CAPÍTULO UM

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No verão de 1969, Sirius Black foi obrigado a fazer aulas de balé. Três meses se perderam para horas e horas e horas de endireite as costas, jovem Black, um tendu agora, sim, a perna esticada, sim, grand jeté, levante os braços, bem assim, bem do jeito que você aprendeu. Olhos fechados. Postura perfeita. Músculos e tendões se alongando e contraindo embaixo da pele. Só ouvindo o piano e o violino. Só pulando e rodando e seguindo a música, seguindo o retumbar do medo nos ouvidos dele com o saber que um passo errado seria respondido com dor.

Sirius era ótimo.

Sirius odiava cada segundo.

Não era como se bruxos pudessem comprovar que tinham sido eles que originaram o balé e os Trouxas que imitaram – haviam muitos historiadores bruxos que discutiam que não tinha sido bem assim. Mas, para pessoas como a mãe dele, provas não importavam. Aquela dança era deles. Era clássica, era elegante, tinha que ser puro-sangue. Então ele a aprendeu, como todo jovem nobre tinha o dever de aprender.

Aos dez anos, o rosto de Sirius já era nobre como Orion, como Cygnus, como uma antiga escultura renascentista, linhas afiadas e detalhes simétricos. Além do exterior, por trás da pele e carne e estrutura óssea que herdou, ele sempre teve uma predisposição a ser clássico e elegante. Era como ele se movia sem nem mesmo perceber, um bailarino fora do palco desde antes de ter começado a dançar.

O vinha com muito mais facilidade do que vinha para Regulus, que tentava desesperadamente o acompanhar e não ser deixado para trás, e até do que vinha para Andrômeda e Bellatrix, que eram mais velhas e tinham mais tempo treinando. O vinha com toda a naturalidade do mundo, como se houvesse algo visceral e essencial e quente pulsando pela medula nos ossos dele desde que ele nasceu, magia e genes o marcando como o mais Black de todos os Blacks. Afinal, Sirius era a estrela mais brilhante no céu. Sirius era a criança que deveria ser o herdeiro, entre o irmão e as primas.

Rebelião não lhe era algo natural. Quando ele era menor, ele era chamado de prodígio. O garoto do pai dele, o perfeito primogênito, talentoso e cheio de promessa, e o tutor de balé disse que ele podia ser magnífico se continuasse treinando.

Seguir ordens era algo que ele podia fazer sem nem pensar. Ele nasceu assim.

Chutar a canela do tutor dele foi uma decisão proposital.

Não foi só cabeça quente, não só impulsividade, não só algo do momento por causa de um pavio naturalmente curto. Sirius não tinha nada disso e ele sabia o que estava fazendo. Entendia as consequências e, com a cabeça fria e toda coragem que tinha no peito, ele tinha empurrado o medo para longe e decidido que ia tomar aquela ação de rebeldia mesmo assim.

As aulas de balé dele acabaram depois disso.

Muitas coisas acabaram depois disso.

Sete anos depois, no verão de 1976, Sirius abriu a porta de casa e bateu com os coturnos no asfalto rachado. Ele estava com a varinha no bolso de trás da calça. Uma jaqueta de couro e, nos bolsos dessa jaqueta, um prendedor de cabelo que ele tinha pego de Peter e nunca devolvido, um isqueiro vermelho com uma imagem daquela velha rainha Trouxa em um biquíni lambendo uma bandeira, presente de Natal de James que tinha o achado hilário, e alguns papéis de balas de caramelo que Remus tinha o dado e Sirius tinha comido e esquecido de jogar fora. Uma bala que também tinha sido esquecida e no fim derreteu na embalagem, e três galeões que Regulus tinha jogado na direção dele antes de sair correndo escada a cima. Uma bochecha pulsando com a força do tapa que tinha recebido da mãe.

Aos dezesseis/quase dezessete anos, esse era todo o patrimônio material de Sirius. Todos os bens que ele tinha no corpo e no nome quando decidiu que fugir para as ruas vazias era mais seguro do que continuar em casa.

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