mel e cigarro.

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ele precisava nascer
então nasceu
desajeitado
cuspido pelo útero.

aos poucos foi aprendendo
a andar
a conversar
a atuar
a mentir
e isso ele aprendeu rápido.

aos poucos foi aprendendo a roubar o mel das colmeias
eram doces abelhas voando pelo vazio
derrubando seus castelos de areia e esperança.

ele cresceu um pouco
sabia atuar
foi para o teatro
atuou
brilhou
triunfou
sua mãe, não gostou
ele fugiu
do mapa sumiu
sem deixar os rastros
a luz não cintilava teus passos
só as coroas falsas para platéia
o vazio e as abelhas lhe faziam rir com cautela

se apaixonar pelo temporal
descontrolar o temporal
se o odiar pelo temporal
até a última tragada no cigarro
a fumaça lhe preenchia
vazio já não era vazio, era ilusão
por um tempo era
aos poucos, a fumaça se abaixava
ele pegava a arma
apontava para onde não devia
a cabeça vazia
e
atirou
sem dor
não saia nada diferente de mel e cigarro.

tudo que tenho levo comigo.Onde histórias criam vida. Descubra agora