Capítulo 6 - Maiores de idade

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O primeiro do septeto bolado a completar dezoito anos foi Ricardinho; isso no princípio de fevereiro; Chico veio a seguir, em março; maio foi a vez de Tiago e Fernando; e agosto trouxe a maioridade a Rafael; de fevereiro, um dia antes do nosso amigo, e abril, respectivamente, Dalila e Robson ainda fariam dezessete. Prestes, então, a alcançarem a tão sonhada cidadania plena, Francisco e os quatro camaradas do Instituto Educativo contavam os dias para tornarem-se homens perante a lei; seriam reconhecidos como donos de seus próprios atos; sairiam do julgo paterno; e estariam livres para voar, como imaginavam. Mas, as muitas vontades esbarravam na realidade, isto é, de nada adiantava ser maior de idade sem emancipação econômica; a dependência financeira dos pais deixava as coisas muito parecidas; entretanto, havia algumas mudanças, sutis, todavia extremamente significativas.

De imediato, os quatro formados no dimensiono sentiram o peso da etapa porvir. Em casa, Sólon, que quase reprovou na terceira-série secundarista, foi cobrado com seriedade. Seu Paulo e Dona Rita o queriam na faculdade já neste semestre. Para os pais, chegara a hora de garantir a qualidade de vida do filho e do neto Paulinho, cujo sucesso passava pelo bom andamento da careira profissional de Fernando. Não adiantou sequer o adolescente alegar que tinha direito ainda, caso necessitasse, às dependências escolares, ou seja, a cumprir posteriormente apenas as matérias inconclusas, pendências possíveis de serem sanadas até o término da faculdade; os patriarcas não quiseram saber; em seu entendimento, de agora em diante o mundo real não traria mais recuperações e afins, se não aproveitasse as chances, perder-se-ia na traseira social, na massa das ocupações de baixo rendimento monetário, segundo argumentou Seu Paulo. À Dona Rita coube dar o veredicto, ou Sólon se dedicava aos vestibulares ou a mesada dele iria para Paulinho. – É hora de assumir e construir seu futuro e o do teu filho – decretou a mãe. Pressionado, como era de se esperar, Fernando não obteve nota para engenharia, área escolhida por influência do pai, em nenhuma das universidades públicas; nas particulares, por reclassificações ou méritos pouco exigidos, aí sim conquistou a vaga; de todas as instituições privadas disponíveis, os velhos Sólons optaram por matricular o herdeiro na mais cara, a mais conceituada, tradicionalíssima e reputada de todas, localizada na zona sul da cidade.

Diferente do precedente, Rafael, de estilo bem centrado, desde o início do namoro com Cacau já traçara seus planos e os executava minuciosamente. Queria fazer Direito, prestar um monte de concursos públicos igual ao irmão, passar em um e sair de casa junto com a mulher. Nesse sentido, se inscreveu nas provas de acesso às graduações superiores um ano antes do necessário, como treinamento, frequentou curso preparatório e abdicou do tempo livre, dividido entre o namoro e os estudos. A recompensa veio com a aprovação para a Federal do Rio de Janeiro, num dos melhores cursos do país; de presente, os pais deram-lhe um automóvel popular zero quilômetro. Sobre seu irmão, o Virtuoso primogênito repetiu algumas disciplinas na faculdade, precisou de mais tempo para aprontar a monografia final, só terminaria a graduação no fim do ano e, até lá, prosseguiria tentando as provas de ingresso nas forças policiais.

Quanto à Tiago, a paixão pelo futebol, ainda mais agora que virou profissional, fez dele um aluno dedicado aos estudos; mesmo quando detinha dificuldade em aprender, pedia ajuda de nosso amigo em aulas particulares e não dava mole, pois temia perder a tão sonhada chance no meio esportivo. Concluído o ensino-médio, pré-requisito para confirmar de vez o vínculo trabalhista com o América, Marinho focou exclusivamente na vida de atleta e no namoro com Helena.

E Portugal, embora sempre passasse de série-escolar com facilidade, a boemia frequente com os amigos, as resenhas-do-mal, os casos amorosos, a falta de dinheiro para pagar um cursinho preparatório e a pretensão de se aprovar no nível superior público com pouca ou quase nenhuma dedicação, óbvio, resultaram em notas insuficientes nas instituições gratuitas; como não podia pagar por faculdades privadas, mesmo sendo o primeiro colocado no exame de ingresso duma dessas, Ricardo ficou sem estudar este ano. De pronto, Dona Maria intimou o filho a arrumar um emprego. – Se não vai estudar, tem que trabalhar, você já tá muito grandinho pra ficar debaixo da minha asa, é o momento de correr atrás das suas coisas, do seu dinheiro, da sua independência, pra não ficar esperando por mim que já tenho muita despesa com a gente – ressaltou a mãe solteira. Recado dado, nosso amigo concentrou total atenção em busca de um mister que lhe trouxesse prazer e bom retorno pecuniário. Das diversas profissões, Portugal quis arriscar uma da atualidade, ser influenciador digital, ter um canal de difusão na internet. Determinado, começou a gravar suas partidas dos jogos eletrônicos nos quais possuía maior habilidade; nascia ali a Portuga-games Tevê; tudo era feito no computador, dado-lhe por Fernando após este comprar outro novo, e o rosto filmava no celular. Em dois meses, diante da baixa adesão de seguidores, nosso amigo optou por expandir a programação; daí, surgiram as séries sobre o cotidiano, onde dividia situações simples e engraçadas, seja em casa, na rua ou em qualquer lugar; bastava ter a sacação, acionar a câmera do telefone e pronto, lá estava o conteúdo. Em seis meses, Ricardinho já arrecadava algumas dezenas de dólares com seus vídeos, pouco, mas convertidos davam quase cem reais semanais; nada mal para quem está começando, se autoestimulava nosso amigo; mal sabia ele que viralizaria por causa de uma produção secreta furtada, mas isso é assunto ainda porvir.

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