Capítulo 6 - Livro inominado

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(Esse capítulo contém cenas de sangue e violência!!!)

      ESTOU DENTRO DA sala de aula, todas elas são iguais, mesas e cadeiras cinzas com um quadro negro logo a frente. Nós todos sentamos em duplas, e desde sempre minha dupla foi Marssel. Ele é um menino calado, tem um topete curtinho e olhos verdes, sempre andando com roupas beges ou marrom. Admiro sua postura ser tão correta, certamente é o inteligente da turma... Mas é um cuzão.

No momento, a aula é de geografia. Não estou muito interessada, e minhas pernas não param de balançar. 

Fico no canto da parede, logo ao lado de uma janela. A vista vai para a frente do orfanato, e geralmente assisto as crianças brincarem. Mas eu, obviamente, estou preocupada com aquele monstro atacarem elas. Me pergunto se aquilo foi real mesmo, e se sim, como eu vou adivinhar?? Devia ir atrás dele? É perigoso demais...

Não queria pensar nisso, mas eu acho que devia ir atrás sobre tudo isso. Não só por curiosidade, mas quem mais acreditaria em mim se dissesse que uma criatura esquelética anda pelos bosques?

Observo minha mesa, repleta de desenhos que eu mesma fiz, e ao meio deles eu vejo o nome de Lucy. Me recordo dela não ter chego aqui ainda, e me lembro também dos livros que ficaram sob a chuva. Minha cabeça dói de tanto pensar.

- Psiu! - Viro meu rosto a Marssel, e ele resmunga: - Presta atenção na aula! Você já não é muito esperta pra ficar ignorando todas elas.

- Vai se foder, seu merda! - Reviro meus olhos. - Tenho mais com o que me preocupar do que a porra da hidrografia de um país que nem me importo.

As pessoas me encaram, mas não me importo, o nosso professor já quase não escuta. Ele é bem velinho, tem cabelos e barbas brancas, sempre com a camisa por dentro da calça. Gosto dele, mas seria bom se ele se aposentasse, para seu próprio bem.

- Você tinha que ser uma fodida também, né? - Marssel franze a sobrancelha, embasbacado que eu o respondi.

Samuel, que senta na minha frente, vira e o intimida:

- Cala a merda da sua boca! - A cara dele é séria, mas posso ver sua mandíbula tensionada

Marssel engole a seco, e finge não ligar para Samuel, mas sua postura para de ser tão correta. Sorrio para Samuel e ele sorri de volta.

Permaneço de cabeça baixa até o final da aula, minha cabeça esquenta, sinto que vou acabar chorando sem perceber.

______

As aulas se cessaram, é a hora do almoço, mas passo no banheiro para me acalmar. Pelo menos um pouco.

Me encaro no espelho, vejo meu olho branco, e sinto vergonha de mim mesma.

Jogo água em meu rosto, respiro profundamente e engulo meu choro. Caminho para a sala de jantar. Sigo os tapetes beges no chão, desço as escadas de madeira clara que rangem em lugares específicos, e continuo andando. Está tudo bem empoeirado ultimamente, mas com a ventania repentina de ontem, deve ter entrado tudo isso de uma vez só.

Chegando lá, há uma única mesa com várias cadeiras, a mesma de sempre, para todos nós podermos sentar. Pelo visto, um grande banquete já foi preparado, frangos, verduras, macarrão e várias outras coisas já estão na mesa.

Todos estão lá, eu sempre sou a última a chegar. Me sento na única cadeira, obviamente de madeira, que me resta. Samuel chega ao meu lado, e pede para Angel, irmão de Agatha, se ele poderia se sentar ao meu lado. Angel assente.

Eu vejo Samuel sentar, e não consigo esconder minha cara de cansada, brinco com a costura do tecido amarelo e florido que ocupa toda a mesa para aliviar o meu estresse.

Aos olhos pertubadoresOnde histórias criam vida. Descubra agora