III - Estrada

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Então, das sombras e das formas confusas de suas memórias, o mundo tomava novamente um formato. A primeira coisa que o loiro via era... Azul. Céu azul a perder de vista, como se a tempestade que derrubou ele do navio fosse não mais que um pesadelo já distante. Que viagem, ele pensava, tinha coca no meu café, será?

Aos poucos ele ia sentindo e absorvendo o mundo que se desfraldava a seu redor - tinha terra e um tipo de musgo embaixo de seu corpo, já sem os tênis e com as roupas rasgadas. A água gelada vinha a seus pés, voltava e subia de novo, dando arrepios em seus pés e quadril. Não demorava pra notar que estava com frio em tudo, completamente ensopado, e o sol a pino só servia para deixar sua pele ardendo, mas não ajudava nada no clima frio. Sal, areia e provavelmente algum peixe podre ou bosta de algum bicho - conhecia aquele cheiro bem demais. Estava em uma praia, ou algo bem parecido com isso.

Como que...?, pensava totalmente confuso enquanto se endireitava, concentrando força nos braços pra ficar mais ou menos sentado ali na borda da praia estranha. Não tinha... Nada ali. Tem nem um guarda sol pra eu não torrar a cabeça aqui, sério? Indagava a si mesmo, tentando raciocinar. Ao invés de pensar pra frente, tentava pensar pra trás.

Okay, o que tinha acontecido?

Estava tudo bem, até vir uma tempestade enorme do nada. Ela virou o navio, jogou todo mundo pra fora. Uma mulher estranha apareceu de repente e recepcionou ele? Algo assim. Então ele caiu na água e... Nadou. Tentou, já que apesar de morar perto do mar, nunca nadou no mar aberto antes. Já ouviu falar sobre como era, o que tinha que fazer, já que adorava andar de barco com os pais, mas na prática...

Por falar nisso, onde seus pais estariam? No navio, não tinha visto nenhum dos dois, então deviam estar no porão ou no deque inferior. Se ficaram presos enquanto a coisa toda afundava... Não queria nem pensar. Com sorte, ainda poderia achar eles ou alguém da tripulação mais tarde, depois de descansar e se secar em algum lugar. Tinha o corpo todo instável e dolorido, gelado, o suficiente para deixar a preocupação pra mais tarde.

Bem, alguma coisa ele fez certo, já que estava ali vivo. Isso é, se é que estava vivo mesmo, e aquela ilha esquisita não era o mundo dos mortos de alguma religião maluca que estava certa ao invés dos católicos. Eduardo coçava a cabeça, olhando aquela imensidão de marrom, cinza e verde.

Parecia que ele estava na realidade na beira de um rio, ou de um daqueles fiordes dinamarqueses. Mas ali com certeza não era a Dinamarca, parecia bem mais selvagem e nem neve tinha. Bem, lá no fundo, pequeno, ele podia ver o que parecia ser uma torre - e depois de um tempo encarando ele percebeu que era na realidade um farol. Apagado, largado, mas era um farol.

A vista da praia

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A vista da praia. Ed depois dessa confusão toda procurou o lugar no Google Maps.

Ótimo, posso largar a vida de cachorro molhado agora, brincava pra si enquanto se levantava com esforço e obrigava o corpo trêmulo e gelado do vento frio a caminhar na direção da construção. Algo humano era algum alívio, tinha uma boa chance de ter alguém lá dentro, ou pelo menos um rádio funcionando para ele poder conseguir ajuda e sair daquele lugar. Não pretendia ficar, e se Deus quisesse teria algum jeito de ir pra casa dali.

As Crônicas de Aetheria - A Espada das ChamasOnde histórias criam vida. Descubra agora