Capítulo 31

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YAMAN

— Estou bem. -Ela recupera o fôlego e me encara de olhos arregalados. — Estou bem. -Para minha alegria, ela afasta a mão de Selim do seu rosto.

— Tudo bem, menina? -Ofereço meu lenço.

— Bem. -Seher me encara com os olhos apertados, isso me deixa com mais vontade ainda de rir da situação. — Obrigada, professor.

— Dispõe.

— Seher? -Kerem chama do canto mais distante da mesa. — Você se importa em sentar onde estava a professora Ikbal? Selim e eu estamos um pouco apertados aqui.

Ela concorda com a cabeça e muda para a cadeira ao lado, agora estamos de frente um para o outro e o melhor de tudo é o que papa-anjo não precisa mais encostar nela.

— Professor, eu sei que ainda temos mais algumas aulas com você, e, talvez o assunto seja abordado futuramente, mas eu gostaria de saber um pouco mais sobre o que caracteriza de fato a violência obstétrica. -Selim cruza as mãos sobre a mesa e sorri ao me olhar. — Já aconteceu com você?

— É um assunto muito importante e vai ser abordado em aulas futuras, principalmente para os alunos que decidirem por essa especialidade e que terão aulas extras comigo. -Sinto alguma coisa tocar minha perna e lentamente subir. — A violência obstétrica consiste na prática de procedimentos e consultas que desrespeitam e/ou agridem a mulher tanto durante a gestação quanto no pré-natal, parto, nascimento e pós-parto. Incluí agressão verbal, física, psicológica ou até mesmo de caráter sexual.

Seher apoia a cabeça nas mãos e sorri. Então levanta uma sobrancelha no exato momento em que sinto um pé se esfregando na parte interna da minha coxa.

— Isso acontece com frequência, professor? -Seher pergunta enquanto desliza o pé até minha virilha e meu corpo pulsar em resposta.

— Já foi mais comum, porém hoje em dia existe o programa de humanização do processo hospitalar, isso incluí a parte ginecológica e obstétrica.

— Porque, entre tantas especialidades, optou por ginecologia e obstetrícia? -Firat questiona, completamente alheio ao que está acontecendo debaixo da mesa. — Por exemplo, poderia ter seguido os passos do seu irmão.

Engulo a seco quando o pé de Seher faz pressão sobre meu membro pulsante, sinto um desconforto gigantesco.

— O que poderia ser melhor do que trazer ao mundo uma vida? É uma sensação única, indescritível. E eu soube que era isso o que eu queria já no primeiro ano de faculdade.

— Como soube? -Neslihan pergunta, virando a cadeira de frente para mim.

— Eu estava em um estágio voluntário, fui designado para ajudar as gestantes, mas meu único trabalho era ajudá-las a agachar ou então contar o tempo das contrações. Ninguém confia em estagiários, principalmente de primeiro ano. -Agarro o pé de Seher antes que eu não consiga mais pensar com clareza. — A unidade estava cheia e as enfermeiras não estavam dando conta, então pediram para que eu levasse uma das gestantes na cadeira de rodas até a sala de cirurgia para o parto cesárea. Fiz exatamente o que me mandaram e assim que as portas do elevador se fecharam, a bolsa dela estourou e eu senti que minha alma havia saído do corpo. Eu não tinha absolutamente nada de experiência, nenhum preparo a não ser o teórico. A mulher gritava dizendo que o bebê estava saindo e quando eu olhei e vi que a cabeça do bebê já estava coroando, deitei a mulher no chão, apertei o botão de emergência e fiz o que aprendi. Foi meu primeiro parto, depois disso nunca mais quis sair da obstetrícia. Ajudar mulheres, trazer crianças ao mundo, poder oferecer o cuidado, conforto e atenção que precisam, foi por esse motivo que escolhi a especialização. Por amor.

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