Valinor
Ele respirou fundo e abriu uma fresta dos olhos. Estava claro demais em volta, apesar de não conseguir identificar onde o sol poderia estar. Não estava frio, não estava quente, e ele não sentia fome. Tudo estava confortável, mas do que havia estado confortável em muito tempo. Percebeu que seu ombro e outros ferimentos não o incomodavam mais, também. Estava cansado, no entanto, e fechou os olhos para dormir um pouco mais.
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Acordou com a sensação de estar sendo observado, e sentou-se imediatamente, alarmado. Não conseguia ver o observador, e começou a procurar pelo lugar, cautelosamente. Não estava tão cheio de luz como antes, e sentiu que o lugar onde estivera domrindo não era tão macio, apesar de seus músculos se sentirem perfeitamente repousados.
Era uma ampla sala de pedra, e não conseguia definir que tipo de lugar seria. Viu duas lareiras, uma em cada lado da sala, a mais próxima feita para prover conforto, com suas chamas douradas lambendo... o quê? Aquilo não era madeira, ou pelo menos não parecia madeira. Parecia mais com... pedras. Pedras que queimavam. Agora tinha certeza de já ter visto de tudo nesse mundo.
O calor do fogo fez com que sentisse sede e então viu um jarro d'água numa mesa próxima, e uma caneca que ele tinha certeza de que não havia visto lá antes. Serviu um pouco de água na caneca, desconfiado, mas a água não fez nada inesperado. Era cristalina, sem odor, e decidiu tomar um gole para sondar. Água. Água pura, refrescante, sem sabor, água. Tomou-a em pequenos goles, explorando o lugar em passos lentos. De alguma maneira, sabia que não precisava ter pressa.
Havia ferramentas na parede, e espalhados numa bancada havia vários artefatos em diferentes estágios de elaboração. A maioria ele não conseguia entender, mas alguns eram bem o que ele mesmo estava acostumado a fazer. Sentiu uma pontada no coração quando pensou há quanto tempo havia usado uma forja pela última vez. Sentiu-se pior ainda quando lembrou quando realmente foi. Suspirou e sacudiu a cabeça, triste. Não havia nada que pudesse fazer agora. Só esperar.
Deixou a caneca de água na bancada quando notou um objeto particularmente conhecido do outro lado da sala, perto da lareira da forja, e foi até lá. Havia uma bigorna, e uma machado de guerra inacabado esperando para ser trabalhado, o metal brilhando vermelho, implorando para ser martelado, modelado naquilo que fora feito para se tornar. Se ele havia sido deixado naquela sala por qualquer motivo que fosse, esse bem que poderia ser o motivo. Aquele machado estava chamando por ele, e ele ansiava pelo calor da forja, o peso do martelo em sua mão, o som de metal contra metal reverberando através de todo seu corpo. Sorriu consigo mesmo quando pegou o machado com uma tenaz e levantou o martelo para acerta-lo onde deveria. Sua mão caiu com todo o peso do martelo e de sua própria vontade sobre a cabeça do machado.
A dor o atingiu no mesmo instante, fazendo com que soltasse as ferramentas e arremessando-o a dois metros de distância da bigorna. Mordendo o lábio para segurar um gemido, sentou-se e esfregou o peito onde a dor o havia atingido. Não estava nem ao menos sensível ao toque, tornando tudo mais incompreensível. Estava se arrastando para sobre seus próprios pés quando uma sombra se moveu entre ele e o fogo.
"Não deverias brincar com ferramentas que não foram feitas para ti, criança, mesmo que tenhas a inclinação de consertar as coisas assim que puderes. No entanto, folgo em ver que estás tão disposto a corrigir o que deve ser corrigido, dado que na vez anterior levaste um tempo absurdamente longo para tomar esse passo."
Olhou para aquele que falava consigo, de olhos arregalados. Nunca havia ouvido aquela voz antes, não fora de seus sonhos, e sabia a quem aquela voz pertencia.
"Mahal..."
O recém-chegado pegou as ferramentas de onde caíram e as colocou de volta no lugar; então pegou o machado de guerra inacabado, o metal ainda brilhando vermelho, com suas mãos nuas e o colocou de volta na forja para que se aquecesse novamente; então alisou seu avental de couro duro com as mãos e voltou-se para ele.
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Lealdade, Honra, e um Coração Disposto
PertualanganQuando três mulheres caem de um barranco enquanto estão indo para um evento de LARP, o que ela menos esperam é que não estejam onde pensam que estão. Sua jornada na Terra-Média para voltar para seu lar lhes dá uma outra dimensão do qie significa ter...