— Revermos não é uma péssima ideia. Assim posso esculpir palavra por palavra em meu hipocampo, sim? Diga outra vez, amado.
— Uma última vez? — Suspirou em aceitação — Assim que chegar o momento San Lang vai alimentar-me com seu sangue, e antes que eu recupere os sentidos terá que transcrever a série de runas na parte superior de meu corpo que não está submersa.
A atmosfera rarefeita afetava somente aquele que jazia na imensa banheira, porém, Xie Lian persistia tentando assegurar a tranquilidade do marido que pouco tentava esconder o desespero na orbe oprimida por lágrimas.
— ... — Os sussurros foram inaudíveis, e mesmo assim o centenário não hesitou em mover a cabeça em sinal de entendimento.
— eu logo direi meu nome e... poderemos acabar com isso. — Forças esgotadas e palavras insuficientes ditas.
Afogar-se nas águas aquarelas com aroma férreo seria poético, se não trágico. Com os punhos feridos a consciência se esvaia lembrando a tentativa falha de uma vez, quando a sopa fervilhava e o vapor não podia ser prendido entre os dedos cerrados. Independente do esforço exercido na atividade, e o suor que escorria dos tendões.
Talvez isso explique a sensação de não querer baixar as pálpebras diante de seu companheiro - este que, obviamente está preocupado com a situação embora tal esteja sob controle -. Ou talvez não, o raciocinio lógico é escasso quando se está prestes a entrar num caminho tortuoso.
Bambeando na linha entre a vida e a morte que num estudo aprofundado seria difícil diferenciar uma zona da outra, Xie Lian já não podia agir e sim apenas flutuar no mar escuro em que o resquício da alma foi guardado até segunda ordem. A esse ponto possivelmente o líquido vermelho tenha rastejado na garganta seca e os carácteres manchado a pele que esfriava por razões naturais. Perguntas pairavam no ar, como:
— Quem sou? Onde estou? Devo estar aqui? Por que tão frio?
Subitamente as vozes que intercalavam entre várias entonações, seguindo os períodos de anos em que viveu (infância, adolescência e assim à frente) cessaram. Como o calar do canto de um pássaro que fora perfurado por uma flecha, esta que faltava romper a corda por livre arbítrio e alcançar seu objetivo final.
A ponta da arma estar encharcada de adrenalina explicaria as explosões de emoções que corroeram os nervos do rapaz; se a sensação de ascender aos céus se equivalesse a isto a divindade teria motivos para ser superestimada e adorada por fiéis.
— Gege, abra os olhos! Por favor! — Bem distante palavras foram ouvidas, difícil era entender o significado por trás delas.
Enquanto afundava mais e mais, do outro lado Hua Cheng arrancava cabelos buscando entender onde cometera um erro. Seu gege estava desacordado e o feitiço escrito em seu corpo adquiria cores desconhecidas a cada segundo passante.

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Martyrdom
FanficHá quem diga que, o camponês fora sequestrado e encarcerado por sua beleza, que feria os olhos da grande besta que jamais poderia igualar-se ao rapaz de aparência e caráter singular [...] Tudo aquilo não passava de boatos sem pé e nem cabeça, os doi...