Capítulo Único

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Felizmente era verão, a época do tempo quente e ar seco. Se fosse diferente, provavelmente, Gwyneth não estaria ali, muito menos teria passado os dois dias que ficou naquele solo. Seus olhos azuis esquadrinharam a área, notando como a noite caía mais uma vez sem lhe dar respostas.

Talvez fosse a hora de ir, o tempo de desistir daquela empreitada perigosa e confusa. Já fazia dois anos da morte de Catrin, sua irmã-gêmea. Vinte e quatro meses sem a companhia afável e única da pessoa que mais lhe importava.

Há dois anos Gwyn Berdara se encontrava sozinha, mas ela era teimosa demais para aceitar isso. Tão teimosa que nem mesmo a morte poderia parar seus ímpetos. Ela queria e precisava de sua irmã. Sabia que conseguiria isso, de uma forma ou de outra.

Esfregando o rosto cansado, Gwyn observou a roda grande de velas acesas. Depois de dois dias, somente uma ainda tremeluzia confiante e orgulhosa. Aparentemente seu chamado não seria ouvido e o livro que havia roubado se tornaria só um desperdício.

Mas isso não importava, porque ela tentaria de novo e de novo, até que alguma criatura elemental escutasse seu desespero. Gwyneth daria qualquer coisa por sua irmã de volta.

Olhando ao redor, a noite se estendeu como um manto no céu. O suspiro cansado de Gwyn demonstrava todo tempo gasto ali, assim como o fio de esperança que era desprendido naquela ação. Percebendo que deveria aceitar o fracasso, Gwyn levantou e ajeitou o vestido branco e solto que ia até os pés.

O último fogo se apagou, o derradeiro rastro de calor na noite que já soprava o ar frio. Gwyn segurou o ímpeto de chorar. O vento do norte balançou seus cabelos e o cheiro de grama e terra inundou seus sentidos, mas ela não poderia aproveitar nada disso, não quando metade do seu coração estava apodrecido.

Ela se virou, ouvindo os cascalhos do mato se tornarem mais fortes. Seus passos vacilaram antes do ar sussurrar em seus ouvidos alguma coisa que ela não conseguiu entender.

Seu corpo se tornou mais ereto, a concentração afiada, pois naquele som suave parecia haver alguma centelha de humanidade.

— Olá — disse baixinho, sua razão sabendo que não seria ouvida, mas esperançosa demais para não tentar.

O ar assobiou uma resposta fraca e inteligível, fazendo Gwyn retornar seus passos. Outro dia, outra noite e ela conseguiria. Desistir não estava em seu vocabulário, não quando a solidão parecia ser capaz de consumir sua carne e ossos. Mas, por hora, retornaria à pequena vila.

Um estalo despertou novamente sua atenção. A floresta parecia querer brincar com as percepções da jovem. Primeiro o vento que se assemelhava ao sussurro de um homem e, então, o galho caindo, facilmente confundido com passos firmes.

Ela ignorou, porque estava cansada de sinais vazios. Aqueles a quem chamou haviam a abandonado em sua dor e desespero. Na verdade, se a lenda dos homens fosse real, os seres de escuridão tinham há muito esquecido de seus brinquedos: os humanos.

Gwyn andou um pouco mais, observando que era uma noite estranhamente escura, até mesmo a lua e as estrelas se escondendo por trás de sombras. Talvez não tivesse sido a melhor noite para ir embora, mas duvidava que ficar em uma floresta tão escura seria uma escolha muito melhor.

Seus olhos, conhecidos por carregarem um aspecto líquido, como se olhar para eles fosse o mesmo que admirar a água trêmula, inspecionavam cada canto do local, como se visse aquele caminho pela primeira vez. Pudera, era realmente uma primeira vez, pois não se lembrava daquele trajeto ter sido alguma vez tão escuro.

Assim como não entendia o porquê de estar abraçando seu corpo, tentando extrair um calor que seu inconsciente sabia não conseguir. Quando percebeu que seus dentes tremiam devido ao frio, Gwyn acreditou ter morrido durante o sono na floresta, porque sua mente gritava que nunca um dia de verão poderia se tornar uma noite tão gélida.

Se lembre de mim (Gwynriel +18)Onde histórias criam vida. Descubra agora