Prólogo

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"Nunca planejei que um dia, eu estaria perdendo você."

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As vezes, na solidão que a escuridão proporcionava, Azriel trazia os joelhos até seu peito, deitava a cabeça sobre suas pernas, fechava os olhos e procurava não escutar mais nada ao seu redor.

O que era difícil, já que ele tinha uma voz tagarelando na cela ao seu lado, era ela, Jasmin, sua doce irmã, bela e adorável, ele não odiava, ou pelo menos, era isso o que ele se obrigava a pensar. Ele sabia que devia ser difícil para ela tanto quanto estava sendo para ele, mas Azriel não suportava a ideia de ter que ficar escutando ela dizer sobre seus doces sonhos.

Por que eu não posso sonhar também?

Ele questionava-se repetidamente, e nunca obtia uma resposta clara, seu ressentimento aumentava todo dia, a cada frase sonhadora que ela o dizia. Ele só queria entender como. Como ela poderia ainda ter um pingo de felicidade? Eles vivem em uma maldita cela, sem luz ou janelas, não comem ou bebem algo descente e nem mesmo podem ter um bom sono. Como ela ainda poderia sonhar?

— Eu sonhei com o sol — ela disse com sua voz abafada. — Você acha que quando sairmos daqui, poderemos vê-lo pessoalmente?

Não seja burra. Ele pensou. Nunca sairemos daqui.

Mas ele nada disse, ele nunca respondia. Azriel fechou seus olhos, e deixou sua irmã com seus sonhos impossíveis, sozinha novamente.

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Azriel nunca se sentia bem na presença de seus meio-irmãos. Era como se ele pudesse sentir cada cutícula de maldade que vinha deles, de todos os poros do corpo, eles eram mimados e egocêntricos, sabiam que poderiam fazer o que quisessem, até mesmo descer nas celas e perturbar tanto Jasmin quanto Azriel.

Hoje não era diferente, mas eles não estavam de mãos vazias, ou como de costume, eles não estavam com doces em suas mãos, eles realmente adoravam mostrar coisas que Azriel e Jasmin nunca iriam comer ou experimentar.

Dessa vez, eles tinham uma lata de óleo, um segurava a lata com força, enquanto o outro segurava uma tocha com o fogo crepitante, que iluminava sua minúscula cela, a primeira coisa que Azriel percebeu, foi a movimentação do outro lado da cela, onde sua irmã estava.

— O que vocês querem? — Azriel perguntou, temeroso enquanto se encolhia perto da parede.

O mais velho dos irmãos sorriu maldosamente, ele segurava a lata de óleo nas mãos como um tesouro raro.

— Apenas alguns experimentos. — Deu de ombros.

Azriel foi segurado pelo outro irmão, que soltou a tocha no chão e agarrou seus dois braços, ele começou a se debater, causando sons estranhos em sua cela de completo desespero. Ele sentiu os olhos se encherem de lágrimas quando suas mãos foram banhadas pelo óleo escorregadio.

São as minhas mãos! Pensou consigo mesmo. Eles não podem fazer isso.

Seus pensamentos ou renúncias não importavam, nos segundos seguintes, o fogo estava em suas mãos, sua pele esquentava e ardia de uma maneira brutal, Azriel caiu no chão, gritando e chorando de dor, a sensação era diferente. Era possível sentir sua carne se enrrugando, suas articulações se revirando.

— Azriel? — Jasmin chamou, ele continuou à gritar. — Azriel! Azriel! Irmão!

Os próximos sons foram uma mistura de gritos, ferro batendo e risos. Os meios irmãos riam enquanto observavam Azriel se debater, e Jasmin, do outro lado da cela, socava a porta de ferro como se não existisse dor.

— O quão bom deve ser a cura de uma fêmea illiryana? — Questionou o mais  velho.

— Não sei. — O outro responde. — Vem, vamos testar.

Quando a porta foi aberta, Jasmin caiu na cela de seu irmão, ainda gritando enquanto tentava chegar até ele, mas sua cintura foi segurava, o vestido sujo e esfarrapado amassado enquanto era jogada no chão.

Ela olhava para Azriel quando aconteceu, ela olhava para Azriel, quando atearam fogo em suas asas.

Os gritos foram brutais, seus mesmos sons de completo desespero e dor irreconhecível quase poderiam ser ouvidos por toda Prithyan. Azriel estava com sua voz roca de tanto gritar por ela, sua garganta parecia estar se tornando carne viva, suas mãos ainda queimavam, mas ele nem mesmo se importava.

Os soldados de seu pai, que ouviram os  gritos histéricos e agonizantes, chegaram a tempo de apagar o fogo das mãos de Azriel, mas assim que fizeram o mesmo nas asas de Jasmin, ele podia sentir que era tarde.

— Jasmin? — Ele chamou, assim que a viu começar a revirar os olhos. — O que está acontecendo?! O que está acontecendo?! O que está acontecendo?!

Os soldados não responderam, apenas se apressavam em segurar a menina que tremia e tinha espasmos violentos, ela tinha o corpo mole enquanto eles a seguravam e tentavam conter os tremores.

Naquele dia, Azriel viu arrependimento até mesmo em seus meio-irmãos, viu algo mais do que frieza nas olhos dos soldados. Esse dia, foi a última vez que ele viu sua irmã.

A última vez que todos viram Jasmin.

Amante das Sombras | ᶜᵃˢˢⁱᵃⁿOnde histórias criam vida. Descubra agora