Quatro

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- ... Agora ele não quer me dar o divórcio, isso está errado Dr. Lucas! - digo insatisfeita ao celular depois de relatar ao advogado da família o que aquele idiota havia feito.

- Alessandra querida, - e lá vinha ele. Todas as vezes que ele me chamava assim era porque queria me convencer que eu estava errada.
- Eu pensei que você estivesse prestando atenção quando li o testamento e o acordo de casamento!

- Eu estava de luto Dr. Lucas! - protesto. Ouço sua respiração pesada.

- Veja bem, o seu pai deixou essa cláusula bem clara no testamento. Ele deixou tudo certo caso alguma coisa acontecesse com ele e sua mãe, José Ricardo se casaria com você e cuidaria de tudo por você já que você não tem parentes próximos, mas, depois que você chegasse a maior idade, se você se mostrasse ser um tanto, irresponsável, José Ricardo teria todo o direito de prolongar a união de vocês! Não é José Ricardo que impõe isso, foi seu pai. A única coisa que ele quis foi garantir seu futuro e que nada ameaçasse ele. Seu pai queria apenas lhe proteger!

- De mim mesma! - digo.

- Alessandra, José Ricardo está apenas fazendo cumprir o desejo de seu pai. Eu acompanho tudo de perto, vejo o quanto ele tem se empenhado todos esses anos para proteger seu patrimônio. O escritório de advocacia do seu pai na Inglaterra está indo muito bem, é um dos mais famosos lá. José Ricardo tem se esforçado e muito para fazer cumprir a vontade de seu pai. Apenas isso!

- Mas ele quer continuar com o casamento, eu não quero. - digo cansada.

- Minha filha, ele só está cumprindo a vontade e desejo de seu pai... Você ainda não está preparada para administrar sua herança e os negócios que seu pai deixou.

- Dr. Lucas, eu venho me preparando para isso há 5 longos anos. Estou pronta!

- Não Alessandra, você não está! Sinto muito. José Ricardo sabe de cada centavo que você gastou esses anos todos. E aqui pra nós querida, você extrapolou, mesmo ele sendo tão rígido com suas finanças, confesso que parte disso é minha culpa, sempre permiti que você gastasse um pouco mais que o esperado,  permiti até  que você gastasse um bom dinheiro com sua festa de aniversário, acabei cooperando para isso! - ele se lamentou.

- Dr. Lucas, o dinheiro é meu. Sou maior de idade, não posso gastar meu próprio dinheiro? - indago.

- Alessandra, você precisa fazer cumprir o desejo de seu pai, caso contrário, não herdará nada. E tudo irá para José Ricardo!

- Como é? - a surpresa não é maior de minha indignação.

- Isso mesmo, pelo o visto você não escutou nada do que li na abertura do testamento. Se você não fizer cumprir a vontade de seu pai deixada em seu testamento, toda a sua herança irá para José Ricardo. Seu pai sabia que você é uma pessoa difícil, ele só queria garantir que você aprendesse a usar o dinheiro e administrasse  seus bens com sabedoria!

- Isso, isso é um complô! - digo indignada.

- Minha filha, José Ricardo lhe propôs um acordo, aceite. E durante esse tempo, aprenda a administrar sua herança, se mostre uma pessoa centrada, uma boa administradora, e quando esse tempo acabar, você terá sua herança e seu divórcio!

Era inacreditável como tudo estava acontecendo.

Após conversar com Dr. Lucas, tento me acalmar e refletir sobre o assunto.

Papai sempre tentou me ensinar como administrar e gastar meu dinheiro, mesmo o dinheiro da mesada que ele me dava. Mas, eu nunca fui de economizar. E isso sempre irritou ele. Mas, colocar José Ricardo como minha sombra era demais. Eu estava num difícil dilema. Para alcançar minha tão sonhada liberdade, eu teria que reaprender a usar meu dinheiro.

*****

- Eu aceito! - digo ao me recostar no batente da porta do escritório.

José Ricardo estava assinando uns papéis, mas, ao ouvir minha voz, ele levanta a cabeça e me olha por cima dos óculos de grau.

- Sente-se! - ele diz apenas abaixando a vista e voltando a assinar os papéis.

Arrogante!

Reviro os olhos e então faço o que ele mandou. Me sento a sua frente novamente e espero a sua boa vontade em falar comigo. Os minutos se passaram e eu já estava possessa. Como aquele José Ricardo que conheci e cresci junto, se tornou tão... Arrogante daquele jeito? José Ricardo parecia tão, frio, insensível, arrogante. Tão diferente de como era antes.

- Já disse que não tenho o dia todo! - digo impaciente.

- E eu já disse que tem sim! - diz ele firmemente enquanto assinava os papéis.

- José Ricardo, você pode até ser meu marido mas não é meu dono! - digo firmemente. Ele continua assinando a droga dos papéis. - Está me ouvindo? - pergunto irritada.

- Sim Alessandra, e fico feliz que concorde que sou seu marido. Afinal, é isso que sou! - ele continua assinando os papéis.

- Quer saber, já chega! - digo e me levanto.

- Acho melhor você sentar novamente e não ouse sair desta sala! - ele diz quando dou o primeiro passo para sair.

Um sorriso fingido se faz em meus lábios, aquele idiota iria ver com os próprios olhos que não é meu dono. Ando até a porta e noto que nada acontece. Babaca! Mas, quando chego na porta para sair, sinto uma mão puxar meu braço ferozmente. Ele  faz me virar e vejo José Ricardo bem a minha frente. Nossos rosto estão a poucos centímetros de distância, novamente, como na primeira vez que o revi, como na noite anterior antes do beijo. Minha respiração é pesada e tensa, sinto meu coração acelerar com   sua aproximação. Ele parecia bravo. Engulo em seco. A tensão se torna nossa companhia ali.

- Já disse para você sentar e não sair desta sala! - sua voz era rígida. O olho diretamente nos olhos. Não, não era como antes. Seu olhar era feroz, tenso, bravo.

- Você não manda em mim! - minha voz saí baixa e me odeio por isso. Ele olha dentro de meus olhos.

- Senta! - e ao dizer isso ele me solta.

José Ricardo anda até a mesa e se senta novamente onde estava. Respiro fundo e me aproximo lentamente, me sentando onde estava antes.

- Agora vamos conversar. - ele diz normalmente. Como se nada tivesse acontecido.

Como se antes ele não tivesse me atacada igual um leão faminto.

- Diga Alessandra, estou ouvindo!

Respiro fundo e então falo.

- Aceito sua proposta! - digo apenas.

- Ótimo! Te dou 6 meses, me prove que é capaz de administrar sua herança e te dou o divórcio e o poder de administrar seus bens! - ele diz calmamente. Faço que sim.
- Bom, se quiser, pode aprender comigo! Estou disposto a te ensinar tudo o que seu pai um dia me ensinou.

- Você não vai voltar para a Inglaterra? - pergunto surpresa.

- Não! Vou ficar aqui até o fim do  nosso acordo. - aquilo era um pesadelo. Não contenho minha cara de desaprovação.
- Fico feliz em ver que gostou de saber que vou ficar aqui com você! - ele diz claramente zombando. Sorrio forçado.

- Estamos combinados! - digo e me levanto.

Enquanto caminho até a porta, digo:

- Não pense que gosto de ter você como marido! Sei que crescemos juntos, meus pais te amavam, mas, para mim, você é um estranho. - digo enquanto caminho até a porta.

- Então por que me beijou ontem? Na frente de todos? - sua pergunta me paralisa.

Ainda de costas para ele, tento formar uma resposta em minha mente. O que eu diria?

Se eu dissesse que o beijei porque sabia quem ele era, estaria me contradizendo. Mas, se eu dissesse que não sabia quem ele era, certamente ele pensaria que saio por aí beijando desconhecidos. Que dilema!

- Sou fraca para bebidas! - digo ainda de costas. E então saio daquela sala fechando a porta atrás de mim.

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