Como começar com sorte

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As comemorações ainda estavam muito vivas na cidade, as famílias aproveitavam para patinar no gelo, brincar na neve e visitar os pontos que foram decorados para o Natal antes que tudo fosse removido. Kate passou a data com a família Barton, o clima aconchegante e divertido de ter as crianças por perto teve o efeito desejado de nublar os pensamentos nos problemas que tinha deixado para trás.

Agora ela estava de volta à cidade, a poucos blocos do seu apartamento, o qual ela nada tinha feito para recuperar do estrago provocado pelas chamas. Todo o caminho até o lá a deixava tensa, sem perceber ela prendia a respiração sempre que andava próxima a algum becos mal iluminados no caminho, Lucky, o golden resgatado durante o fiasco que precedeu a noite de natal, percebia a tensão de sua tutora e mantinha uma postura mais alerta.

Kingpin não havia sido preso depois do confronto dos dois, seu receio era de que ele estivesse procurando por ela.

Outro pensamento recorrente era o de ter colocado sua mãe atrás das grades, era um sentimento agridoce, a decepção que ela sentia de saber que Eleanor estava envolvida com o crime organizado, que havia tirado a vida de uma pessoa e um sentimento de culpa por ter sido pelas mãos dela que a mãe estava nessa situação. Apesar de tudo ela era sua mãe, Kate tinha uma relação mais afetiva com o pai, ele parecia enxergar mais quem ela era, sua mãe apesar de carinhosa e protetora, tentava moldar Kate a sua própria imagem e visão de mundo e esse era um ponto de conflito entre elas.

O julgamento de Eleanor ainda não tinha sido marcado, era o que Kate sabia pelos advogados, sua mãe ainda não havia permitido um contato mas ela também não saberia o que dizer se pudesse encontrá-la.

Seu apartamento praticamente destruído, estava escuro e cheio de cinzas, não havia sobrado muita coisa para buscar ali - Ei Lucky espere aí, não quero te ver todo sujo de fuligem. - Lucky era um cachorro muito esperto ele sabia quando obedecer ou desobedecer uma ordem em favor de seus interesses e um banho estava fora deles.

Kate avaliava sua situação, ela estava bem mais solitária agora, decidida a não perturbar a aposentadoria de Clint ela tentava ao máximo não enviar uma montanha de mensagens para ele, e esperava ansiosamente pelas chamadas de vídeo semanais, que ela implorou, para que ela tivesse algum tipo de treinamento do mentor. Mesmo mantendo contato com Grills ela pensava que não seria bom envolver ele ou o pessoal da LARPs na sua vida agora, ela precisava entender que tipo de retaliação ela poderia sofrer de alguém ou algum grupo de mafiosos envolvido no incidente, ela também não tinha desculpas o suficiente para fugir de participar das atividades do grupo, suas colegas de faculdade mantinham contato mas ela estava guardando esse reencontro para quando tivesse que voltar as aulas e para uma vida de certa normalidade.

Kate começou a recolher coisas que eram importantes para ela e que não haviam sido destruídas pelo fogo, não mais que o conteúdo de uma bolsa de academia, com medalhas e troféus das suas competições, várias de diferentes artes marciais, esgrima, ginástica, algumas poucas de competições de programação e robótica de quando iniciou sua graduação em Ciências da Computação, junto com a graduação em Negócios, sua mãe achava importante já que tinha seus planos para que a filha  fizesse parte da empresa da família, mas não gostava tanto desse tipo de atividade, Kate era muito competitiva para atividades em grupo. As de tiro com arco, essas sim, foram muitas, era sua atividade favorita desde os 10 anos, e hoje tem seu arco como companheiro na sua missão de fazer alguma diferença na vida das pessoas como seu mentor fazia.

Cruzando sua antiga cozinha, na mesa de jantar ela notou a panela de macarrão com queijo, a última vez que esteve ali Kate foi surpreendida pelo estranho convite para jantar, no caso dividir a refeição preparada pela mulher que tentava matar seu amigo, a lembrança de toda a situação a fez dar uma risada abafada e um suspiro, aquela noite por mais estranha e tensa que pudesse ter sido, agora com eles fora de perigo e sem a ameaça de morte, foi mesmo divertida.

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