Capítulo 10

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YAMAN

Levanto, ficando o mais próximo possível sem encostar em Seher. Seus olhos estão arregalados e pelas pupilas dilatadas sei que está gostando desse jogo tanto quanto eu.

— Chega de papel. Vamos ver até onde você entende de anatomia. -Puxo Seher comigo para a frente da ilha da cozinha. — Me surpreenda.

Seher troca o peso de um para o outro, a respiração está acelerada e posso ver o pulsar frenético da jugular. Seguro sua mão direita entre as minhas e com o dedo indicador, deslizo por cada um dos seus dedos.

— Quantos ossos temos na mão?

— Vinte... Vinte e... Sete. -Ela engole com dificuldade e tenta puxar a mão, mas eu seguro.

— Correto. Agora as digitais. -Toco cada uma de suas digitais, demorando propositalmente. — Qual a outra parte do corpo, que assim como os dedos possuem digitais únicas no mundo.

Sinto sua mão tremendo levemente enquanto esfrego meu polegar por cada um dos seus dedos.

— Eu... não sei. Não consigo pensar agora.

Sorrio com sua resposta.

Não consegue pensar, isso significa que estou no caminho certo.

— A língua possui uma identificação única no mundo, assim como as digitais.

Fecho os olhos, aproximo minha boca da sua orelha e sussurro.

— Nosso nariz é capaz de identificar até um trilhão de odores diferentes. -Respiro fundo sentindo o cheiro doce de morango misturado com meu perfume. — Eu sinto cheiro de morango, chocolate e o meu perfume. -Faço a volta em seu corpo e paro atrás dela. — O que você está sentindo?

— Você. Sinto seu cheiro. -Ela sussurra.

Me aproximo ao ponto de colar meu corpo no dela. Posso sentir seu calor e os leves tremores.

— Nosso cérebro reage de diferentes formas aos estímulos sensoriais. -Passo minhas mãos por seus braços. — Como por exemplo quanto te toco, seu cérebro reage a esse estímulo com prazer. -Falo com a boca colada no ouvido dela. — E eu sei que é prazer porque você está arrepiada.

— Pode ser arrepio do frio. -Ela responde com a voz fraca. — A janela está aberta. O tempo esfriou, tem vento.

— Já eu acho que está bem quente. -Me aperto mais contra seu corpo. — Mas você está com a respiração acelerada. Sua mandíbula está tensa. Isso é frio?

— Frio.

— Posso fechar a janela se quiser. –Passo meus braços ao redor dos braços de Seher.

Ela não fala, apenas nega com a cabeça. Ela quer que eu fique perto. Subo minha mão direita por seu braço até o pescoço. Posso sentir na ponta dos dedos o bater frenético de seu coração. — O coração humano bate cerca de 100 mil vezes por dia. Mas estou sentindo o seu muito acelerado, será de frio?

Seher respira fundo e suas pernas parecem fraquejar, então passo o braço esquerdo ao redor da sua cintura, sustentando seu corpo e a aconchegando ainda mais em mim.

— Peguei você. -Falo no seu ouvido e a viro de frente para mim, ainda segurando sua cintura. — Tudo bem? Está sentindo alguma coisa? Precisa de alguma coisa?

Seher me cara com os olhos arregalados e as pupilas dilatadas. É óbvio que sente atração por mim, caso contrário já teria me empurrado para longe, ou falado qualquer coisa. Mas sua única resposta é negar com a cabeça. — Piscamos em média 20 vezes por minuto. -Passo o dedo por sua bochecha. — Os olhos são a parte mais linda de uma pessoa e eles podem enxergar até 50 mil cores. -Aperto o braço ao redor do seu corpo. — Os seus olhos tem o verde mais bonito que já na vida. É como olhar dentro de um oceano. Eu poderia passar horas olhando dentro deles.

Yaman, você não pode continuar com esse jogo, já foi longe demais. É hora de parar.

Pare agora mesmo.

Mas antes que eu consiga me afastar, Seher olha no fundo dos meus olhos e eu sinto que ela está lendo minha alma com esses enormes olhos verdes.

Engulo a seco.

— Olhar nos seus olhos é como mergulhar em um infinito desconhecido, você não transparece. Me sinto perdida olhando no fundo dos seus olhos. -Seher pronúncia as palavras. — O que você está fazendo?

Uma lufada de vento gelado invade a cozinha e faz a janela bater.

— Ensinando. -Continuo preso aos seus olhos.

— Você ensina todos os seus alunos assim?

— Somente alunos muito, muito especiais.

— Quantos? Quem? -Ela coloca a mão na meu e peito e faz menção a me empurrar.

— Um. Você. -Passo a mão com delicadeza no seu rosto.

Um clarão, seguido de um estrondo ensurdecedor me fazem perder a noção dos sentidos por alguns segundos. Um raio caiu muito perto de casa e toda a energia elétrica cessou. Uma chuva torrencial começa.

Seher se agarra ao meu corpo como se sua vida dependesse única e exclusivamente de mim. Ela está tremendo e me apertando com muita força.

— Calma. Foi só um raio. -A envolvo com meus braços e afundo meu nariz nos seus cabelos, aproveitando. — Calma. Eu estou aqui.

Deus, que cheiro bom.

— Yaman. Seher. -Ziya aparece na cozinha com as duas crianças no colo. — Vocês estão bem?

— Tudo bem, irmão. Um raio caiu aqui perto.

— O portão caiu, acho que o raio foi nele. -Ziya coloca as crianças no chão e olha para Seher agarrada em mim. Ela afrouxa os braços lentamente, está realmente assustada.

— Kevser, nós precisamos ir antes que o tempo piore. -Ela caminha até a irmã, as duas se abraçam.

— Acho que só vamos conseguir sair amanhã. -Ziya olha para mim.

— Nós precisamos ir. Meu pai deve estar preocupado com a gente.

— O raio derrubou o portão, pode ter corrente elétrica passando por ele e o mundo está desabando em água. Não posso deixar que saiam. Seu pai vai entender assim que ligar explicar a situação. Vocês ficam. Sem objeções. 

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