1.Hinata 🌪

2K 95 32
                                    


"Não precisa ser sempre o melhor, mas dê sempre o seu melhor."

Observo o cartaz flutuar quando a porta da lanchonete é aberta outra vez. Os clientes entram depressa, fugindo do ar gélido que a noite carrega consigo. Só nesta noite, já perdi a noção de quantas pessoas passaram por aquela porta, procurando uma mesa nos fundos, aonde faz nosso aquecedor não parecer tão ruim e velho. Geralmente não temos muito movimento, mas parece que o frio fez as pessoas quererem sair de casa e comer hambúrguer - ou talvez só estejam se abrigando aqui, fugindo da friagem lá fora.

Não importa. Estou louca para que meu expediente acabe, mas mesmo assim, me forço a sorrir e ir atender as pessoas que acomodaram-se perto da janela, reclamando por termos um aquecedor tão ruim.

Se está tão ruim assim, talvez prefira ficar no frio congelante, riquinho de merda.

Os pensamentos negativos vão embora tão rápido quanto chegaram.

Paro em frente a mesa. O homem olha-me de cima a baixo e sua mulher crispa os lábios, aninhando o bebê em seus braços. A mulher tem os cabelos castanhos e são longos, seu bebê os puxa com as mãozinhas gordinhas e enfia um punhado na boca. Ela tira o cabelo das mãos do bebê, fazendo cara de nojo.

- Olá, boa noite - cumprimento - Já decidiram o que vão querer?

O homem pega o cardápio por cima da mesa e passa seus olhos por nosso menu - vendemos alguns tipos diferentes de hambúrguer, frango ou batata frita, para beber temos milk shake's e refrigerantes. Ele desvia seus olhos, voltando-os para mim.

- Tem algo saudável? - ele pergunta.

Crispo os lábios.

Não que eu não tenha uma boa alimentação, mas tudo o que vendemos aqui costuma ter bastante gordura e sendo sincera, é o máximo.

- Se você considerar frituras saudável, sim.

O homem volta a olhar o cardápio, depois olha para a mulher à sua frente.

- Se importa, querida?

Ao menos ele perguntou.

- Peça qualquer coisa. - ela responde. Sua voz é tosca e me deixa meio enojada.

Espero que o bebê vomite na sua blusa de marca, afinal o que gente como essa faz nesse fim de mundo?

- Ótimo! - o homem sorri, tentando parecer amigável. Estrala os dedos e se vira para mim outra vez - Um X-tudo e uma porção de batatas fritas. Para beber pode ser coca-cola - anoto todo o seu pedido e estou prestes a guardar meu bloquinho no bolso.

- Mais alguma coisa?

Ele volta a medir-me dos pés a cabeça e está prestes a negar, quando a mulher tira algo da bolsa azul do neném e a desliza pela mesa. Uma mamadeira.

- Esquente. E por favor, peça ao cozinheiro ou seja lá quem fizer isso, que higienize suas mãos antes.

Seguro um revirar de olhos e pego a mamadeira me encaminhando para a cozinha.

Clientes chatos. Um trabalho chato. Um dia chato. Uma semana chata. Uma vida chata.

A bandeja do microondas começa a girar e observo o movimento, esperando que o cozinheiro termine o pedido do casal.

O timer já está quase no 0:00 quando um par de mãos me agarra pelo ombro e chacoalha meu corpo.

- Hina! - Sakura me vira para ela.

Seus olhos esverdeados estão brilhando, ela sorri, olha para trás, depois volta a olhar em meus olhos.

- Você está bem? - pergunto lhe agarrando os ombros de volta.

IntenseOnde histórias criam vida. Descubra agora