Cap. 02 - Chicago, 1963

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ALLISON HARRIS ERA uma garota bastante popular em sua escola em Chicago. Dezessete anos, dona de grandes e curiosos olhos verdes e cabelos loiros cuidadosamente arrumados, ela tinha um senso apurado de moda em plenos anos 60, algo que a garota havia herdado de sua avó materna.

Com um sorriso meigo que atraia a atenção de quem a visse pelos corredores do colégio fofocando com suas amigas, Allison fazia amizades rapidamente e sempre tinha algum garoto rendido aos seus pés. Tudo parecia perfeito e no lugar em seu mundinho de adolescente. Ela tinha boas notas na escola desde que se conhecia por gente, era uma amiga leal e sem dúvidas era uma ótima filha para sua mãe, daquelas que quase nunca lhe davam dor de cabeça pois Allie jamais havia tido uma fase rebelde em sua vida.

Tudo parecia bem e em paz. Na escola as coisas estavam melhores do que nunca, Allie estava no segundo ano do colegial e era umas das melhores alunas da classe, sempre muito elogiada pelos professores. Ela participava das animadoras de torcida e do clube do livro de seu colégio. Quando não estava por lá, usava seu tempo livre com tudo que lhe desse alegria e prazer, em alguns momentos era a dança, noutros cursos de culinária e em outros ainda simplesmente ficava a toa tocando violão ou lendo algum romance. Ela era uma romântica incurável.

Mas, as coisas estavam prestes a virar de cabeça para baixo

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Mas, as coisas estavam prestes a virar de cabeça para baixo. Allie seria tirada de sua zona de conforto e cairia numa realidade totalmente nova e diferente da qual estava acostumada. Tudo que ela conhecia até então mudaria e toda essa mudança a transformaria por completo. Na verdade, as coisas iriam sair totalmente do controle da garota, ela só não sabia disso ainda. E para alguém que gostava de ter sua vida toda muito bem planejada, isso viria a se tornar um grande pesadelo.

Tudo começou numa típica tarde de segunda-feira, o mês era setembro e as flores começavam a brotar por todos os jardins de sua amada Chicago. Logo que Allie chegou da escola, sua mãe, Claire Harris lhe deu a notícia:

- Sra. Harris: Allie querida, vamos nos mudar.

Por um momento, tudo pareceu perder o sentido e a garota começou a duvidar de seu próprio juízo ou do bom funcionamento de seus dois ouvidos:

- Allie: desculpe mãe, nós iremos o quê?
- Sra. Harris: você ouviu perfeitamente, filha. Vamos nos mudar daqui. Iremos embora de Chicago. E será logo, na verdade na próxima semana. Por favor, suba para seu quarto e comece a organizar suas coisas e depois desça e me ajude a organizar as coisas aqui embaixo na sala de estar. Você deve estar assustada com a notícia mas fique tranquila pois eu lhe explicarei tudo daqui há pouco. Enquanto nós estivermos organizando as coisas, irei lhe explicar o porque dessa decisão tão repentina em nossas vidas.
- Allie: vamos para onde, mãe?
- Sra. Harris: Tulsa, Oklahoma. Consegui um novo emprego como seu tio Joe para ajudar a administrar a loja de móveis do amigo dele. Essa oportunidade veio em boa hora filha, você sabe como as coisas tem estado difíceis desde que nosso próprio negócio faliu.

Para Allie tudo havia ficado cinza por um momento. Foi como receber um soco na boca do estômago, ela sentia sua respiração falhar e suas orelhas queimarem. A garota entendia a situação, tinha maturidade para entender as dificuldades financeiras em casa e a preocupação de sua mãe quanto a isso. A Sra. Harris já estava há quase 5 meses sem trabalhar e precisava se reerguer financeiramente, quase entrou em depressão depois que a loja de chocolates caseiros que com tanto esforçou ela lutou para abrir, faliu.

- Allie: tudo bem mãe, não se preocupe. Vamos enfrentar mais essa batalha e vamos vencer, vai dar tudo certo. Eu vou subir para começar a organizar minhas coisas e logo desço para conversarmos.
- Sra. Harris: filha, sei que essa notícia te pegou de surpresa mas é essencial que você entenda. É essencial que você tenha maturidade para entender todos os motivos que me levaram a tomar tal decisão. Não será fácil no início mas nós iremos nos adaptar.

Allie subiu para o seu quarto e se sentou na cama por um momento. Tudo iria mudar. E agora? Como iria ser? Dúvidas e medos não paravam de percorrer sua mente mas ela não iria demonstrar nada disso na frente de sua mãe. Ela precisava ser forte. Por anos, elas tinham somente uma a outra. Eram uma família de duas. O pai de Allie há muito tempo havia falecido, na verdade quando a garota ainda era uma criança e desde então a Sra. Harris fazia o papel de mãe e de pai para Allison.

Enquanto estava sentada na cama a garota sentia a onda de choque que perpassava seu corpo. Uma mistura de embrulho no estômago e frio na espinha. Depois que o susto inicial passou, ela se levantou vagarosamente e abriu a porta do guarda-roupa para começar a fazer as malas. Ou pelo menos, tentar começar a tirar as roupas dos cabides e organiza-las. O choque era tanto que ela precisava se concentrar com todas as suas forças para raciocinar.

Esse seria o início de um novo capítulo em sua vida, para o qual, ela não se sentia nenhum pouco animada ou mesmo preparada. Allie era uma pessoa otimista na maior parte do tempo mas nesse momento ela se sentia triste e ao mesmo tempo assustada. Durante toda a sua vida ela havia morado em Chicago e nunca nem sequer havia trocado de endereço na cidade. A escola na qual estudava, era frequentada por ela desde os 5 anos de idade.

A garota pensava em todas as suas amigas, as da escola, do ballet e do curso de culinária. Ela não tornaria a vê-las nunca mais? Não, é claro que não. Elas poderiam ainda trocar cartas e cartões postais. É claro que as veria, mas quando? Com certeza com a distância não seria tão fácil voltar a vê-las, pelo menos não com frequência. Nunca mais nada seria como antes. Tudo mudaria. E isso a atormentava por dentro.

Ela enfim deu um suspiro pesado e se dirigiu até a janela de seu quarto, que ficava no segundo andar de sua casa. Allie se demorou olhando pela janela, observando a paisagem, que naquele horário da tarde a presenteava com um céu muito alaranjado, um típico pôr-do-sol. Ela observou seus vizinhos, os carros passando pelas ruas em um ritmo frenético e as crianças brincando na calçada. Ela amava Chicago, ela conhecia tudo como a palma de sua mão, não queria ter de se mudar, não queria mesmo.

Porém, a vida às vezes tem dessas coisas, ela nos prega algumas peças. Mas tudo acontecia por uma razão e essa, Allie não tardaria a descobrir.

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