No verão de 1969, três meses depois de o obrigar a começar com aulas de balé e duas horas depois de um instrutor ser chutado, Walburga Black cortou todo o cabelo que Sirius tanto tinha amado e tanto tinha cuidado e por tanto tempo tinha deixado crescer. Cortou curto, cortou de um jeito tão perfeito e uniforme que parecia que ela tinha usado uma tigela para o dar forma, e colocou um feitiço para que Sirius não pudesse o deixar crescer nem um único centímetro pelos próximos seis meses.
Quatro anos depois, depois de sua primeira terrível decepção amorosa e com um verão inteiro com a família dele a cada segundo se aproximando mais, Sirius chegou para James e falou uma única frase: "Corta o meu cabelo."
Tinha sido algo poético na cabeça dele. Pedir para James fazer algo que Walburga tinha antes usado como castigo. Se sentar no chão do dormitório, James atrás das costas dele, Remus e Peter na frente, relaxado e fazendo piadas e rindo quando nas mãos de Walburga ele tinha estado chorando desesperadamente e soluçando até parar de respirar e implorando para ela parar. Olhar o cabelo caindo, o sentir entre os dedos dele, e depois olhar o reflexo no espelho, a cabeça raspada, mas erguida. As mãos tremendo, mas fechadas em punhos. Ele tinha se sentido como um soldado aquele dia. Nunca tinha conseguido parar de se sentir assim, enquanto os anos passavam e aquele peso do sobrenome Black continuava o assombrando.
Olha só pra mim, mãe, ele pensou quando a viu na plataforma um mês depois, os olhos cinzas cerrados e faiscando. Eu consigo me marcar mais do que você, não importa o quanto você tenha tentado.
James Potter tinha quebrado o nariz de Sirius duas vezes desde que eles se conheceram, direta e indiretamente. Tinha colocado o osso de volta no lugar também. Eles tinham se machucado jogando Quadribol juntos, fazendo pegadinhas, brincando de lutinha, treinando duelos e azarações e outros feitiços que os professores deles não iriam querer que eles aprendessem. Tinham derramado sangue pelo outro e por causa do outro.
E apesar de tudo, apesar de cada gota de sangue e lágrima e risada e choro que ele tinha achado que iria os juntar para sempre, foi aquele momento: James raspando a cabeça dele. James o tocando como se ele fosse precioso, importante, como se aquela fosse uma missão o dada por um anjo que desceu à Terra, a coisa mais importante que James jamais iria ter a benção de fazer. Como se ele, e eles, e aquilo que eles estavam fazendo, fosse sagrado.
E teve Remus fazendo um comentário sarcástico quando parecia que Sirius ia começar a chorar também. Remus tocando o joelho dele contra o joelho de Sirius, Remus o olhando como se entendesse de um jeito que nenhuma palavra jamais seria capaz de explicar, Remus sorrindo enquanto ajudava ele a se levantar depois de tudo ter acabado. Remus o contando sobre o primeiro corte de cabelo dele quando o resto já tinha ido dormir; e ouvindo enquanto Sirius o contava sobre o que Walburga tinha feito sem um pingo de pena, só raiva.
Sirius arruinaria a si mesmo se fosse para transformar seu corpo em algo que os pais dele não criaram.
Quando ele estava com os amigos (quando ele estava com Remus), se arruinar não parecia mais a única opção.
Aqui está o que ele descobriu:
Namorar Remus de verdade era bem diferente do que o namorar de mentirinha. Havia coisas que eles faziam o tempo todo durante a prévia farsa como se beijar e ficar de mãos dadas e andar com um braço de Remus por cima dos ombros de Sirius, e era tudo um show, a maneira deles de gritarem olha, a gente tá junto, isso é verdade. Agora que realmente era, eles ainda faziam tudo isso, mas até essas pequenas coisinhas pareciam mais intensas, mais reais. Todos os tons de melancolia que Sirius sentia dentro de si, de saber que nunca iria ter Remus completamente, tinham desaparecido.
Outras coisas tinham mudado, porém. Melhorado.
A principal era o quão mais grudentos eles eram.
Olhe para mãe e o pai de Sirius. Claramente ele não tinha crescido recebendo o carinho e afeição que precisava. Remus tinha pais melhores, mas eles não eram pais afetivos e, além disso, a mãe dele tinha morrido cedo e ele tinha passado grande parte da infância e adolescência coberto por inseguranças, acreditando que não merecia carinho e afeição. Agora eles tinham um ao outro. Agora eles só queriam ter certeza que o outro não iria ter que sentir aquele vazio e aquela incerteza nunca mais.
E eles estavam sempre.
Sempre.
Se tocando.
Não só mais mãos dadas ou beijos. Sirius em especial tinha pegado o hábito, por exemplo, de sentar no colo de Remus enquanto eles conversavam com James, porque ele amava o quão corado Remus ficava e o quão envergonhado e sem saber o que fazer James ficava. Ele amava apoiar a cabeça no ombro de Remus e fazer carinho na bochecha dele e passar os dedos pelos cabelos dele e ver Remus o lançando um sorriso muito suave com olhos muito brilhantes.
Remus era sempre tão quente. Sirius estava sempre tão frio.
Talvez por causa disso o próprio Remus tinha pegado o hábito de esquentar a mão de Sirius, seja com as próprias mãos ou um feitiço ou o emprestando luvas. De vez em quando ele o dava seu cachecol ou até seu moletom, e Sirius os usava como se eles fossem os maiores e mais importantes prêmios que alguém podia receber no Mundo Bruxo, de vez até parando só para os cheirar, porque eles tinham o mesmo cheiro que Remus – caramelo e menta e, agora, um pouco dos cremes do cabelo de Sirius também, de tanto que eles ficavam abraçadinhos.
"Eu te amo," Remus tinha pegado o hábito de sussurrar contra os lábios dele sempre que Sirius se jogava nos braços dele, soando como se nem acreditasse que tinha o direito de falar aquilo em voz alta e se nem soubesse como ia se obrigar a parar a tempo deles irem para aula ou se juntarem ao resto da sociedade. "Eu te amo, eu te amo, eu te amo..."
Namorar Remus de verdade envolvia sentir algo que Sirius nunca achou que iria sentir: uma esperança de que ele tinha, e merecia sim, um futuro. Que isso era uma opção, e uma bem mais eminente do que qualquer ruína.
Aqui estou eu, destino, Sirius pensava. Eu estou pronto para você.
Nada nunca vai nos separar.
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all right, WOLFSTAR ✔️
FanfictionConcluída. Em um grupo como os Marotos, qualquer mudança na dinâmica era algo grande. Ou ao menos era isso que James temia. Depois de tantos anos o vendo correr atrás de Evans, Sirius não podia o deixar perder a chance só porque ele achava que arran...