devagar com medo de ser alguma espécie de animal que veio se abrigar aqui dentro. Agora perto o suficiente, eu conseguia ouvir a respiração mas ainda não entendia muito bem o que estava vendo, era grande, mas estava escuro. Quando eu já estava a poucos passos do que quer que seja, aquilo se mexeu. Tomei um susto e cai pra trás de bunda no chão, a criatura se levantou, e o que vi a seguir me assustou muito mais. “Era uma pessoa! Um garoto para dizer a verdade”.
Levantei o mais rápido que pude, mas não foi rápido o suficiente pois assim que dei o primeiro passo em direção ao túnel, senti uma mão puxando o meu braço para trás. Dei um grito, mas logo em seguida me virei para o garoto e abaixei com força a fim de me desvencilhar do aperto no braço, e assim que cheguei ao chão dei uma rasteira no garoto acima de mim, ele caiu com um baque seco no chão.
- Argh! - gemeu o garoto já no chão.
Sem tempo de olhar o estrago que fiz, me levantei rapidamente e corri em direção ao túnel sem olhar para trás, ainda tentando recuperar o equilíbrio. Antes que eu sumisse corredor adentro, ouvi o garoto gritando:
- Sen!!
“Sen?!”
Era assim que me chamavam na Casa de Banhos!” Depois que o meu nome foi roubado de mim pela velha bruxa, Yubaba, “Sen” se tornou o meu nome naquele mundo… Então como esse menino magricela pode estar me chamando assim?CONTINUA...
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Chihiro e a volta de Haku
Ficción GeneralChihiro está terminando o ensino médio com 18 anos e leva a vida de estudante de ensino médio não muito bem, até que um dia um mensageiro daquele mundo aparece do nada em sua casa lhe dando a impressão de que algo grande se aproxima. Será que ela r...