Narrado por Nicolas.
O dia amanheceu e eu ainda nem dormi, durante a noite fiquei rolando na cama, de um lado para o outro, até que desisti de tentar e fui de encontro com as minhas telas. Pintar sempre me ajudou com a insônia. Precisava colocar para fora o que estava sentido, e principalmente o que vinha ao meu pensamento sempre que os meus olhos se fechavam: A garota do lago.
Sua imagem era nítida, me perturbava. Ela lembrava um ser angelical, um anjo da água. Estava usando um vestido branco, que por estar molhado, se tornou transparente, o que me levou a fantasiar coisas que seriam proibidas no horário nobre da TV. Seus olhos eram encantadores, apesar de existir uma barreira invisível entre eles. Como artista aprendi a ler as pessoas através dos seus olhos, buscar vestígios, abrir uma nova janela para a alma, nela eu não consegui. Isso me deixa ainda mais atônito.
Já passava das 07:30 quando fui para o banho, rapidamente me vesti, não queria deixar ela me esperando. É mirabolante a forma de como isso me intriga, ela nem ao menos faz o meu tipo, em outro momento, da minha vida, eu nem a acharia atraente, pelo pouco que vi ela aparentava ser magra, um pouco mais do que o padrão ideal para a sua estatura corporal e isso estava longe de me encantar.
Pego as chaves, a carteira e uma jaqueta comprida estilo "trench coat" na cor preta e saio de casa. O trajeto até o centro não foi demorado, pelo contrário foi até mais rápido do que eu imaginei. Estaciono em uma vaga e vou a procura de um letreiro azul. Não demora muito até que encontre um lugar formidável, com mesas e cadeiras ao ar livre, havia também um pequeno palco improvisado, que provavelmente seria usado para apresentações de bandas da região.
Me sento em uma mesa, e espero. Uma moça de aparentemente vinte e cinco anos me entrega o menu, não que eu precise, já que só irei pedir um café. Analiso o cardápio como se estivesse interessado em algo, só para que pensem que estou ocupado, tenho esse leve costume por não querer interagir em público. Em minha profissão sou adepto a mesma técnica, uso o meu nome artístico e raramente apareço em minhas exposições, e quando apareço é de forma anônima.
Acabo de tomar a segunda xícara de café que havia pedido. Fish ainda não apareceu, o que me leva a acreditar que ela tenha me dado um bolo, e eu nem pedi um para o café da manhã. Ouço passos ao meu lado e viro o meu rosto rapidamente, a decepção em meu rosto é notável.
— Deseja mais alguma coisa, senhor? - A garçonete pergunta enquanto sorri.
— Desejo, mas aparentemente é impossível. - Digo.
O meu desejo era que Fish estivesse aqui, a parte do impossível é por ela realmente não estar.
— Posso ajudá-lo de alguma forma?
— Não.. espere, pode sim! Você conhece a Emília? - Pergunto.
O sorriso gentil que estava em seus lábios a poucos segundos atrás desapareceu completamente, dando lugar a um carranca. Falei algo errado? Me pergunto.
— Todos aqui a conhecem, no entanto, fique longe dela. Principalmente se o seu propósito for machucá-la de alguma forma. - Ela me fuzila com o olhar. - Era só isso, senhor?
— Eu não vou machucá-la, tenho um encontro com ela, aqui.
— Ah, bom. Sendo assim, ao que tudo indica ela não vem hoje, já que até agora não chegou para ensaiar. - Diz desconfiada. — E bom, não custa nada avisar, se caso a ferir, eu vou atrás de você onde quer que esteja. - Ela me dá um sorriso forçado e sai em seguida.
-Ok, então..
Aparentemente a Fish tem bons amigos. Se ela tinha um compromisso aqui, por quê não veio? E por quê me deixou plantado? Eu não deveria ir atrás dela, mas irei, não porquê estou com saudades e nem porquê eu quero vê-la, mas porquê ninguém me deixa esperando e nem me avisa sobre. Como ela iria avisar, seu idiota? Se nem o teu número ela tem. Droga.
Peço dois cafés para a viagem, um pequeno bolo e croissant. Dirijo até sua casa, pouco tempo depois e já estou tocando a campainha. Demora um pouco até que ouço a porta se abrir. Meus olhos se arregalam com o que eu encontro, ela estava com o rosto marcado (provavelmente de tanto dormir), o cabelo despenteado e bagunçado, estava usando uma camisola de seda branca, destacando as suas curvas magras.
— Que. diabos. você. está. fazendo. na. minha. casa? - Ela diz pausadamente. — E por quê ousou me acordar? - Me olha com fúria, mais um pouco e sairia fumaça de suas orelhas.
Não posso negar o quanto esse momento é cômico para mim, geralmente quando vejo uma mulher acordando, a mesma tenta se arrumar rapidamente para estar apresentável, corre para o banheiro e volta depois com a maquiagem retocada. Não deixo de sorrir com o humor matinal de Fish, ou melhor, com a falta dele. Ela é realmente encantadora mesmo que no momento esteja parecendo um espantalho raivoso. Bom, um espantalho raivoso com uma bela boca.
— Perdoe-me por ter a acordado, bela dama. Mas vim devolver o bolo que você me deu. - Entrego o pequeno bolo que comprei no restaurante e ela arregala os olhos, a fúria que a rodeava foi substituída por um olhar de "puts, esqueci."
Próxima cor.
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Obrigada por lerem!
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Entre cores
RomanceRodeado de cores, ofuscadas pelo seus olhos. ...... Todos nós, fazemos escolhas que nos levam a caminhos e histórias diferentes. Muitas vezes os caminhos se desencontram e o que parecia ser uma boa escolha, não era a melhor. Dez longos anos se passa...