Joui Jouki

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    O sol estava a ponto de se pôr e o céu estava com nuvens carregadas. Estava com uma cara de que iria chover, mas, mesmo assim, eu tive que vir. Já fazia tempo demais e estava aguardando ter tempo pra isso a séculos. Andei até avistá-los ao longe. Cheguei até eles, me acomodei na grama e dei um sorriso meio tímido. Não sabia bem como começar a conversa.

    — Oi. Saudade de falar com vocês, sabe. Aconteceu muita coisa depois da nossa última missão. Aprendi a atirar com arco e flecha, foi bem legal e é uma habilidade muito incrível. Tenho certeza que você vai gostar, Sensei. Qualquer dia desses, eu te mostro. Eu uso a katana, ainda. Um dia desses degolei um ocultista com ela, foi descoladíssimo. Queria que tivessem filmado, pra eu mostrar. Se bem que eu acho que alguém me impediria. Igual quando a Liz não me deixou gravar você fazendo alguma coisa, mas eu tirei aquela foto incrível do Cris com o zumbi de sangue. Ele saiu meio torto e mesmo assim ficou legal.

    Meus dedos brincam um pouco com a grama verde e olho para baixo por um tempo.

    — O Cesar, Kaiser, na verdade, ainda tem essa foto. Fica na mesa dele. Ele está com um cabelo enorme e deixou a barba crescer, ficou muito legal. Agora ele anda para todos os lados com aquela câmera pendurada no pescoço. Tenho quase certeza que ele tira fotos nossas quando não estamos vendo. Na verdade o Kaiser sofreu um acidente, a gente quase perdeu ele. Agora ele ganhou uma cicatriz enorme, parecida com a do Cris. Deve doer muito, olhar no espelho e acabar lembrando do pai. Igual... — olhei para a bainha com a katana que havia colocado ao meu lado. Limpei a garganta e continuei falando. — O Arthur também mudou um pouco. Ele cortou o cabelo e ta um pouco mais forte. Acho que ele conseguiu voltar a tocar violão, com muito esforço. Eu não sei ainda como eles estão, na verdade. Quando eu acabei me afastando, eles acabaram se aproximando mais e eu voltei a pouco tempo, não sei de tudo o que está acontecendo com eles ainda.

    Arranquei uma das graminhas e tentei tirar a terra das minhas mãos. Limpei a garganta e continuei:

    — Mas eles estão bem, a Ivete ta cuidando bem dos dois. Estamos em uma missão agora. Tem um pessoal novo na equipe, para mim eles são novos. Uma novata, o nome dela é Beatrice. Ela parece ser bem legal e tem um pássaro chamado Orfeu que é bem fofo. O Tristan que já era da ordem e que tenho certeza de que você adoraria ser amigo dele, sensei, e sei que a Liz concorda comigo. — solto um riso fraco — Tem esse Luciano ou Fernando. Aparentemente, eles são a mesma pessoa. Eles são casados, sofreram um ritual e o Fernando ficou preso no corpo do Luciano. É complicado. Tem o Dante também, ele é um ocultista. A equipe não sabe direito se pode confiar nele, mas eu acho que ele é do bem. Espero de verdade que ele seja. — bufo e reviro os olhos — A única coisa que me incomoda nele é essa aproximação com o Kaiser e o Arthur. Ele foi dormir na casa deles e nem me chamaram. Você consegue acreditar nisso, Liz? E ele tem alguma coisa com a Beatrice. Eles são irmãos, só que não de sangue. Eles conheceram o Arnaldo também.

    Paro por um momento e encaro o sol se pondo e aquele céu laranja, meio ruivo até. Dou um sorrisinho sem graça de lado.

    — E tem essa garota. O nome dela é Erin Parker. Ela é muito descolada. Faz umas granadas caseiras e desenha nelas. Sem contar que dá nome para cada uma delas. Ah, e para o seu desespero, Thiago, ela tem uma espingarda — solto uma risada e um suspiro sai de mim, sem querer — Ela é muito legal. Tenho certeza que vocês gostariam de conhecer melhor todos eles.

    Sinto uma gota gelada bater em meu ombro e um nó se forma em minha garganta. Será que eu deveria falar? E se eles não aprovassem? E se eles não concordarem e falarem que não fui bom o suficiente e que só pioraria as coisas? Apesar disso, eles precisavam saber. Respiro fundo e sinto mais uma gota cair em minha testa.

    — Eu fiz uma coisa. Uma coisa que talvez vocês não se orgulhem. Mas foi necessário. Foi um meio que eu achei pra resolver uma besteira que eu fiz. Eu não acredito que fui tão idiota pra fazer uma coisa dessas. Vocês tinham que me ajudar...

    Então um vento frio me atinge e a situação que me encontro vem à tona. Encaro as lápides à minha frente. Chego mais perto e me encosto na da Liz. Sinto meus olhos marejados e me abraço.

    — Se vocês estivessem aqui, isso não teria acontecido... — a chuva aumenta e algumas lágrimas descem — Sinto falta de falar com vocês, pais.

Depois da chuvaOnde histórias criam vida. Descubra agora