Após fazer toda a higienização, entro no quarto que José Ricardo estava.
Meu coração acelera ainda mais ao vê-lo lá, deitado sob aquela cama, inconsciente. Eu queria o abraçar, o beijar, o ter em meus braços, mas, simplesmente não podia. Me aproximo de sua cama e toco em sua testa. Vejo em seu rosto e braços alguns aranhões e curativos. E então eu choro.
Eu simplesmente deixei que as lágrimas caíssem sem qualquer esforço. E quando chorei tudo o que tinha pra chorar, me encho de coragem e então falo:
- José Ricardo, meu amor! - digo com a voz embargada.
- Você precisa acordar. Precisa reagir, precisa ficar aqui, comigo, com Aninha e... - respiro profundamente.
- Suas suspeitas estavam certas sabia? Eu realmente estou grávida! Descobri há poucas horas. E, por mais que eu esteja feliz, eu, ainda tenho medo! Eu preciso de você aqui, para me ajudar, para estar comigo. Por favor meu amor, não me deixe sozinha! - suplico sentindo as lágrimas caírem novamente.
- Eu te imploro, não me deixe sozinha nessa situação! Existem duas crianças que precisam de você. Eu preciso de você! Sempre precisei.Mas nada aconteceu. Nenhum músculo do corpo de José Ricardo se mexeu, seus olhos não piscaram, ele não tentou acordar, e se tentou, não conseguiu. Eu estava só.
Não foi fácil contar a Aninha a situação do seu pai.
Como explicar para uma menina de 5 anos que acabou de perder sua mãe, que seu pai estava em sono profundo, que ele poderia acordar a qualquer momento ou simplesmente não poderia acordar. Mesmo com o coração dilacerado, mesmo sentido a maior dor que já senti, eu contei. Falei toda a verdade para ela, e Aninha assim como eu, chorou muito. Uma parte nossa estava com José Ricardo naquele leito, dormindo profundamente.
Os dias viraram semanas, e assim se passou 4 meses.
O aniversário de 6 anos de Aninha foi no quarto que mandei equipar para José Ricardo em casa. Apenas nós, Glória, dr. Lucas, Carmem, e Rebeca, tia de Aninha. Por mais que eu tentasse agir de forma normal na frente dela, quando eu estava a sós com José Ricardo, me deixava levar e chorava. Chorava muito. Talvez fosse por causa da gravidez, eu acho.
Eu já estava no quinto mês de gestação, e Alexandre crescia e se desenvolvia rapidamente.
As noites eram longas, os dias cansativos. Eu precisava seguir a vida, da melhor forma possível. Ser forte e estar forte. Para enfrentar tudo.
Aninha e o bebê eram meu porto seguro. Apesar de tudo, eles eram quem me moviam para a frente, para prosseguir, não desistir. E durante aquele período descobri meu lugar no mundo, minha vocação.
Ser mãe!
Era isso que eu queria fazer da vida. Cuidar, criar, zelar, dar amor, ser companheira de meus filhos, estar com eles. Era tudo o que eu mais queria nesta vida. E era exatamente isso que eu estava fazendo.
- Te esperar meu amor, é o que mais faço nessa vida! - digo olhando para José Ricardo que dormia profundamente.
- Vou te esperar para sempre. Não importa em que tempo ou momento você acorde! Não importa se isso vai ser nesta vida ou na próxima, eu vou te esperar. Sempre!Uma lágrima solitária caí do olho esquerdo de José Ricardo.
Sim, ele me ouvia. Ele estava consciente. E isso acendeu ainda mais minhas esperanças.
- Veja meu amor! - digo ao pegar sua mão e colocar sob meu ventre.
Nesse momento Alexandre chuta novamente.
- É nosso filho! Ele está aqui, te esperando. - digo com lágrimas nos olhos. E então mais outro chute. Desta vez mais forte.
Abaixo minha cabeça e encaro minha mão sob a dele enquanto a preciono sob meu ventre.
- Ele te ama José Ricardo, e eu também. Todos nós te amamos! E queremos você de volta. - digo ainda observando nossas mãos.
Após alguns instantes levanto meu rosto para o olhar, e então, José Ricardo está de olhos abertos me olhando atentamente.
- José Ricardo! - digo baixinho tentando me convencer que aquilo não era mais um sonho, que era real.
Ele pisca. Duas vezes para ser exata. Seguro firme em sua mão, não queria soltar. E então vejo seus lábios se abrirem levemente. Até que um som saí deles.
- Alê! - sua voz era baixa e rouca. Mas era sua voz.
Meu coração disparou ao ouvir José Ricardo falar meu nome. Ele olha diretamente para minha barriga e vejo surpresa em seu olhar. Ele nada diz, mas seus olhos deixa claro seu espanto.
- Você estava em coma, acabou de acordar! - digo. Ele me olha seriamente.
- Eu...
- Não! Não se esforce! Descanse. Aconteceu tantas coisas durante esses meses.
- Meses?
- Sim! Você estava em coma há 4 meses.
José Ricardo olha novamente para minha barriga e depois olha para mim.
- Você tinha razão! Eu estava, estou, grávida! - digo sorrindo. Ele sorri.
E como eu desejei ver aquele sorriso novamente.
- Já sabe, o sexo? - ele pergunta com certa dificuldade.
- Sim, é um menino! Alexandre! - digo.
- Lindo nome! - ele diz sorrindo.
- Estou com saudades! - sussurro. Ele sorri novamente.
- Eu também! - José Ricardo diz.
E então a porta do quarto se abre. Era o enfermeiro.
- Ele acordou! - digo.
- Que maravilha! - o enfermeiro diz olhando para José Ricardo.
- Vou contatar o hospital, o médico precisa vir ver ele! - faço que sim e ele saí.- Sua voz, o chute dele... Foi o que me ajudou a acordar Alê! - ele diz baixinho.
- Meu amor, estou tão feliz que esteja aqui, conosco! - digo e então aproximo meus lábios dos seus e o beijo.
Ao contrário dos outros beijos de depositei nos lábios de José Ricardo nos últimos meses, esse foi diferente. José Ricardo reagiu ao beijo. Moveu seus lábios, e enquanto me beijava acariciou meu ventre, sentindo outra vez nosso filho.
Meu pesadelo enfim havia acabado.
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Te Amo!
RomansAlessandra precisa se casar após a morte de seus pais já que ela ainda é menor de idade e sozinha. Mas, além de casar tão cedo, Alessandra se torna esposa de um homem que há muito tempo não faz parte de sua vida, e mesmo casados, eles mantém distânc...