P R Ó L O G O

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14 de setembro de 2012

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14 de setembro de 2012

As gotas de chuva caiam frequentemente na terra; o vento fazia as plantas dançarem violentamente, sacudindo suas folhas sem piedade. As ruas já se enchiam de poças d'água, que levavam ao estresse aqueles que apressadamente caminhavam entre estas. Mas, conforme a chuva persistia, as ruas ficavam cada vez mais vazias.

A biblioteca, em contrapartida, abrigava muitos do clima torrencial; de crianças a idosos, o ambiente ia sendo preenchido aos poucos. Parecia que o local era o mais apropriado para se abrigar de uma chuva e todos decidiram reunir-se lá.

Tal movimentação de pessoas não foi tão bem recebida por Esther, que via na biblioteca um refúgio para guardar-se da agitação do mundo.

Ela já estava na terceira leitura do mês, que mal chegara na metade. No entanto, aquele já era seu livro favorito - um mundo fantástico, um cavalheiro sarcástico, um mago sábio e conselheiro e, claro, muitas aventuras.

Para Esther, ler era como um portal para outros mundos, uma maneira de viver uma vida que ela não podia ter. Todas as vezes que abria um livro, ela sorria, ansiosa para descobrir por onde andaria, por quem se apaixonaria e qual final feliz teria para si.

"Com licença.", uma voz feminina chamou por Esther.

Ela apenas ignorou pois sua leitura estava numa tensa parte da qual ela não poderia se distrair.

"Com licença.", a pessoa mais uma vez falou, sem receber qualquer resposta.

"Aí, você é surda?", uma segunda voz, agora masculina, falou com mais intensidade, o que fez Esther perder a paciência.

"E você é cego? Não tá vendo que eu tô lendo?", ela tirou os olhos do livro olhando para frente, para depois virar-se para a direção da voz.

Ela então viu um rapaz com um livro nas mãos, olhando para ela com um olhar caído. Ele tinha uma pele assustadoramente branca, cabelos negros e olhos azuis. Esther até ficaria surpresa pela beleza do rapaz, se ele não tivesse perturbado a sua leitura.

"E você não está vendo também que estou lendo? Se você tivesse respondido à mulher eu não teria lhe perturbado. No entanto, você perturbou minha leitura.", ele respondeu fechando o livro e cruzando os braços.

"Se estava tão incomodado por que não respondeu ela logo?", ela falou um pouco baixo mas alto o suficiente para o rapaz ouvir. Ele apenas sorriu de lado e voltou a abrir o livro que estava a ler.

Já que ela não estava mais concentrada na leitura e envergonhada por seu comportamento, Esther decidiu desculpar-se com a mulher, que estava perdida na situação, e respondê-la finalmente.

"Boa tarde! Desculpe meus modos, senhora. Às vezes me empolgo demais na leitura.", ela baixou a cabeça com vergonha, mas a mulher apenas sorriu. "Em que posso ajudar a senhora?"

"Oh, querida, eu apenas queria saber as horas.", ela disse com um sorriso simpático.

E foi como um vidro quebrando para Esther.

Ela não queria acreditar que aquela mulher tinha provocado tudo aquilo apenas por um horário.

Esther, ignorando sua raiva interna, tentando pensar coisas boas, olhou para seu relógio e disse:

"São 15h15, senhora. 15h15."

A mulher sorriu e agradeceu, afastando-se da mesa na qual Esther estava.

Voltando a sentar-se, Esther sorriu desacreditada; em seguida, ela olhou para o rapaz de antes que estava imperturbável em sua leitura.

"Você ouviu isso? Ela queria saber as HORAS!", ela elevou a voz, não por raiva, mas para enfatizar o fato de que o rapaz a perturbou apenas por conta das horas.

No primeiro momento ele parecia não ter ouvido; mas depois de alguns segundos, Esther pôde ver a boca do rapaz reprimir um sorriso.

"Você está se divertindo com tudo isso, né? Seu 'perturbador de jovens que estão tentando ler'!", ela falou e ele soltou uma pequena risada.

"Para ser sincero, estou sim."

Esther sorriu.

"Poxa, tem um relógio enorme ali!" ela apontou para um relógio na parede à direita dela. "Meu relógio tão pequeno e ela viu justamente ele."

Ele riu um pouco mais alto, atraindo alguns olhares.

"Querido, você está chamando atenção demais! As pessoas estão olhando achando que nós somos loucos."

"Confia em mim, você não precisa de mim para parecer louca!", ele respondeu, diminuindo a risada.

Esther cerrou os olhos mas depois sorriu.

"Então... Você gosta de ler?"

"É o que mais gosto de fazer.", ele sorriu com o olhar voltado para o livro. Esther reconheceu a capa.

"Tolkien? Agora você me conquistou!", ela animou-se; Tolkien era um de seus autores favoritos.

Não demorou para que uma conversa calorosa sobre o escritor começasse; e não apenas livros entraram na conversa, mas filmes, músicas, até mesmo os restaurantes da cidade brilharam no falatório de Esther. Quem os observava podia jurar que eram amigos de longa data.

Logo a chuva passou; aqueles que se abrigavam começaram a deixar o ambiente aconchegante da biblioteca mais vago. O céu escurecia e as luzes da cidade refletiam na janela do prédio. Dentro da biblioteca, luzes fracas e amareladas iluminavam o casal que ainda conversava alegremente. Esther e o rapaz apenas pararam quando a bibliotecária os chamou.

"Com licença. Nós já vamos fechar.", ela os olhava tediosamente, mas com uma impaciência que ela tentava conter alisando as próprias mãos.

"Mas ainda são... nossa, já são sete da noite! Nem vi o tempo passar.", ela olhou para o rapaz, que parecia tão surpreso quanto ela.

A bibliotecária olhou para eles com um sorriso irônico no rosto para depois voltar a fechar as janelas.

"Nem acredito que está tão tarde!", ele disse. "Suzana deve estar bem preocupada comigo nesse momento.", ele olhou sorrindo para o chão, enquanto caminhavam para a saída. O vento frio e as buzinas dos carros os receberam ao saírem da biblioteca.

"Suzana?", Esther o olhou curiosa.

"Minha namorada.", ele a olhou com um sorriso sem graça.

Ouvir aquilo foi a decepção do dia de Esther depois de uma tarde tão feliz. Ele era, provavelmente, o rapaz mais legal e interessante que ela tinha conhecido em muito tempo. Apesar de não ter o olhado como uma opção amorosa no começo, naquele instante, saber que ele não estava disponível, foi desestimulante para ela.

"Ah, sim.", ela riu sem graça.

Depois de alguns segundos em silêncio, Esther voltou a falar: "Bem, foi muito legal conversar com você.", ela sorriu.

"Conversar comigo é realmente muito bom.", ele disse e ambos riram. "A gente se vê por aí."

"Até mais.", ela acenou, então eles tomaram rumos diferentes. Esther saiu feliz por ter tido uma tarde tão incrível; mas sentiu que algo faltava. Então ela parou de caminhar.

"Droga, não perguntei o nome dele!", ela disse para si, olhando para trás, procurando-o, mas tudo que ela viu foi duas crianças de mãos dadas com a mãe. Apesar de ter ficado ainda mais triste, ela foi consolada pela esperança de que poderia vê-lo novamente na biblioteca.

No entanto, ele nunca mais veio.

When I Saw Him AgainOnde histórias criam vida. Descubra agora