Oak acordava para mais um dia em sua pequena cidade. Era uma manhã agradável, o sol brilhava e a brisa assobiava a seus ouvidos. Ele olhava pela janela, nela se encostando para admirar o vilarejo de Hearthréna.
Era um lugar relativamente pequeno, se comparando aos lugares que via e lia nos livros de história, e as pessoas da taverna contavam ao ditar seus causos e andanças. As Terras Queimadas eram vastas, e mais ao centro do reino havia cidades enormes, repletas de casas imponentes de telhados curvados, templos altos como se alcançassem o céu, palácios de marfim vermelho e escamas de dragão... Era o que diziam, pelo menos. Oak Briar era um homem pequeno e simples, e nunca tinha saído de seu pequeno e simples vilarejo de casinhas marrons.
Como em muitas de Hearthréna, sua casa era de madeira escura, as portas de um papel resistente que deslizavam para o lado, dando lugar de seu quarto para a sala, onde Mahogany preparava ovos com uma saborosa fatia da carne de porco que compravam na semana. O alto salamander ia até sua esposa, envolvendo seus braços na cintura dela e beijando sua bochecha. Seu rosto ficava quase da mesma cor que seus cabelos, castanho avermelhados.
- Bom dia, dorminhoco! Bom te ver de bom humor tão cedo - Sua voz era doce, parecia igualmente feliz e surpresa com a presença dele e esse cumprimento caloroso.
- Como não ficaria? Tenho uma casa ótima, café da manhã quentinho... - Começava o homem, os lábios tocando gentilmente as orelhas pontudas e felpudas de sua companheira - ...e uma família linda, que logo vai ficar maior ainda.
Com essas palavras, o homem pousava as mãos bronzeadas e cheias de calos sobre a barriga redonda e inchada de Mahogany. A morena pousava a dela, pálida e delicada, sobre a dele. Em seus lábios surgia um sorriso orgulhoso. Sabia que o marido queria muito um filho, um evento muito raro entre os de sua raça. Fazia o que, trinta anos que esperavam? Era difícil saber. Estavam juntos a tão pouco tempo...
- Como está nossa menina, Maggy? - Perguntava curioso, os dedos deslizando sobre o vestido azul da esposa. Ela o olhava bem, os olhos dourados encontrando os castanhos, antes de responder.
- Forte, e teimosa igual ao pai. Já me deu vários chutes - As palavras dela se juntavam a uma risada, ao passo que Oak beijava seu pescoço para a provocar pela brincadeira.
- Nossa Pine será uma grande guerreira então. Quem sabe não chama a atenção do lorde Ember? - Falava inclinando a cabeça um pouco, e logo sentia um chute vindo do bebê - Caramba, como é forte!
- Eu avisei - Retrucou a mulher num tom divertido, provocando risadas no casal, que logo se seguiam a um beijo apaixonado.
Os dois haviam se conhecido a vários anos, o que para fadas como os Salamander era o mesmo que alguns meses. Mahogany e Oak eram um casal de recém casados feliz, com uma vida alegre e longa pela frente. Cada manhã ensolarada em que o marido ia para a floresta cortar árvores, enquanto a esposa preparava a comida e cuidava da casa, era como uma pequena vida que corria. Não tinham preocupações maiores que as farpas e arranhões ocasionais do macho, as dores e contrações da fêmea. Coisas pequenas, de pessoas pequenas.
Tão pequenas que, como formigas compenetradas em servir seu formigueiro, nunca poderiam ter visto o que se aproximava no horizonte.
Após o café, Oak andava até o canto da sala e pegava seu machado. Uma peça simples, um cabo de madeira avermelhada, uma cabeça de aço sólido. Nem muito pesado, nem muito leve. Uma ferramenta para cortar árvores e lenha, nada mais que isso. Ele a prendia no coldre do cinto, trocava de roupa para um gibão avermelhado, os longos cabelos castanhos presos em um rabo de cavalo para não atrapalhar seu trabalho. Com um sorriso e um beijo suave, se despedia de sua querida Mahogany, de seu bebê ainda não nascido, e partia para mais um dia de trabalho.
VOCÊ ESTÁ LENDO
As Crônicas de Aetheria - A Espada das Chamas
RomanceEduardo Silveira é um rapaz distinto. Cabelos loiros demais, olhos azuis demais, e todo um ar estrangeiro. Nascido e criado no Rio, sempre teve uma afinidade com coisas esquisitas... coisas de fora. Como se seu lugar não fosse ali, e sim em outro lu...