Capítulo 4 - Antiga sentença

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   JÁ É 1 da tarde, alguns minutos após o almoço. Lucy me guia para fora do orfanato, caçando um lugar privado, ela está sorridente, com o livro na mão. Não espero coisa boa vindo disso.

Chegando em um banco de madeira escura, ao lado de um pequeno parque, Lucy se senta junto a mim:

- Olha, então... Você sabe o que quero, Glory. - Ela mostra o livro em suas mãos.

Eu a olho com cara de deboche, e nego:

- Não vou mais fazer esses feitiços, Lucy. Não quero te ver machucada por causa de besteiras. - Reviro meus olhos. - Esquece isso, você já está ficando obcecada.

- Vou te mostrar as minhas anotações. - Ela retira um bloco de notas de sua calça bege, ignorando o que eu falei. - Pelo o que eu li, esse livro diz sobre uma "regra que rege o mundo a vários anos", mas não só ela existe, tem mais umas 3 ou 2. Só que... Ah, enfim, vou te mostrar.

Lucy folheia o livro, grosso e empoeirado, tentando achar a página correta. Mas dessa vez, tem algumas marcações nas páginas, e acha facilmente.

- Aqui, olha:

      "Ela tem inúmeros nomes, é a mais simples e a mais importante. O nome não impor... (mancha de tinta)... Sua raiva resulta em monstros, e seus monstros resultam em dor, simples assim. Sem dor, não terá nada. O sacrifício é crucial para o paranormal, mas não precisa ser o seu."

- Assim, Lucy. Não entendi nada.

- Pera aí, que tem mais! - Ela acha outra página, quase que no começo do livro:

      "As preces feitas pela bruxa ardendo podiam ser ouvidas em outras aldeias. Dizem que ao morrer pelo fogo, Emilya pôde sentir só raiva, jurando a morte e a dor. 

      Ali, Emilya sacrificou sua liberdade e paz divina, em troca de matar os indignos. Só não sabia que ela não teria controle de quem morreria. Por anos, inocentes morreram por causa de sua promessa. Felizmente, foi controlada, mas suas marcas em algumas regiões do mundo ainda são visíveis. Emilya ainda re... (Folha rasgada)."

- Tem mais né?

- Puts, claro que sim - Novamente ela o folheira e me entrega o livro. - Essa é um conto:

      "Lá estava Pandora, vendo as cinzas de sua mãe. Ela chora, a coitada menina, sem pai e nem mãe, ora! Tadinha.

      Mas subitamente olha! Seu cachorro, que já não vive, está de pé! Seu coração já não bate, já não respira. Seu próprio cachorro lhe encara, se sacia, lhe devora. Foi a primeira vítima do paranormal, seu nome e voz, para sempre, foi gravado. Ah, minha pequena Pandora, ser filha de uma bruxa tem seu males."

- Então, Emylia tinha uma filha, a filha morreu pelo cachorro, e o mundo se amaldiçoou? - Digo, levantando uma das sobrancelhas.

- Pelo seu cachorro morto.

- Morto? - Eu achei que não podia piorar. - Como assim morto, Lucy? Ele estava de pé.

- Após a Emylia morrer, o cachorro morto reviveu, eu te mostrei falando que "sua raiva resulta em monstros", não é?!

- Mas Lucy, você por algum caralho já viu um cachorro morto... Vivo? Um cachorro zumbi? - Encaro o chão, pensativa. -  Isso não tem nem sentido. A filha será lembrada por ter morrido??

- Será lembrada por ter sido a primeira vítima, talvez. - Lucy está com um sorriso de canto a canto, e obviamente, começa a morder seus lábios.

- Tá, tem sentido. Mas o que parou a Emylia de parar de matar inocentes afinal? No livro não diz nada.

- Mas olha, pera aí. - Ela folheia o livro novamente. - Aqui diz: "...As regras que conceituam e separam a realidade e o paranormal em nossa Terra, está se desenvolvendo com nossas vontades no geral...". Ou seja, existe mais de uma "regra" pelo visto, talvez uma foi criada por causa de Emylia.

- Então, Emylia foi quem começou com o paranauê? Ela criou o paranormal, só com uma promessa?... Ela criou só com ódio! - Solto um grande sorriso, Lucy me faz saciar mistérios quando está por perto. - Ela criou só com raiva e tals, jurou dor e essas coisas. Por isso o livro diz que precisa de sacrifício, a primeira quem criou se sacrificou... Mas, por que não "o seu"?

- Você pode sacrificar outra pessoa. - Ela diz com uma grande convicção. Eu a estranho.

- Tá, isso faz sentido. Tem mais algo pra me mostrar? - Ela fecha a cara e cerra os lábios, começa a folhear a página.

Lucy me mostra um página inteira com um só um único símbolo em vermelho, é um círculo repartido ao meio, com vários de pequenos detalhes, como ondas e espirais. Eu me exalto:

- Porra, Lucy, sem mais essas merdas!

- Glory, por favor me escuta. - Ela se aproxima de mim. - Essa aqui nós vamos ter certeza se isso existe ou não, só mais essa vez.

Eu me levanto e começo a andar sem dizer nada. De repente, eu escuto um "Aí" vindo da Lucy, olho para trás e vejo sua mão ensanguentada. Eu corro até ela:

- Lucy, o que você está fazendo porra?!? - Lucy joga um pedaço de vidro no chão, retira um papel em branco do livro, e começa a desenhar com seu sangue. - Lucy!! Para com essa merda, agora! Mas que cara...

Lucy me mostra a folha, com o mesmo símbolo de antes... Fico calada, me sinto conectada com ele novamente.  Eu o encaro, sinto como se já tivesse visto esse símbolo milhares de outras vezes. Lucy finalmente o entrega em minhas mãos, dessa vez, não só o toco como eu o lambo, o sangue de Lucy tem um gosto suave, quase sem gosto. Escuto sussurros vindo de todos os lados, ao meio deles, escuto Lucy gritar, mas eu a ignoro.

Depois de um tempo, os sussurros cessam, e Lucy me chama:

- Glory... - Eu a encaro. - Nós vamos sim fazer esse ritual, ele é um ritual de conexão com o paranormal. - Lucy está extremamente ofegante. - Se não acharmos nada, eu paro, se acharmos, iremos mais a fundo, entendeu?!

Agora... Não me parece uma má ideia, quem sabe pode ser divertido...

Aos olhos pertubadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora