Six Feet Under

Eu nunca vi um vulcão

Kate acordou no meio da madrugada, tentando identificar onde estava, o ombro fisgando onde ela tinha se ferido e sentindo náusea por conta da perda de sangue. Ela julgava ser um quarto de visitas, fora o casaco preto e amarelo que ela conhecia bem, nada parecia ter valor sentimental. 

Na mesa de cabeceira água e comprimidos, deve ser algum tipo de padrão depois das missões. Kate lembrava de ter lutado com inúmeros oponentes junto do Homem Aranha, de ter sido buscada pela pessoa que ela contactou pelo número de emergência e de Yelena entrar no apartamento. A memória do dia anterior voltando aos poucos, Yelena havia lhe dado um banho e cuidado dela, apesar de feliz dela estar ali ela não tinha um pingo de energia para discutir, ou ouvir um sermão não solicitado. Com certeza sua forma incomum de carregar uma faca ia ser o tópico do dia.

Ela decidiu tomar o remédio e aguardar o efeito, sua situação estava estável o suficiente para chegar até sua safehouse pela manhã.

Quando acordou novamente, alguns raios de sol fracos já atravessavam a cortina, as dores no corpo suprimidas pelo efeito do remédio, o copo do lado da cama estava vazio e sua boca insuportavelmente seca. Kate se levantou, tentando não fazer esforço com o braço do lado mais ferido do corpo, notou que seus seios estavam cobertos por uma faixa, provavelmente para ajudar com o ferimento e limitar um pouco seus movimentos e assim não estourar os pontos, ela também usava uma calça de moletom preta, que olhando bem na verdade era sua, Yelena devia ter roubado já que era a favorita dela nos dias que passava na casa de Kate mesmo sendo muito maior que ela. 

Kate se levantou e saiu do quarto em busca da cozinha, Yelena estava na sala, deitada em um dos sofás com os cabelos loiros espalhados pelo travesseiro, ela dormia um sono pesado, devia ter ficado acordada até muito tarde garantindo que Kate não corria nenhum risco.

Kate parou uns segundos pra observar os traços de Yelena, a sobrancelha marcada, a boca cheia em formato de coração e os olhos que a davam uma expressão infantil pra qualquer um que não soubesse do que ela era capaz.

Kate saiu de seu transe e foi até a pia para encher o copo na torneira e em seguida bebendo como se tivesse saído do deserto, um copo só não bastou e foi encher o segundo.

- Acordando cedo como um Gavião? - disse uma voz atrás dela.

Com o susto ela quase deixou o copo cair, segurando firme e se virando com a mão no peito recobrando a respiração. 

- Kate Bishop. Oi!!!- o mesmo sotaque que Yelena tem mas o nome soava diferente saindo da boca de outra pessoa - como você está se sentindo?

- Viva, é o que importa.  - disse movendo a cabeça tentando esticar os músculos doloridos do pescoço - Eu tenho que te agradecer por ontem, Yelena me deu seu número a um tempo atrás para o caso de uma emergência, eu não sabia se eu podia ligar mas ontem foi meio que uma emergência - disse sem graça levantando os olhos culpados na direção da mulher - eu posso te recompensar por isso de alguma forma?

- Talvez um sofá e um tapete novo, dos caros Bishop, sabemos que você tem recursos, mas não precisa agradecer, qualquer coisa que eu puder fazer pela Yelena. - disse a última parte com a voz carregada de afeto, Kate sentiu o estômago revirar um pouco com a ideia de que as duas poderiam ter algum tipo de relacionamento íntimo - Mas você estava mais em choque do que em risco de vida, a maior parte do sangue que estava na sua roupa nem era seu.

- Um tapete e sofás novos, anotado. Posso perguntar o seu nome?

- Sonya - ela olhou para a sala em direção ao sofá e de volta para Kate - Yelena ainda mantém o hábito de não compartilhar informações, nem mesmo as mais simples, não é?

- Não sei, você parece saber algumas coisas sobre mim - disse se escorando na ilha da cozinha acompanhando Sonya com o olhar.

Sonya foi até a geladeira e voltou entregando uma bolsa de gelo para Kate - Talvez sim, talvez eu tenha feito minha própria pesquisa sobre você - disse com a voz sussurrada se aproximando de Kate, colocando só as pontas dos dedos contra o abdômen malhado - você não é tão desinteressante não é, pelo contrário na verdade - disse levantando o olhar para encarar Kate, sorrindo maliciosamente e se afastando.