Onça

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Capítulo 2

Eu nunca tinha tomado banho em uma banheira antes.

Não, tô falando sério, precisei comentar isso, é extremamente gostoso e relaxante, dá até pra dormir aqui. É como se a água quentinha massageasse os músculos do meu corpo inteiro ao mesmo tempo, e o cheirinho floral da espuma era muito gostoso.

Eu observei a decoração do banheiro durante o banho: era bem retrô. Azulejos no piso e nas paredes, verde água na metade de baixo e azul claro na metade de cima, com algumas margaridas pintadas a mão variando em alguns azulejos, e já nos do piso eram um verde um pouco mais forte e denso, esmeralda? Musgo? Sei lá, nunca fui muito boa em lembrar o nome das cores. A pia era daquelas com um armarinho embaixo, branco e com as portas também esverdeadas, e acima um espelho redondo com uma borda talhada em madeira.
Honestamente, lembrava o banheiro da casa da minha avó no interior, na verdade, não só o banheiro, como toda a casa e ambiente, como se eu estivesse fazendo uma pequena visita ao passado.

Por fim, terminei meu banho, lavei meu corpo inteiro e cabelos - Que estava cheio de folhas e terra, por sinal -, me enxuguei com uma toalha que Pepa me cedeu e vesti minha roupa. Era apenas um shorts curto de cintura alta e uma camiseta preta bem soltinha, que talvez mostrasse minha barriga se eu levantasse o braço demais.

Sai do banheiro, secando as pontas do meu cabelo aos poucos enquanto caminho, seguindo as vozes.
Estava descalça, mas não foi exatamente um problema, o chão da casa era extremamente limpo, e, por mais incrível que pareça, até aquele pátio aberto no centro da casa também era limpíssimo.
Quando descia as escadas pude reparar em um quadro de um homem jovem e bonito, com uma beleza naturalmente latina, talvez até um pouco conservadora. Outra coisa que percebi é que o quadro era pintado, e não impresso, com outra daquelas molduras de madeira entalhada a mão. Com certeza deve valer uma fortuna.

Caminhei até o que parecia ser uma cozinha de onde vinham as vozes, pegando algumas partes quebradas da conversa, algo sobre "a porta" e "o milagre da família".

- Com licença, já terminei o meu banho. - Digo, colocando a toalha sobre meus ombros.

Tinham outras pessoas no cômodo, mas quem olhou primeiro foram os das cores quentes da família: Pepa, Félix, Camilo e Dolores. Eu estava no rumo do batente da porta, e já que os tal Madrigal estavam em volta de uma bancada mais distante tinham visão privilegiada para mim. Camilo me olhou e imediatamente ficou corado e tímido, talvez um pouco desorientado, intercalando o olhar entre meu rosto, minhas pernas, o pouco do meu abdômen visível - Por eu estar com os braços levantados, arrumando minimamente meu cabelo. - e meu rosto novamente, de cima a baixo, mas em seguida teve seus olhos tampados por Félix ao seu lado, que também virou de costas para me tirar de seu campo de visão. Dolores estava sem saber o que dizer e Pepa estava abismada, como se as roupas que eu usasse agora fossem um problema, eu não entendia ao certo. Aos poucos outros membros da família foram se virando e me olhando, todos com reações semelhantes.

- Querida, que roupas são essas...? - Julieta fala de forma mais calma, tentando entender a situação tranquilamente.

- Não sei de onde você vem exatamente, garota, mas aqui não é descente usar roupas assim. - A ruiva era quase o contrário de Julieta, como um furacão, mas talvez seja um traço de sua personalidade. Era perceptível a "Bipolaridade" da mulher.

- Assim...? Assim como? É só um shorts e uma camiseta. - Dou uma voltinha, procurando algo de errado com minha roupa. - Está normal, não? Já vi várias garotas aqui na Colômbia usando também, acho que é normal da maioria dos países. Não é como se estivéssemos em, sei lá, em 1960. - Solto um riso pelo nariz.

Meant to be - Camilo MadrigalOnde histórias criam vida. Descubra agora