Vila iluminada

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Capítulo 4

O céu aqui é com certeza mais estrelado do que o da cidade.

Eu não podia evitar de olhar pra cima que nem uma boba contando as estrelas enquanto caminhava lado a lado a um garoto que eu mal conhecia em direção ao vilarejo.

— O que tem de tão especial aí em cima? — O garoto ao meu lado perguntou, virando seu rosto para o céu e observando as estrelas junto a mim.

— Não tá vendo? As estrelas!

— Bom, elas sempre estão aqui de noite. — Ele fala com indiferença enquanto abaixa o olhar pro meu rosto.

— Sim, óbvio, mas é que eu venho de uma cidade grande, então de tanta luz elétrica que tem acaba que não dá pra ver as estrelas. — Completo, olho pro rosto dele também. — São muito bonitas.

— É, também tem isso… mas não me impressiona muito. — O garoto dá de ombros, continuando a andar.

— O espaço tá sempre em expansão, então eu já acho incrível. — Dou de ombros.

— É, né? Eu até esqueço disso às vezes.

— Aham… — Sorri.

— Bom… aqui é a vila. — Diz ele assim que passamos por algumas pequenas residências. — Digo, essa parte é mais legal de dia… — Camilo prosseguiu. — Aqui acontece a feira, é bem legal, vem daqui até o centro da vila, na praça principal. — Eu olhava cada canto daquele lugar, Tinham algumas lojinhas fechadas com segundos andares de luzes acesas, provavelmente com uma casa em cima do loja. — Ali tem o ateliê da Dona Marieta, do lado da loja de tecidos do Afonso. A mercearia do 'seu Antoni, aqui de dia fica a banquinha da dona Júlia… — Ele vai citando. Algumas pessoas passavam na rua e o comprimentam com acenos a balançares de cabeça. Alguns olhares caiam sobre mim e também me comprimentavam gentilmente, mesmo sem saber quem eu sou. — Vão fofocar sobre você amanhã… — Ele fala baixinho ao pé do meu ouvido.

— Ãh?

— Boa noite, José! — Ele comprimentam outro homem super alto que passou por nós. — Ah, é que… — Ele olha ao redor, agora estávamos sozinhos andando pelas ruas largas. — Você é nova aqui, ninguém te conhece… e a cidade é bem pequena, a notícia corre rápido. Eu só não sei se vai ser fofoca boa ou ruim. Ou os dois.

— É? Bom, como eu costumo ouvir e dizer: "falem bem ou falem mal, mas falem de mim." — Ri — E como seria? 

Pergunto sorrindo, olhando ele de canto de olho. Em um pulo ele passa na minha frente, primeiramente se transformando em uma senhorinha mais velha.

— Vocês viram a noite passada? O Camilo estava andando sozinho com uma moça aqui na vila! Sozinhos e de noite! Será que a Alma sabe disso?! Que absurdo… esses jovens de hoje em dia, cada vez mais sem pudor! — Ele imita a senhorinha  de forma brava e indignada, me fazendo rir.

Ele se transformou novamente, em um rapaz mais ou menos na minha faixa etária.

— Você viu a moça bonita que o Camilo estava ontem à noite? Deve ser nova na vila, e o Camilo não perde uma! Ele é tão sortudo… — O garoto chuta uma pedrinha na rua.

Ri novamente, ele já estava pronto para se transformar de novo, mas eu comecei a falar.

— Não perde uma, é? — Olho ele de cima a baixo com um sorrisinho maroto. — Então o Sr.Madrigal é um galanteador?

— Que isso… — Ele ri sem graça, voltando ao normal e desviando o olhar e brincando com a franja de sua ruana. — Eu só sou gentil, sei o nome de quase todo mundo da vila, então as garotas ficam comentando de mim… M-mas eu não sou esse tipo de homem! Não me aproveito da situação.

Ri, achando a vergonha dele fofa. Eu até entendia as tais garotas, digo, ele já é bem bonito, os cabelos cacheados, a pele parda, as sardas… são realmente adoráveis, e se ele ainda sim tem caráter já é um combo em tanto.

— Não precisa se justificar, garanhão. —  Tomei a liberdade de apoiar meu braço no ombro dele, já que não temos tanta diferença de altura. — Eu também tinha minhas famas nessa época… digo, eu me sinto velha falando assim, ignora.

— Você tem quantos anos? — Ele me encara, e logo repensa. — Desculpa! Eu não devia perguntar isso pra uma mulher.

— Ah, que isso, eu não tenho vergonha não. Tenho 19, vou fazer 20.

— Oh, é mais velha que eu…

— Tem quantos?

— 17. — ele fala orgulhoso de si mesmo.

— É um moleque então? — Ri

— Ei!!! Eu já sou quase um adulto!

— Ah, beleza. — Zoei ele.

Ficamos conversando por mais um bom tempo, sem nos importar muito com o horário. Conversar com ele era bom, dividimos várias coisas independente da diferença de época e idade, riamos das idiotices um do outro, e ele sempre se transformava pra imitar alguém e me fazer sorrir, e eu não podia negar que encher o saco dele era muito divertido.

Por fim, voltamos a "casita", que de "ita" não tinha nada, era gigantesca.

— Demoraram… — A voz de Dolores se fez presente ao nosso lado assim que pisamos no pátio, não pude negar que me assustei, tanto que coloquei uma mão no peito e outra no ombro de Camilo — Onde estavam?

— Por Deus, Dolores… — Murmurei baixo, mas Camilo parecia estar acostumado com isso.

— Caminhando, Dolores. Você sabe muito bem. — Disse Camilo.

— Ahhh eu queria mais detalhes, vocês estavam rindo tanto… Enfim! Estão quase atrasados pro jantar.

— O que?! NUNCA! — Por fim Camilo saiu correndo, deixando eu e Dolores pra trás

— Esfomeado… — Eu e Dolores dissemos em uníssono, rindo leve em seguida e andando pra dentro também.

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⏰ Última atualização: Jun 02, 2022 ⏰

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Meant to be - Camilo MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora