IV.

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S/n Hernandez, New York

Respiro fundo.

Olho em volta, ao batucar meus dedos na mesa. O cheiro de café está tomando conta das minha narinas, mas gostaria de sentir outro aroma.

O dele.

Olho no relógio, e vejo que os ponteiros marcam 8:50am. Em poucos minutos terei que ir embora, mas a ideia de ficar aqui e continuar esperando é uma tentação. No entanto, é uma ideia totalmente estúpida. Não há motivos para eu esperar ele, nem se quer combinamos de nós encontrar todos os dias.

Bem... Ele disse que haveria outros encontros, então por quê não está aqui?

Talvez eu esteja sendo precipitada, mas e se tudo o que eu pensei era apenas uma fantasia? Talvez ele tenha perdido o interesse ─ se algum dia ele realmente quis demonstrar isso.

Mesmo que não o conheça completamente e não saiba sua rotina, sinto que algo aconteceu para ele não estar aqui, tomando um cappuccino. Minha mente insiste em dizer que tenho algo a ver com isso ─ de um modo ruim ─, aliás, por quê ele não tomaria o café da manhã aqui em uma segunda-feira?

Talvez ele tenha decidido tomar café em casa. Ou em outro lugar.

A segunda opção é mais realista, mas ao mesmo tempo me assusta. Ele não teria motivos para mudar de cafeteria. A não ser que a culpada seja eu.

Tenho absoluta certeza que ele percebeu que continuar com o quê quer que seja isso não seria uma boa ideia. Talvez ele se deu conta que eu não sou uma boa mulher. Talvez eu não chegue ao nível dele.

Posso afirmar que ele deveras é o homem mais requintado e elegante que já conheci, então por quê ele estaria ao lado de uma mulher como eu? Exatamente, não há motivos para isso.

Definitivamente, posso entender a partir de agora que o fato do relógio marcar as 9:00am significa que devo parar de criar ilusões e fantasias. Bem que minha mãe sempre me disse que eu imaginava coisas onde não existiam. E foi exatamente isso que eu fiz, durante o pouco tempo que estive com ele.

Vi algo nos olhos verdes que não existiam na realidade. Ouvi, em meio a palavras doces e elogios, algo que não deveria ter entendido. Criei algo totalmente patético na minha mente, e agora estou aqui: mirando o meu café e vendo-o esfriar, pensando em como foi uma idiota por achar que ele estava interessado.

Como alguém poderia sentir interesse em você?

Aquela voz persuasiva invade minhas memórias. Memórias do colegial simplesmente me aterrorizam, porém, sinto que ela nunca mentiu. Em todas as provocações, xingamentos, e "brincadeiras" havia uma verdade que eu não enxergava.

Todas as vezes que escutei calada a todas aquelas palavras que eu julgava como horríveis era nada mais e nada menos do quê a verdade sendo jogada em minha cara, de uma maneira nua e crua.

Balanço a cabeça tentando me libertar desses pensamentos, mesmo que eu saiba que seja apenas uma tentativa falha.

Vejo os olhos azuis do loiro me observarem em total confusão ao me ver pagar pela comida que nem se quer toquei. Fico em silêncio ou apenas sussurro um "estou bem", ao ouvir sua voz me questionando o que aconteceu. Saio daquele ambiente o mais rápido possível. Vou em direção ao carro, mas ao estar dentro dele percebo que sair de um ambiente fechado e ir para outro ainda mais fechado não foi uma boa ideia.

▶ 𝗦𝘁𝗮𝗿𝗯𝘂𝗰𝗸𝘀 〢 𝖭𝗈𝖺𝗁 𝖴𝗋𝗋𝖾𝖺 𝖥𝖺𝗇𝖿𝗂𝖼𝗍𝗂𝗈𝗇Onde histórias criam vida. Descubra agora