Capítulo 2 - Operação primeira vez

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– Muito bem, pensou o nosso amigo. – Estou muito bem. Essas palavras surgiram-lhe na psique enquanto caminhava até o quarto. Abraçado à parceira, ele mal se continha. A vontade de logo vislumbrar o fim lhe corroía por dentro. Mas era preciso se segurar. Um alvoroço de sua parte poderia assustá-la. Agora, já dentro do quarto, é que não vacilaria. Com tranquilidade, Portugal voltou aos beijos e carícias. Os de antes não se comparavam com esses em cima da cama. O ardor dos afagos rápido expulsou parte das roupas. Nesses breves minutos passados até aqui, as ideias não paravam. A garota imaginava-se quase uma noiva. Aquela atitude a içaria à condição de mulher; e como tal teria um homem com quem se casaria no futuro próximo. Apesar da repressão dos pais quando o tema era sexualidade, a vizinha não se censurou. Ali, no calor da ocasião, achou que seu caso era diferente. No seu entender, foi sorte ter encontrado o amor tão cedo. Não havia motivos de esperas. Se os dois se amavam não seria justo lutar contra esse sentimento. A visão de Ricardinho, por outro lado, não era nada sentimental. Na verdade, ele nem havia se preocupado com isso. O que o movia era a testosterona. O depois ficou para segundo plano. Sua atenção voltou-se exclusivamente para a descoberta do prazer. Todo mundo falava no assunto, aparecia na televisão, na Internet, estava na banca de jornal, o sexo surgia em qualquer lugar. Ele só queria fazer parte dessa história, praticar a matéria, sentir o tal êxtase. Assim falaria como conhecedor de causa e não como um mero masturbador. Disseram-lhe certa vez que dois eram melhores do que cinco e ele nunca mais esqueceu. – Hoje vou repetir esse provérbio para o pessoal lá na casa do Fernando.

Os amigos, evidentemente, também rondavam os devaneios do rapaz. A obrigação de contar-lhes tudo deu um ânimo especial ao momento, pois havia duplicado a conquista. Além do sucesso em si, ainda teria sua moral elevada pela descrição dos fatos. Ficaria marcado para sempre. Depois desse dia, Portugal passaria a ser considerado de alta patente dentro do grupo. Seu status não seria mais aquele de menino maricas da infância quando era excluído porque gostava de brincar com as meninas. Rafael Virtuoso conheceu nosso amigo naquela época e pode falar dessa fama. Ele, também excluído devido ao preconceito racial por parte de outros colegas de classe, era o único a interagir com Ricardinho no primário. Só anos à frente, Sólon e Marinho se juntaram a dupla anterior; o primeiro, muito mimado, não conseguia construir amizades duradouras; exigia demais; somente com os atuais companheiros baixou o nariz, senão até do escanteio seria jogado de lado; já Tiago nunca foi muito bom em fazer amigos; podemos dizer que seu jeito sem jeito aliado à alta receptividade dos demais o trouxe para a turma; foi um casamento perfeito; três acostumados a não serem procurados e um que não queria ser achado. Depois de quase dois anos de convivência até aquele dia, o quarteto bolado, como se chamam ainda hoje, já estava formado e consolidado. Esta exata noção Ricardinho tinha em mente, enquanto despia a parceira. Ele sabia que, se conseguisse completar seu objetivo, mudaria para sempre os rumos da galera. Ali se desencadeariam transformações inevitáveis. O foco dos interesses se deslocaria para as descobertas da puberdade. – E nessa corrida estou uma camisa e um sutiã de vantagem, comemorou Portugal, quando finalmente desatou a peça íntima feminina. Quase que não sai. Mexe daqui. Mexe dali. Puxa. Pimba! Soltou depois de várias tentativas.

Dava vontade de rir, de comemorar, mas poderia parecer infantilidade. – Não posso bobear. Os dois bicos apontados para o nosso amigo mostraram que não era brincadeira. A coisa era séria. – Preciso tocá-los; senti-los mais uma vez; pensei que os tinha perdido e, no entanto, aqui estão; lindos; queria descrever cada curva desses seios; mas vou me ater apenas a falar que são lindos; o pessoal vai se matar de inveja; será dez a zero naquela festa que o Sólon ficou com a Samanta da oitava-série. A menina realmente parava o trânsito, mas só saiu com ele por causa do dinheiro dele; todo mundo sabia. A tal festa foi a confraternização de início de ano do Instituto Educativo. É sempre no mês de março. Nesta edição, Fernando apareceu vestido com um terninho só pra chamar atenção. E chamou. A ponto da gata chegar ao seu encontro e não o contrário. Aí é praticamente um pênalti. Só não marca quem for muito ruim. E Nesse caso podemos até dizer que a goleira deu uma ajudinha. – Com tanta apelação, o Sólon só conseguiu uns beijos e mal tocou no corpo dela por cima da roupa e, mesmo assim, na parte do alto, estou muito melhor – comparou Portugal.

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