Mandalas bordadas

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Capítulo 3

Então essa é a família Madrigal?
Eu sinceramente já gostava do sobrenome, soa bem, mas a história é realmente um milagre, emocionante. Infelizmente ainda não conheci toda a família, aparentemente ainda faltam a Senhora Alma e Luísa, que já parecia incrível só pelo o que eu escutava sobre ela.

Nesse momento eu estava no quarto de Mirabel, vestindo uma saia que ia até meus tornozelos que Dolores trouxe pra mim e uma blusa branca com mangas ciganas. A saia era bordada a mão por Mirabel, ou pelo menos foi isso que Dolores me falou quando eu perguntei sobre as mandalas vermelhas que iam da barra da saia até o meio dela, sumindo aos poucos.
Me encarava no espelho, olhando como eu tinha ficado, dando voltinhas. Eu realmente gostei do caimento, a saia era leve e rodava lindamente apenas nessas voltinhas que eu dava, e eu provavelmente não sentiria ela no calor daquele lugar. Dolores também tentou me convencer a usar ceroulas, mas neguei com o argumento de que ninguém ia olhar embaixo da minha saia.

— Ficou linda. — A voz suave de Dolores veio de encontro aos meus ouvidos, estava realmente gostando de escutar a voz dela.

— Obrigada, eu também gostei. — Coloco o cabelo atrás da orelha.

— Não pode ficar descalça, não é? — Olho o sorriso meigo da garota pelo reflexo no espelho. Ela estava com as mãos para trás, mas logo levou suas mãos para frente, mostrando um par de sandálias vermelhas. — Veja se serve. — Ela veio até mim, me entregando as sandálias.

— Valeu. — Sorri para ela, pegando os calçados e me sentando aos pés da cama do quarto, o quarto que eu tinha acordado naquela casa, e calcei as sandálias. — Ficaram ótimas!

A garota repousou suas mãos na parte da frente do corpo com suavidade.

— Então… — Tento puxar assunto. — Você escuta tudo? Tipo, tudo mesmo?

— Sim, mas só até uma certa distância… o suficiente pra ir além da vila toda.

— Que legal! — Sorri, mas logo penso um pouco. — Na verdade… pode ser meio ruim às vezes, né? Pessoas gritando, comentários maldosos, sem um segundo de paz… eu não aguentaria! A quanto tempo tem esse "dom"? — Faço aspas com os dedos.

— Ah, dês dos 5 anos, todos ganhamos o dom aos 5 anos, só a Mirabel que não ganhou o dela. — Ela se sentou ao meu lado. — Mas é realmente horrível às vezes! Eu escuto tudo e todos o tempo todo… bom, menos quando eu estou no meu quarto, felizmente ele é aprova de som.

— Pelo menos isso. — Ri pelo nariz.

— Mas não é de todo mal… — O não
rosto da garota ficou levemente rosado enquanto ela olhava para as próprias unhas pintadas de vermelho. —  Com ele, eu pude escutar o Mariano Guzman fazer poemas todas as noites, e fui me apaixonando por ele, e hoje em dia somos noivos. — Ela riu baixinho, meio boba em falar no noivo.

— Así que esta mujer está enamorada, ¿eh? — Botei a perna direita meio dobrada em cima da cama, olhando diretamente pra ela. — Que lindo, oh! O amor! — Brinco divertidamente. — Agora quero conhecer esse tal de Mariano, você não parece uma mulher fácil e vil.

— Quando eu me declarei pra ele, ele já estava me chamando de noiva! Consegui enrolar ele só por 2 anos. — Me permiti rir.

— Quando eu tinha 14 eu enrolei o menino que gostava de mim por uns 2 anos também antes de começarmos a namorar. — Ri enquanto falo. — Tadinho, enrolei tanto ele… aí aí… mas terminamos a uns anos, então tanto faz. — Dou de ombros.

— Não tem necessidade da gente fazer isso, mas o prazer de enrolar um garoto assim é algo indescritível — Ela comentou, se levantando. — Bom, de qualquer forma, podemos conversar mais lá em baixo, junto da família. — Ela anui, voltando a sua pose habitual. — E junto da incrível comida da Tía Julieta, você deve estar faminta! Só comeu uma arepa quando chegou aqui e agora já está entardecendo. — A frase me fez olhar pela janela, vendo o céu mais alaranjado, escurecendo aos poucos. — Vamo, Abuela já está chegando, consigo ouvi-la conversando com Luísa.

— Certo! — Me levantei rapidamente, e nem pensei em recusar a comida por educação, estava quase morta de fome. — Aqui parece ser um lugar bem animado, quero conhecer a vila, se der tempo hoje ainda vai ser ótimo… eu estudava história e arte na faculdade, então é uma experiência totalmente real pra mim, já que eu só via essas coisas em livros. — Encaro meus pés, pensando de forma positiva e meio abobada.

— É? Talvez alguma das minhas primas ou os meus irmãos possam te mostrar. — Fomos conversando enquanto descíamos até aquela cozinha novamente, e como anteriormente, os olhares se voltaram para mim, mas agora sem pena ou estranheza.

— Oh! Ficou linda! — Julieta comenta assim que eu entro.

Nos juntamos na sala de jantar, conversando sobre diversos assuntos banais pra descontrair e eu me enturmar. Ficamos um bom tempo nisso, até escurecer e escutarmos a porta de frente abrir e a Casa se animar. Todos já sabíamos quem eram, então nos levantamos e fomos até o pátio para recebê-las.

A idosa passando pela porta não me impressiona nada, aparentemente uma velha comum, mas tenho que assumir que Luisa é linda, mulheres bufadas são um dos meus pontos fracos.

— Essa é a Abuela Alma, ela que manda aqui! — Mirabel diz. Minha impressão sobre ela foi boa, ela é divertida, prestativa e legal, talvez possamos virar amigas. — Abuela, precisamos conversar… — Ela finaliza com um sorriso quadrado.

— É um prazer, senhora. — Me pronuncio, dando um passo à frente para comprimentar a tal da velha. — S/N, esse é o meu nome.

— O prazer é todo meu… o que seria, Mirabel? — Aproveitei esse meio tempo para me apresentar para Luísa.

E pela terceira vez no dia o que aconteceu comigo foi explicado, e até a mesma reação por parte da matriarca da família.

— Isso… isso… — Alma gagueja um pouco ao falar. — Precisamos ter uma reunião particular, só a família. — Ela diz para mim e logo olha ao redor. — Não teve a oportunidade de conhecer a cidade, não é? Camilo, pode apresentar a cidade para S/N?

O garoto se espanta pelo chamado repentino, e eles basicamente conversavam com o olhar, algo como "Eu???" e "É, vai logo, menino!" E por fim Camilo toma a frente. Não pude evitar de soltar uma risada baixa.

— Bom… então vamos, me guie pelas ruas e vielas desta vila. — Forço a fala de maneira teatral, estendendo a mão pra ele.

Ele solta uma risada pelo nariz e em seguida responde:

— Como desejar, senhorita. — Ele segura delicadamente minha mão, se curvando e beijando as costas dela. O seu rosto estava meio rosado, mas deixei passar.

Soltamos as mãos e saímos da casa, andando lado a lado em direção a vila.

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Obrigado por ler!

Palavras: 1130

Meant to be - Camilo MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora