Ela despertou sem compreender exatamente o que estava acontecendo. O quarto estava silencioso e quase totalmente escuro, não fosse aquele feixe de luz que já era habitual. Clara dormia tranquilamente, e Heloísa franziu a testa, tentando entender o que havia interrompido seu sono. Um movimento anormal ao lado dela na cama fez com que Heloísa se virasse para Leônidas.
A proximidade das últimas semanas fazia com que ele não dormisse mais tão encolhido na cama deles. Vez ou outra, se um deles se mexia demais, seus corpos até se esbarravam fazendo Heloísa prender a respiração. Mas naquela noite Leônidas estava de costas para ela, seu corpo envolvido por pequenos tremores enquanto ele tentava puxar as cobertas em seu sono.
Foi aquele o movimento que a despertou, ela percebeu. Sem querer, Leônidas puxava as cobertas e as tirava de Heloísa. Mas aquele tremor não era normal, e Heloísa sentou-se na cama rapidamente, levando a mão ao rosto do marido. Leônidas queimava em febre e só agora ela percebia o corpo dele coberto de suor.
- Leônidas? – ela o chamou. – Leônidas?
Ele abriu os olhos, assustado, virando-se para ela de súbito.
- Heloísa? – ele resmungou.
- Você está ardendo em febre. – Heloísa disse, suave. – Está sentindo alguma coisa?
- Frio. – Leônidas respondeu, confuso. – Muito frio.
Leônidas sentou-se na cama, passando a mão pelos cabelos úmidos.
- Senti muita dor no corpo durante o dia. – os olhos dele encararam os dela no escuro. – Deve ser um resfriado. É melhor eu ir para o quarto de hóspedes.
Heloísa o impediu antes que Leônidas pudesse se levantar, levando a mão ao peito de Leônidas.
- Não diga bobagens. – ela sorriu. – Eu vou pegar um antitérmico, e você deveria tomar um banho para baixar a febre.
- Não quero que você ou Clarinha fiquem doentes, minha rosa.
Heloísa suspirou. Ele tinha alguma razão. Também não queria ver Clara doente. Mas a única alternativa seria colocar a filha no quarto das gêmeas e pedir para que Violeta ficasse de olho. E torcer para que Matias não chegasse perto da filha. Ela viu Leônidas fechar os olhos e encostar a cabeça na cabeceira da cama, e respirou fundo.
- Vou pedir para que Violeta fique com a Clara. – disse, decidida.
Ele suspirou, sem realmente ter ânimo para uma discussão.
- Como preferir, minha rosa. Eu vou tomar um banho morno.
Ela assentiu, e tirou Clara do berço com delicadeza. Leônidas cuidava dela e de Clara todos os dias, e era o mínimo que poderia fazer por ele. Ainda assim, a ideia de pedir para que Violeta cuidasse de sua filha com Matias parecia pavorosa. Não que a irmã suspeitasse, muito menos se negaria. Violeta amava Clara. Era Heloísa quem não conseguia lidar com a culpa.
Ainda assim, bateu na porta da irmã, que não demorou para atender. Uma breve explicação e Heloísa estava entregando a filha nos braços de Violeta. Retorno ao quarto, preparou o remédio para Leônidas, e esperou que ele voltasse. Quando retornou, com a luz acessa, Leônidas parecia realmente abatido. Estava pálido e seus olhos estavam caídos.
- Sente-se melhor? – perguntou, sendo respondida por uma careta.
Observou Leônidas tomar o remédio e logo ele deitou-se novamente ao lado dela. Instintivamente Heloísa levou a mão à testa dele. Parecia menos febril, mas ainda estava bastante quente. Ele sorriu, virando-se para ela. Era um novo hábito aquele, quando cada um deitava em seu travesseiro e seus olhos se encontravam.
