Capitulo 4 - GuOr

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O tempo nunca foi um problema para nós nem chegou a causar grandes preocupações, mas eu sabia que cada minuto que levamos para chegarmos em Stravera diminuem as chances de sobrevivência da humana

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O tempo nunca foi um problema para nós nem chegou a causar grandes preocupações, mas eu sabia que cada minuto que levamos para chegarmos em Stravera diminuem as chances de sobrevivência da humana.
Assim que retornamos à nave, eu a coloquei na cama e entrei em contato com Odon. Ele me orientou em como cuidar da perda de sangue ao levá-la ao tubo de higienização junto comigo e usar o equipamento e outros itens de primeiros socorros para amenizar os danos até voltarmos ao nosso planeta.
— Por quanto tempo você vai insistir nisso?
A pergunta irritante de Aaron não desvia um segundo a minha atenção do que estou fazendo, passando a luz de calor pelo corpo da humana para mantê-la aquecida. É uma sorte que ela ainda esteja inconsciente, ou sentiria dores terríveis agora, por ter tantos ossos do corpo quebrados.
Para o general, sua inconsciência e nula reação aos meus cuidados é apenas mais uma resposta de que não há salvação para ela. Mas a C002 ainda está respirando, e enquanto ela estiver respirando vou fazer o impossível para que assim continue.
— Ainda que ela consiga ficar viva até...
— Aaron, se não vai dizer nada que possa ajudar, pode ir embora. — Finalmente me viro para ele com o olhar furioso. — Você não se importa, não é? Quer apenas se livrar do fardo.
Aaron não pode negar. Apesar dos meus motivos serem completamente diferentes dos que usei para fazer essa viagem à Terra, eu não estive completamente errado. Aaron é tão resistente à ideia de ser obrigado a se unir aos humanos, que agarra qualquer oportunidade de ter que adiar a missão.
— O ordo não vai durar muito tempo. — Ele indica o bastão brilhante em minha mão.
O ordo, instrumento feito de cristais e arein, não é apenas um cubo de luz, em seu interior contém litássio. Os raios lasers que ele emite têm poder curativo na pele machucada. Só que a C002 tem feridas internas e profundas, os seus ossos precisam ser colados, a carne costurada e a infecção que começa a surgir precisa ser tratada com medicamentos e toda a tecnologia que só vamos encontrar no hospital em Criso.
— Ainda temos algumas horas até pousarmos em Stravera. Sem o ordo, e caso o corpo dela baixe a temperatura...
— Então eu a manterei aquecida com o meu corpo. — A minha afirmação dura leva surpresa ao seu rosto. — Agora saia daqui, Aaron.
Ele não entende por que eu luto tanto por um caso perdido. Tem a ver com uma humana, mas não com essa, desacordada ao meu lado, mas com a que havia se tornado nossa rainha e fazia do nosso rei alguém muito mais feliz e realizado.
Lembro-me de uma de nossas conversas, quando Meredith tentou fugir do planeta e, em vez de puni-la, Eiyrus havia ficado ainda mais admirado por ela.
"Imagine se fosse um de nós em outro planeta. Sozinho, com medo, perdido..."
Ferido.
Não dá para lutar contra seres maléficos como os harkeryanos e agir como eles. Meredith trouxe de volta o que há bastante tempo havíamos deixado de lado: a bondade.
— Faça como quiser. — Ele desiste, soltando os braços ao lado do corpo. — Espero que tenha sorte.
Eu não preciso de sorte, mas que cheguemos à Stravera o quanto antes.
— Aaron?
Ele se vira assim que a porta termina de ser aberta.
— Deseja que ela morra?
Os problemas dele, pelo menos em relação a esta humana, estariam acabados.
— Não, eu não desejo isso, GuOr.
Apesar da expressão dura, vejo sinceridade em seu olhar, e isso suaviza um pouco toda a minha irritação com ele.
— Eu só não acredito que ela vá conseguir sobreviver, como você acredita.
Não é que Aaron seja completamente ruim. Só três coisas estão acima dele mesmo: Stravera, o rei e a rainha e seu irmão, Odon. No restante, ele é um soldado, o general, e procura sempre ver as coisas com frieza.
— Eu sei que ela vai. —O meu olhar se desvia para a humana imóvel ao meu lado.
Ela tinha que ficar viva, porque...
— Peça que os pilotos aumentem a velocidade.
— Já estamos usando quase que toda a nossa potência.
— Então utilizem-na toda.
— Nós vamos passar pela zona de instabilidade dentro de alguns minutos. Se formos rápido demais, podemos nos chocar contra detritos ou, pior ainda, chamar a atenção dos harkeryanos. Sabe que essa é uma área vigiada por eles.
— Seus pilotos são os melhores. E se os harkeryanos quiserem brigar, vamos lutar com eles. — aviso, ficando de pé.
Tenho poucos centímetros a mais que Aaron, mas não são minha estatura e todo meu porte físico que o fazem me encarar com respeito, mas sim a determinação com a qual o encaro.
— Você sabe que depois do rei e da rainha...
— Já entendi, GuOr. E espero que você não esteja errado e nem que nos leve todos à morte.
Ele não usa a porta que havia aberto, em vez disso, se transporta para a sala de comando.
Retorno à cama e vejo que o ordo tem somente mais alguns minutos de utilidade. Eu preciso fazer o que disse a Aaron, manter a humana aquecida usando o meu próprio corpo. Digito os códigos no dispositivo em meu pulso e faço o macacão aumentar a temperatura. Em seguida, retiro as minhas botas e me deito de lado, abraçando o corpo apenas o suficiente para que ela comece a receber o meu calor, e não que a esmague com meu peso.
A C002 se mexe apenas o que o corpo machucado lhe permite, e seus olhos claros se abrem, fixando-se em mim. Prendo a respiração, esperando o momento que ela irá começar a gritar e a se debater, o que só vai piorar sua condição física, mas, para a minha surpresa, o rosto, que há instantes esteve marcado por expressões de dor, começa a se iluminar com o sorriso que ela me dá.
— Angel...
O sussurro mal sai de sua boca antes de seus olhos começarem a se fechar novamente e ela cair na inconsciência.
Anjo. Eu não acredito que ela esteja se referindo a mim. Talvez estivesse tendo algum tipo de alucinação.

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