Capítulo 2

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— Que surpresa agradável te encontrar aqui, sobrinho — disse Set, a voz grave e rouca. — Vamos, ajoelhe-se diante de seu faraó. Se fizer isso, prometo uma morte rápida para você e sua namoradinha.

A respiração de Horus se acelerou. Sua primeira e única batalha com Set podia ser definida como massacre. Sua mãe e ele tinham acabado de encontrar o sarcófago em que Set prendeu Osíris, seu pai, e Set apareceu e o destruiu. O príncipe do Reino do Nilo o enfrentou com toda fúria e poder que possuía. Como resultado, ele perdeu os dois olhos e mais da metade de seu poder.

Será que ele conseguiria vencer? Já tinha se fortalecido o suficiente? Set tinha se banhado no Mar do Caos, de onde a própria Apofis, a serpente caótica, tinha surgido. Nem Osíris foi páreo para o poder do caos que seu tio tinha conquistado. O que era Horus diante daquele poder? Da grandeza de Set?

— Barreira das Fitas Lunares!

Fitas que pulsavam magia flutuaram ao redor de Horus e Quensu. Ela estava ao seu lado, a mão direita erguida, de onde as fitas saiam. Quando elas rodearam os jovens magos, algo se quebrou. Horus sacudiu a cabeça. Não tinha percebido uma névoa ao roder deles.

— Não se deixe cair nas artimanhas de Set — falou Quensu, determinada. — Ele usava a magia caótica para submeter seus pensamentos à vontade dele. Logo nos ajoelhariamos e poderíamos até jurar servi-lo.

Set inclinou a cabeça.

— Que criança interessante. Ainda não te conheço. Qual teu nome, criança?

Quensu se colocou à frente de Horus.

— Sou a serva da Lua, guardiã dos poderes celestiais. Sou Quensu, filha de Quespisiquis. Amiga de Horus, o que quer dizer que você não relará um dedo nele. E acima de tudo, sou sua ruína.

O lorde do caos aplaudiu.

— Interessante. Ela é mais brava que você, sobrinho. Talvez a torne uma de minhas esposas depois que te matar.

Os gritos cresciam ao redor deles. Os servos de Set, que ele libertou do Reino dos Demônios e escravizou, destruíam o Palácio dos Céus. Hórus não tinha ideia se Quespisiquis e Isis estavam bem. Nem se os exércitos conseguiam impedir que os civis não praticantes de magia ofensiva fossem atacados. Era um reflexo, pensou Horus. Uma repetição de tudo que ele passou quando aqueles seres demoníacos invadiram seu lar e roubaram seu pai, melhor amigo e mentor.

Algo nasceu dentro de Horus, diante do comentário de Set. Sua aura começou a pulsar. Ele sentiu a Lua, e se abriu para ela. O poder da rainha celeste envolveu o príncipe, e entrou em seu corpo. Horus levantou a mão. A energia lunar se concentrou ali.

— Não Set. Você não fará nada com Quensu. Hoje você cairá pelas mãos do filho de Osíris.

Sem entender o motivo, apenas agindo de acordo com o que a Lua lhe sussurrava, Horus levou a mão aos olhos. Seu rosto se iluminou. Diante de um Set incrédulo e de uma Quensu maravilhada, o príncipe do Reino do Nilo abriu os olhos. As órbitas, antes vazias, estavam transbordando energia prateada.

A Maga da Lua arquejou.

— Horus… você…

Ele sorriu. Sorriu por voltar a ver depois de cinco anos. Por conseguir enxergar toda a beleza de Quensu, algo que ele só vislumbrava através da magia e dos sonhos. Sorriu porque, naquele momento, com a garota que amava ao seu lado, sentiu que podia fazer todas as coisas.

Voltou seus olhos para Set,que já não sorria. Ele rosnava como um animal. Como o animal que era.

— Você vai pagar por ter traído meu pai — disse Horus.

Set cuspiu no chão.

— Seu pai me traiu primeiro — ele gritou. — Foi ele quem aproveitou que eu estava ferido e inconsciente para tomar o trono de nosso amado Rhá! Eu deveria ser o faraó. Eu era o guerreiro mais forte!

— Força e autoridade são coisas diferentes, Set — disse Quensu. — Um líder verdadeiro lidera pelo exemplo, como lorde Rhá e lorde Osíris fizeram. Não usaram medo para submeter as pessoas ao seu querer.

— Você  não sabe de nada — bradou Set. Ele ergueu os braços e as armas do faraó surgiram, maculadas pela energia vermelha do caos: o mangal e o cajado do primeiro faraó niloniano.

Horus fez surgir duas espadas curvas formadas de pura energia lunar, duas kosheps. Quensu tirou um pedaço de madeira do bracelete, que cresceu até se tornar uma vara.

— Acho que o tempo de conversa acabou — falou Horus.

— Acho que é a primeira vez que concordamos em algo, sobrinho.

Set rodou seu cajado sobre a cabeça. Um vendaval irrompeu.

— Uivo da fera caótica!

Um som de destruir os tímpanos irrompeu. Uma fera que era uma mistura de cão, chacal e hiena se formou dos ventos caóticos e partiu na direção dos jovens magos. Horus correu contra o animal e saltou, erguendo suas kosheps.

— Vingança do Astro Rei!

As lâminas lunares de Horus foram cobertas com chamas. Ele golpeou e cortou o animal do caos invocado por Set.

Enquanto isso, Quensu atacou o lorde do caos. Ela correu com a vara na mão. A virou sobre a cabeça e desceu sobre Set. Ele bloqueou usando o mangal e o bastão. Ele riu com os olhos arregalados.

— Ah, criança. Você não pode comigo na força bruta.

Set jogou a arma de Quensu do lado chutou seu peito. Ela voou, caindo perto da cachoeira. Logo se levantou e sorriu, um sorriso que não chegou aos olhos.

— Que seja, mestre das bestas. Vamos ver o que acha da minha magia.

Quensu ergueu a mão para o céu, os dedos indicador e médio apontando para a lua. A rainha da noite respondeu seu chamado. Um raio luminoso desceu da lua para a maga. Quensu apontou os dedos para Set.

O Mestre das Bestas ergueu um escudo de ouro caos, que pareceu absorver o ataque de Quensu. Sorrindo, ele olhou para ela. Um sorriso cruel, de onde escorria um líquido preto e nojento.

— Melhor pegar de volta seu brinquedo — disse para Quensu.

O ataque da Maga da Lua foi expelido da barreira, que se desfez. Estava corrompido. Não mais pura prata lunar. Mas com veios vermelhos e pretos transpassando o raio. Quensu foi jogada longe.

Isso ascendeu a irá de Horus. Ele atacou Set com suas espadas. Enquanto trocavam golpes, o sorriso de Set vacilou. Não demorou para que o lorde do caos percebesse que não estava brincando. Precisava se concentrar nos golpes de Horus. A habilidade dele com as kosheps rivalizava com a sua.

Eles cruzaram armas e Set grunhiu, empurrando. Horus manteve sua posição. Os olhos do usurpador do trono do Reino do Nilo flamejaram de ódio.

— Muito bem, pirralho. Quer fazer uma demonstração de poder? Tente salvar sua namorada enquanto me enfrenta!

Horus não entendeu o que Set disse. Só se deu conta da ameaça quando seu tio elevou seu cosmo. Uma aura vermelha subiu aos céus e jogou o príncipe longe. Quando sua visão deixou de ondular, o príncipe notou que as armas de faraó de Set foram substituídas por uma espada. Suor brotou nas costas de Horus quando ele entendeu o que o tio estava prestes a fazer.

— Não seja louco, Set!

Set gargalhou.

— Nunca mais ouse me desafiar!

O lorde do caos cortou a mão e a bateu no chão.

— Eu o invoco, vínculo do meu sangue. Invocação bestial! Venha, Animal Set!

Horus virou desesperado para Quensu, que se levantava atordoada.

— Quensu! Fuja! Fuja daqui agora!

Algo que Horus admirava em Quensu, era sua determinação. Ela encarou Set, os olhos totalmente brancos. Sua aura se elevou no momento em que o Animal Set surgiu.

Nasce Hórus, o VingadorOnde histórias criam vida. Descubra agora