RENDA EXTRA

UM DIA E TANTO

UM DIA E TANTO

     — Taz! — escuto Kass gritar de longe, com dificuldade.

     — Tá tudo bem! Eu dou conta! — Grito de volta para ela.

     O grito do ladrão me empurrou alguns metros e destruiu o chão em um ângulo agudo de mais ou menos quarenta e cinco graus...

     Acho que essa deve ser a abertura do poder dele, devo me manter fora dessa área. Merda, meus ouvidos doem.

     Kass está levando a mulher que foi roubada para longe do conflito, é uma preocupação a menos.

     O ladrão está parado me observando.

     Deve estar esperando eu avançar para me atacar de novo... Partindo do ponto que o rastro de destruição do poder dele acabou aqui e ele não me atacou novamente, esse deve ser o limite do alcance, posso tentar correr em volta dele respeitando esse espaço até ter uma brecha e me aproximar por trás. É isso.

     Direciono ainda mais do meu poder para as pernas e começo a correr muito rápido em círculos, mas não rápido o suficiente, ele me acompanha girando o corpo. Vou aumentando mais e mais minha velocidade, ele está começando a ter dificuldade em me acompanhar, se continuar assim ele ficará tonto.

     Ele finalmente fica de costas para mim e...

     Começa a fugir? Ele está correndo muito, muito mesmo, deve ter entendido meu plano. Flexiono os joelhos e pego um impulso na direção dele, é o suficiente para eu alcançá-lo e desferir um soco na cabeça enquanto ele ainda está de costas.

     Golpe certeiro!

     Ele tomba e rola para frente, enquanto ainda estou no ar e ele rolando no chão, ficamos posicionados frente a frente, outro grito vem. Dessa vez ele me joga ainda mais para cima, porra, meus ouvidos já estão doendo muito, eu devia ter batido mais forte, sou péssimo em mudar sob pressão as partes do meu corpo em que aplico o poder.

     Ele volta a correr em direção ao centro da praça com a mão na cabeça, com certeza o soco doeu um pouco. Me preparo para cair de pé, ainda bem que meu PEM já está nas pernas. O ladrão já está um pouco distante, ainda com a bolsa roubada. Volto a correr atrás dele.

     — Taz! Eu vou ajudar! — disse Kass, que está vindo da minha direita.

     — Vamos! — começamos a correr juntos.

     Eu chego perto dele antes da Kass, e digo:

     — Aí, na moral! Passa a bolsa, você não vai querer enfrentar ela.

     Ele para e me observa, o olhar dele é de ódio.

     — Que porra são vocês? — disse o ladrão.

     — Que? — eu não entendo.

     — Que porra são vocês? — ele repete. — Dois jovens correndo atrás de mim... um aguenta duas frequências de mais de duzentos decibéis e cai de uma altura considerável como se não fosse nada e a outra anda com a porra de uma espada... isso é sério?

     — Eu não tenho que te explicar nada, cara, só passa a bolsa e se entrega — respondo.

     A Kass chega na hora.

     — O que tá pegando? — ela pergunta.

     — Eu não vou passar essa bolsa, “cara” — o ladrão diz em tom de ironia —, muito menos me entregar. Eu tenho bocas para alimentar e contas para pagar, essa merda aqui não vai fazer falta para aquela vagabunda rica.